1. À Primeira Vista
Essa era a hora do dia em que eu desejava poder dormir. Segundo grau.
Ou será que a palavra certa era purgatório? Se houvesse uma maneira de conciliar os
meus pecados, isso devia contar no ajuste de alguma forma. O tédio não era uma coisa
com a qual eu me acostumei; cada dia parecia mais impossivelmente monótono do que o
último.
Eu acho que essa era a minha forma de dormir - se dormir era definido como um estado
de inércia entre períodos ativos.
Eu olhei para as rachaduras no gesso no canto mais distante do refeitório, imaginando
padrões por dentro deles que não estavam lá. Essa era a única forma de desconectar as
vozes que tagarelavam como o jorro de um rio dentro da minha cabeça.
Várias centenas de vozes que eu ignorava por pura chateação.
Quando se tratava da mente humana, eu já tinha ouvido tudo e mais um pouco. Hoje,
todos os pensamentos estavam sendo consumidos com o drama comum de uma nova
adição ao pequeno corpo estudantil daqui. Não levou muito tempo para ouvir todos eles.
Eu havia visto o rosto se repetindo em pensamento após pensamento sob todos os
ângulos. Só uma garota humana normal. A excitação pela chegada dela era
cansativamente previsível - como um objeto brilhante para uma criança. Metade do corpo
estudantil masculino já estava se imaginando apaixonado por ela, só porque ela era algo
novo pra se olhar. Eu tentei desconectá-los mais ainda.
Só havia quatro vozes que eu bloqueava mais por cortesia do que por desgosto: minha
família, meus dois irmãos e duas irmãs, que já estavam tão acostumados com a falta de
privacidade quando estavam ao meu lado que já nem pensavam nela. Eu dava a eles toda
a privacidade que podia. Eu tentava não ouvi-los, se podia.
Mesmo tentando, ainda assim… eu sabia.
Rosalie estava pensando, como sempre, nela mesma. Ela havia visto o reflexo do seu perfil
no copo de alguém, e ela estava meditando sobre a sua própria perfeição. A mente de
Rosalie era uma piscina rasa com poucas surpresas.
Emmett estava espumando por causa de uma luta que ele havia perdido para Jasper na
noite passada. Ele iria usar toda a sua limitada paciência pra chegar até o fim do dia
escolar e orquestrar uma revanche. Eu nunca me senti muito intrusivo ouvindo os
pensamentos de Emmett, porque ele nunca pensava em alguma coisa que ele não diria em
voz alta ou fizesse. Talvez eu só me sentisse culpado lendo as mentes dos outros porque
eu sabia que havia coisas que eles não iriam querer que eu soubesse.
Se a mente de Rosalie era uma piscina rasa, então a de Emmett era uma lagoa sem
sombras, clara como cristal.
E Jasper estava… sofrendo. Eu segurei um suspiro.
Edward. Alice chamou meu nome em sua cabeça, e chamou minha atenção
imediatamente. Era exatamente como se ela estivesse chamando o meu nome em voz alta.
Eu ficava feliz que o nome que me foi dado havia saído um pouco de moda ultimamente -
isso era incômodo; toda vez que alguém pensava em um Edward qualquer, minha cabeça
se virava automaticamente…
Minha cabeça não se virou agora. Alice e eu éramos bons nessas conversas privadas. Era
raro quando alguém nos flagrava. Eu mantive meus olhos nas linhas do gesso.
Como ele está agüentando?, ela perguntou para mim.
Eu fiz uma careta só com um pequeno movimento da minha boca. Nada que pudesse
alertar os outros. Eu podia facilmente estar fazendo uma careta de chateação.
O tom mental de Alice estava alarmado agora, eu vi na mente dela que ela estava
observando Jasper com a sua visão periférica. Há algum perigo? Ela procurou à frente, no
futuro imediato, vasculhando por visões de monotonia para a fonte da minha careta. Eu
virei minha cabeça lentamente para a esquerda, como se estivesse olhando para os tijolos
na parede, suspirei, e depois para a direita, de volta para as rachaduras no teto. Só Alice
sabia que eu estava balançando a minha cabeça.
Ela relaxou. Me avise se piorar.
Eu mexi apenas os meus olhos para cima, para o teto, e pra baixo de novo.
Obrigada por estar fazendo isso.
Eu estava feliz por não poder respondê-la em voz alta. O que eu iria dizer? ‘O prazer é
meu’? Não era bem assim. Eu não gostava de ouvir as lutas de Jasper. Era mesmo
necessário fazer experiências como essas? Será que o caminho mais seguro não seria
admitir que ele jamais seria capaz de lidar com a sede do jeito que nós fazíamos, e não
forçar os limites dele? Pra quê flertar com o desastre?
Já fazia duas semanas desde a nossa última viagem de caça. Esse não era um tempo
imensamente difícil para o resto de nós. Ocasionalmente era um pouco desconfortável - se
um humano se aproximasse demais, se o vento soprasse na direção errada. Mas os
humanos raramente se aproximavam demais. Seus instintos diziam a eles o que suas
mentes conscientes não podiam entender: nós éramos perigosos.
Jasper era muito perigoso nesse momento.
Nesse momento, uma garota pequena pausou na ponta da mesa mais próxima da nossa,
parando para falar com uma amiga. Ela alisou o seu cabelo curto, cor de areia, passando
os dedos por ele. Os aquecedores jogaram o cheiro na nossa direção. Eu já estava
acostumado ao jeito que esse cheiro me fazia sentir - a dor seca na minha garganta, o
grito vazio no meu estômago, a contração automática dos meus músculos, o excesso do
fluxo de veneno na minha boca…
Tudo isso era muito normal, geralmente fácil de ignorar. Só que era mais difícil agora, com
esses sentimentos mais fortes, duplicados, enquanto eu monitorava a reação de Jasper.
Era uma sede gêmea, não apenas a minha.
Jasper estava deixando a sua imaginação se separar dele. Ele estava imaginando isso - se
imaginando levantando do lugar dele ao lado de Alice e indo ficar ao lado da garota.
Pensando em se inclinar pra baixo e pra frente, como se ele fosse falar no ouvido dela, e
deixando seus lábios tocarem o arco da garganta dela. Imaginando como seria a sensação
de sentir o fluxo quente do pulso dela por baixo de sua pele fina na boca dele…
Eu chutei a cadeira dele.
Ele me olhou nos olhos por um minuto e depois olhou para baixo. Eu podia ouvir a
vergonha e a rebeldia guerreando na cabeça dele.
- Desculpe - Jasper murmurou.
Eu levantei os ombros.
- Você não ia fazer nada - Alice murmurou pra ele, acalmando seu pesar. - Eu podia ver.
Eu lutei contra a careta que teria denunciado a mentira dela. Nós tínhamos que
permanecer juntos, Alice e eu. Não era fácil ouvir vozes ou ter visões do futuro. Duas
aberrações no meio daqueles que já eram aberrações. Nós protegíamos os segredos um do
outro.
- Ajuda um pouco se você pensar neles como seres humanos - Alice sugeriu, sua voz alta,
musical, era rápida demais para os ouvidos humanos entenderem, se algum deles
estivesse perto o suficiente pra ouvir. - O nome dela é Whitney. Ela tem uma irmãzinha
que ela adora. A mãe dela convidou Esme para a aquela festa de jardim, você se lembra?
- Eu sei quem ela é - Jasper disse curtamente. Ele se virou pra olhar por uma das
pequenas janelas que eram colocadas bem embaixo das vigas pela grande sala. O tom dele
acabou com a conversa.
Ele teria que caçar hoje à noite. Era ridículo se arriscar desse jeito, tentando testar sua
força, tentando construir sua resistência. Jasper deveria simplesmente aceitar suas
limitações e trabalhar com elas. Seus hábitos antigos não condizia com os hábitos que nós
escolhemos; ele não devia exigir tanto de si mesmo desse jeito.
Alice suspirou baixinho e se levantou, levando sua bandeja de comida - seu adereço, isso é
que era - com ela e deixando-o sozinho. Ela sabia quando ele já estava de saco cheio dos
encorajamentos dela. Apesar de Rosalie e Emmett serem mais abertos em relação ao
relacionamento deles, eram Alice e Jasper que conheciam cada traço do humor do outro
como o seu próprio. Como se eles pudessem ler mentes também - só que só um do outro.
Edward Cullen.
Reação por reflexo. Eu me virei com o som do meu nome sendo chamado, apesar de ele
não estar sendo chamado, só pensado.
Meus olhos se prenderam por uma pequena fração de segundo com um grande par de
olhos humanos, cor de chocolate num rosto pálido, com formato de coração. Eu já
conhecia o rosto, apesar de nunca tê-lo visto até esse momento. Ele esteve em quase
todas as cabeças humanas hoje. A nova estudante, Isabella Swan. Filha do chefe de polícia
da cidade, trazida pra viver aqui por uma nova situação de custódia. Bella. Ela corrigia todo
mundo que usava o seu nome inteiro…
Eu desviei o olhar, enfadado. Eu levei um segundo para me dar conta de que não fora ela
quem pensou no meu nome.
É claro que ela já está se apaixonando pelos Cullen, eu ouvi o primeiro pensamento
continuar.
Agora eu reconhecia a “voz”. Jéssica Stanley - já fazia um tempo que ela me incomodava
com as suas tagarelices internas. Foi um alívio quando ela se curou da sua paixão
deslocada. Era quase impossível escapar dos seus constantes, ridículos sonhos diurnos. Eu
desejei, naquele tempo, poder explicar exatamente o que teria acontecido seu os meus
lábios, e os dentes atrás deles, chegassem em algum lugar perto dela. Isso teria silenciado
aquelas fantasias incômodas. O pensamento da reação dela quase me fez sorrir.
Grande bem que vai fazer para ela, Jessica continuou. Ela não é nem bonita. Eu não sei
por que Eric está olhando tanto pra ela… ou Mike. Ela suspirou mentalmente no último
nome. A nova paixão dela, o genericamente popular Mike Newton, era completamente
inconsciente dela. Aparentemente, ele não era tão inconsciente sobre a garota nova. Como
a criança com o objeto brilhante de novo.
Isso colocou uma pontada maligna nos pensamentos de Jessica, apesar de ela ser
externamente cordial com a recém-chegada enquanto explicava os conhecimentos comuns
sobre a minha família. A nova estudante deve ter perguntado sobre nós.
Hoje todos estão olhando pra mim também, Jessica pensou presumidamente em um
aparte. É uma sorte que Bella tenha duas aulas comigo… eu aposto que Mike vai perguntar
o que ela…
Eu tentei bloquear a tagarela antes que a mesquinharia e a insignificância me deixassem
louco.
- Jessica Stanley está dando à nova garota Swan todos os podres do clã Cullen - eu
murmurei pra Emmett como distração. Ele gargalhou por debaixo do fôlego. Eu espero que
ela esteja fazendo isso direito, ele pensou.
- Na verdade, muito pouco criativo. Só a pequena ponta do escândalo. Nenhuma fofoca
horrorosa. Eu estou um pouco desapontado.
E a garota nova? Ela também está desapontada com a fofoca?
Eu tentei escutar o que essa nova garota, Bella, estava pensando das histórias de Jéssica.
O que ela via quando olhava para a estranha família com peles pálidas que era
universalmente evitada?
Era meio que a minha obrigação saber a reação dela. Eu agia como um espião, por falta de
uma palavra melhor, para a minha família. Para nos proteger. Se alguém começasse a
suspeitar, eu podia nos dar a chance de ter um aviso prévio para nos retirarmos
facilmente. Isso acontecia ocasionalmente - algum humano com uma mente ativa nos via
como personagens de um livro ou um filme. Geralmente eles entendiam tudo errado, mas
era melhor nos mudarmos pra algum lugar novo do que arriscarmos o escrutínio. Muito,
muito raramente, alguém adivinhava corretamente.
Nós não dávamos a eles uma chance de testar suas hipóteses. Nós simplesmente
desaparecíamos, para nos tornarmos nada além de uma memória assustadora…
Eu não ouvi nada, apesar de ouvir onde a tagarelice frívola de Jessica continuava jorrando
ali perto. Era como se não houvesse ninguém sentado ao lado dela. Que peculiar, será que
a garota nova tinha ido embora? Não parecia provável, já que Jessica continuava fofocando
com ela. Eu olhei pra cima pra checar, me sentindo meio desequilibrado. Checar o que os
meus “ouvidos” extras podiam me dizer não era uma coisa que eu tinha que fazer.
De novo, os meus olhos se prenderam naqueles mesmos grandes olhos marrons.
Ela estava sentada lá exatamente como antes, olhando pra nós, uma coisa natural a se
fazer, eu acho, já que Jessica ainda estava espalhando as fofocas locais sobre os Cullen.
Pensar em nós também seria natural.
Mas eu não ouvia nem um sussurro. Um quente e convidativo vermelho coloriu suas
bochechas quando ela olhou para baixo, desviando o olhar da embaraçosa gafe de ser
pega encarando um estranho. Era bom que Jasper ainda estivesse olhando para a janela.
Eu não gostava de imaginar o que aquele simples agrupamento de sangue faria com o
controle dele.
As emoções estavam tão claras como se elas tivessem sido palavras saindo pela testa dela:
surpresa, enquanto ela, sem saber, absorvia as diferenças entre a espécie dela e a minha;
curiosidade, enquanto ela escutava os contos de Jessica; e algo mais… fascínio? Não seria
a primeira vez. Nós éramos lindos pra eles, a nossa presa.
E depois, finalmente, vergonha, quando eu a flagrei me encarando.
E, mesmo assim, apesar dos seus pensamentos serem tão claros através dos seus olhos
estranhos - estranhos por causa da profundidade deles; olhos marrons freqüentemente
pareciam vazios em sua escuridão -, eu não conseguia ouvir nada além do silêncio vindo
do lugar onde ela estava sentada. Absolutamente nada.
Eu senti um momento de intranqüilidade.
Isso não era uma coisa pela qual eu já tinha passado antes. Havia algo errado comigo? Eu
me sentia exatamente do jeito que me sentia sempre. Preocupado, eu tentei escutar mais.
Todas as vozes que eu estive bloqueando estavam gritando na minha cabeça de repente.
…me pergunto de que música ela gosta… talvez eu possa mencionar aquele CD novo…,
Mike Newton estava pensando, a duas mesas de distância - fixado em Bella Swan.
Olha ele olhando pra ela. Será que já não é suficiente que ele tenha metade das garotas
da escola esperando que ele?, Eric Yorkie estava tendo pensamentos sofríveis, também
girando ao redor da garota.
…tão nojento. Daria pra pensar que ela é famosa ou alguma coisa assim… Até Edward
CULLEN está olhando… Lauren Mallory estava tão enciumada que o rosto dela, de todas as
formas, devia estar com uma cor verde como a de jade. E Jessica, ostentando a sua nova
melhor amiga. Que piada…, a garota continuou soltando veneno com os pensamentos.
…Eu aposto que todo mundo já deve ter perguntado isso a ela. Mas eu gostaria de falar
com ela. Eu vou pensar em uma pergunta mais original…, Ashley Dowling meditou.
…Talvez ela esteja comigo em Espanhol…, June Richardson esperou.
…Toneladas de coisas para fazer essa noite! Trigonometria e o teste de inglês. Eu espero
que a minha mãe… Angela Weber, uma garota tímida, cujos pensamentos eram
anormalmente gentis, era a única na mesa que não estava obcecada com essa Bella.
Eu conseguia ouvir todos eles, ouvir cada coisinha insignificante que eles pensavam
enquanto os pensamentos passavam em suas mentes. Mas absolutamente nada vinha da
nova estudante com olhos enganosamente comunicativos.
E, é claro, eu conseguia ouvir o que a garota dizia quando ela falava com Jessica. Eu não
precisava ouvir pensamentos pra ouvir sua voz baixa, clara, no outro lado da sala.
- Quem é o garoto com o cabelo marrom avermelhado? - eu a ouvi perguntar, dando uma
olhadinha pelo canto dos olhos, só pra desviar rapidamente quando viu que eu ainda
estava encarando-a.
Se eu tivesse tempo pra esperar que o som da voz dela pudesse me ajudar a conectar seus
pensamentos, que estava perdidos em algum lugar onde eu não podia acessá-los, eu
ficaria instantaneamente desapontado. Geralmente, os pensamentos das pessoas vinham
acompanhados por um lance diferente em suas vozes físicas. Mas essa voz baixa, tímida,
não era familiar, não era nenhuma das centenas de vozes rodeando a sala, eu tinha
certeza disso. Ela era inteiramente nova.
Oh, boa sorte, idiota! Jessica pensou antes de responder à pergunta da garota.
- Aquele é Edward. Ele é deslumbrante, é claro, mas não perca o seu tempo. Ele não
namora. Aparentemente nenhuma das garotas daqui é bonita o suficiente pra ele. - Ela
fungou.
Eu virei minha cabeça para esconder um sorriso. Jessica e as amigas dela não tinha idéia
de quanta sorte elas tinham por nenhuma delas ser particularmente apelativa pra mim.
Por baixo do humor passageiro, eu senti um estranho impulso, um que eu não entendia
claramente. Tinha alguma coisa a ver com os pensamentos maldosos de Jessica, dos quais
a garota nova não estava consciente… Eu senti uma estranha urgência de me meter entre
elas, para proteger essa Bella Swan dos trabalhos obscuros da mente de Jessica. Que coisa
estranha a se sentir. Tentando entender as motivações por trás desse impulso, eu
examinei a garota nova mais uma vez. Talvez fosse algum instinto de proteção que estava
há muito tempo enterrado - o mais forte pelo mais fraco. Essa garota parecia mais frágil do
que as suas novas colegas de classe. A pele dela era tão translúcida que era difícil de
acreditar que ela oferecia alguma resistência contra o mundo exterior. Eu podia ver o ritmo
da pulsação do sangue através das suas veias, debaixo da sua membrana clara, pálida…
Mas eu não deveria me concentrar. Eu era bom nessa vida que eu havia escolhido, mas eu
estava com tanta sede quanto Jasper e era melhor não convidar a tentação.
Havia uma fraca linha entre as suas sobrancelhas da qual ela não parecia ter consciência.
Isso era inacreditavelmente frustrante! Eu podia ver claramente que ela estava tensa por
ter que sentar aqui, ter que conversar com estranhos, ser o centro das atenções.
Eu podia sentir a sua timidez pelo jeito como ela segurava seus ombros de aparência frágil,
levemente espremidos, como se ela estivesse esperando ser empurrada a qualquer
momento. E, mesmo assim, eu só podia sentir, só podia ver, só podia imaginar. Não havia
nada além de silêncio vindo dessa garota humana muito normal.
Eu não conseguia ouvir nada. Por quê?
- Vamos? - Rosalie murmurou, interrompendo minha concentração. Eu desviei o olhar da
garota com uma sensação de alívio. Eu não queria continuar falhando nisso - isso me
irritava. Eu não queria desenvolver nenhuma espécie de interesse especial pelos seus
pensamentos simplesmente porque eles estavam escondidos de mim. Sem dúvida, quando
eu decifrasse seus pensamentos - e eu ia encontrar uma forma de fazer isso - eles seriam
exatamente tão insignificantes e triviais quanto os pensamentos de qualquer humano. Eles
não valeriam o esforço que eu faria para alcançá-los.
- Então, a novata já está com medo de nós? - Emmett perguntou, ainda esperando pela
resposta à sua pergunta anterior.
Eu levantei os ombros. Ele não estava interessado o suficiente pra me pressionar por mais
informações. Eu também não deveria estar interessado.
Nós nos levantamos da mesa e saímos do refeitório.
Emmett, Rosalie e Jasper estavam fingindo estar no último ano; eles foram para as aulas
deles. Eu estava fingindo ser mais novo que eles. Eu fui para a minha aula de Biologia do
nível médio, preparando a minha mente para o tédio. Era duvidoso que o Sr. Banner, um
homem com uma inteligência não mais que comum, pudesse tirar da sua aula alguma
coisa que pudesse surpreender alguém que já tinha dois graus de graduação em medicina.
Na sala de aula, eu sentei na minha cadeira e deixei meus livros - adereços de novo; eles
não continham nada que eu já não soubesse - espalhados pela mesa. Eu era o único aluno
que tinha uma mesa só pra si. Os humanos não eram espertos o suficiente pra saber que
eles tinham medo de mim, mas seus instintos de sobrevivência eram suficientes pra
mantê-los afastados de mim.
A sala foi se enchendo lentamente enquanto eles voltavam do almoço. Eu me inclinei na
minha cadeira e esperei o tempo passar. De novo, eu desejei ser capaz de dormir.
Como eu estava pensando nela, quando Angela Weber acompanhou a garota nova pela
porta, o nome dela chamou minha atenção.
Bella parece ser tão tímida quanto eu. Eu aposto que hoje foi muito difícil pra ela. Eu
queria poder dizer alguma coisa… Mas provavelmente eu só ia parecer uma estúpida…
Isso! Mike Newton se virou em sua cadeira pra observar a entrada da garota.
Ainda, do lugar onde Bella estava, nada. O espaço vazio onde os pensamentos dela
deveriam estar me deixou irritado e enervado.
Ela se aproximou, passando pelo corredor ao meu lado para chegar à mesa do professor.
Pobre garota; o lugar ao meu lado era o único que estava vazio.
Automaticamente eu limpei aquele que seria o lado dela da mesa, colocando os meus livros
numa pilha. Eu duvidava que ela fosse se sentir muito confortável aqui. Ela teria que
agüentar um longo semestre - nessa aula, pelo menos. Talvez, no entanto, me sentando
ao lado dela, eu fosse capaz de desvendar os seus segredos… não que eu já tivesse
precisado de tanta proximidade antes… não que eu fosse encontrar alguma coisa que
valesse a pena escutar…
Bella Swan caminhou para o fluxo do ar aquecido que soprava na minha direção do
aquecedor.
O cheiro dela me atingiu como uma bola, como um bastão de jogo. Não há nenhuma
imagem violenta o suficiente para encapsular a força do que aconteceu comigo naquele
momento.
Naquele instante, eu não era nada nem perto do humano que um dia eu fui, nenhum traço
da humanidade na qual eu estive tentando me esconder.
Eu era um predador. E ela era a minha presa. Não havia nada mais nesse mundo além
desse verdade.
Não havia uma sala lotada de testemunhas - na minha cabeça eles já eram uma avaria
colateral. O mistério dos pensamentos dela estava esquecido. Os pensamentos dela não
significavam nada, ela não iria passar muito mais tempo pensando.
Eu era um vampiro e ela era o sangue mais doce que eu havia cheirado em oitenta anos.
Eu nunca imaginei que um cheiro assim pudesse existir. Se eu soubesse que existia, eu já
teria saído procurando há muito tempo. Eu teria vasculhado o planeta por ela. Eu podia
imaginar o sabor…
A sede queimou a minha garganta como fogo. Minha boca estava torrada e desidratada. O
fluxo fresco de veneno não fez nada para dissipar essa sensação. Meu estômago revirou
com o fome que era um eco da sede. Meus músculos se contraíam e descontraíam.
Nem um segundo havia se passado. Ela ainda estava andando no mesmo passo que a
havia colocado no vento em minha direção.
Enquanto os pés dela tocavam o chão, seus olhos escorregaram na minha direção. Um
movimento que ela claramente estava esperando que fosse furtivo. O olhar dela encontrou
o meu, e eu me vi refletido no grande espelho dos seus olhos.
O choque pelo rosto que eu vi lá salvou a vida dela por mais alguns momentos. Ela não
facilitou as coisas. Quando ela viu a expressão no meu rosto, o sangue apareceu nas
bochechas dela de novo, deixando a pele dele com a cor mais deliciosa que eu já havia
visto. O cheiro era uma grossa neblina no meu cérebro. Eu mal conseguia pensar através
dela.
Meus pensamentos se enfureceram, resistindo ao controle, incoerentes.
Agora ela caminhava mais rapidamente, como se ela entendesse que precisava escapar. A
pressa dela a deixou desastrada - ela tropeçou e se inclinou para a frente, quase caindo na
garota que se sentava na minha frente. Vulnerável, fraca. Até mais que o normal para um
humano.
Eu tentei me concentrar no rosto que havia visto nos olhos dela, um rosto que eu
reconhecia com nojo. O rosto do monstro em mim - o rosto que eu havia afastado com
décadas de esforço e disciplina inflexível. Como ele voltara à superfície com facilidade
agora!
O cheiro me invadiu novamente, ferindo os meus pensamentos e quase me fazendo pular
do meu lugar.
Não.
Minha mão se agarrou à beirada da mesa enquanto eu tentava me segurar na cadeira.
A madeira não ajudou na tarefa. Minha mão quebrou a estrutura e escapuliu, cheia de
restos de fuligem, deixando a marca dos meus dedos cravadas na madeira que restou.
Destruir as provas. Essa era a regra fundamental.
Eu rapidamente pulverizei as beiradas com as pontas dos dedos, sem deixar nada além de
um buraco e uma pilha de fuligem no chão, que eu limpei com o meu pé.
Destruir as provas. Avarias colaterais…
Eu sabia o que tinha que acontecer agora. A garota teria que vir se sentar ao meu lado e
eu teria que matá-la.
Os inocentes espectadores na sala, outras dezoito crianças e um homem, não poderiam
mais ter permissão de sair dessa sala, tendo visto o que eles veriam em breve.
Eu enrijeci com o pensamento do que eu precisava fazer. Mesmo em meus piores dias, eu
nunca havia cometido esse tipo de atrocidade. Eu nunca matei inocentes em nenhuma
desses oito décadas. E agora eu planejava matar vinte deles de uma só vez.
O rosto do monstro no espelho zombou de mim.
Mesmo com parte de mim se afastando desse monstro, a outra parte estava fazendo
planos.
Se eu matasse a garota primeiro, eu só teria uns quinze ou vinte segundos com ela antes
que os outros humanos na sala começassem a reagir. Talvez um pouco mais de tempo, se
eles não percebessem logo no início o que eu estava fazendo. Ela não teria tempo de gritar
ou de sentir dor; eu não ia matá-la cruelmente. Pelo menos isso eu podia dar à essa
estranha com sangue horrivelmente desejável.
Mas depois eu teria que impedi-los de escapar. Eu não precisaria me preocupar com as
janelas, elas eram altas e pequenas demais para servir como escapatória pra alguém. Só a
porta - a bloqueie e eles ficarão presos.
Seria mais lento e difícil tentar matar todos eles quando estivessem em pânico e se
misturando, se movimentando no caos. Nada impossível, mas haveria muito mais barulho.
Daria tempo para muitos gritos. Alguém poderia ouvir… e eu seria obrigado a matar ainda
mais inocentes nessa hora negra.
E o sangue dela iria esfriar enquanto eu estivesse assassinando os outros.
O cheiro me castigou, fechando a minha garganta com uma dor seca…
Então seriam as testemunhas primeiro.
Eu planejei tudo na minha cabeça. Eu estaria no meio da sala, na fila mais afastada do
fundo. Eu pegaria o lado direito primeiro. Eu podia morder quatro ou cinco pescoços por
segundo, eu estimei. Não seria barulhento. O lado direito seria o lado de sorte; eles não
iriam me ver chegando. Me movendo pra frente e pra trás até a fila esquerda iria me levar,
no máximo, cinco segundos pra acabar com todas as vidas nessa sala.
Tempo o suficiente pra Bella Swan ver, brevemente, o que estava esperando por ela.
Tempo o suficiente para ela sentir medo. Tempo suficiente, talvez, se o choque não a
congelasse no lugar, para ela tentar gritar. O gritinho suave não faria ninguém aparecer
correndo.
Eu respirei fundo, e o cheiro era como um fogo correndo nas minhas veias secas,
queimando por dentro do meu peito pra consumir qualquer impulso de bondade do qual eu
ainda fosse capaz.
Ela estava se virando agora. Em alguns segundos, ela se sentaria a apenas alguns
centímetros de mim.
O monstro na minha cabeça sorriu com a antecipação.
Alguém fechou um fichário ao meu lado. Eu não me virei pra ver qual dos humanos
predestinados havia feito isso, mas o movimento mandou uma onda de vento sem cheiro
na minha direção.
Por um curto segundo, eu fui capaz de pensar com clareza. Naquele precioso segundo, eu
vi dois rostos na minha cabeça, lado a lado.
Um era o meu, ou o que ele foi um dia: o monstro de olhos vermelhos que já havia
matado tantas pessoas que já havia parado de contar o número. Assassinatos
racionalizados, justificados. Um assassino de assassinos, um assassino de outros monstros,
menos poderosos. Era um complexo de ser Deus, eu sabia disso - decidir quem merecia
uma sentença de morte. Era um compromisso comigo mesmo. Eu havia me alimentado de
sangue humano, mas somente humanos em sua definição mais fraca. As minhas vítimas
eram, em seus violentos dias negros, tão humanos quanto eu era.
O outro rosto era o de Carlisle.
Não havia nenhuma semelhança entre os dois rostos.
Eles eram como o dia mais claro e a noite mais escura. Não havia motivo pra que houvesse
uma semelhança. Carlisle não era meu pai no sentido biológico básico. Nós não tínhamos
feições semelhantes. A similaridade na nossa cor era apenas por causa do que éramos;
todos os vampiros tinham a mesma cor pálida como gelo. A similaridade da cor dos nossos
olhos era outra coisa - uma reflexão da nossa escolha mútua.
E, mesmo assim, apesar de não haverem bases pra uma semelhança, eu havia imaginado
que o meu rosto havia começado a refletir o dele, até um certo ponto, nos últimos
estranhos setenta anos em que eu abracei a escolha dele e segui os seus passos. O meu
rosto não havia mudado, mas para mim parecia que alguma da sabedoria dela havia
marcado a minha expressão, que um pouco da compaixão dele podia ser traçada nos
contornos da minha boca, e que as suas sugestões de paciência estavam evidentes nas
minhas sobrancelhas.
Todas essa pequenas melhorias estavam escondidas no rosto do monstro. Em alguns
instantes, não haveria mais nada que pudesse refletir os anos que eu havia passado com o
meu criador, o meu mentor, o meu pai em todas as formas que se podia contar.
Meus olhos brilhariam vermelhos como os do diabo; todas as semelhanças estariam
perdidas pra sempre.
Na minha cabeça, os olhos bondosos de Carlisle não me julgavam. Eu sabia que ele me
perdoaria por esse terrível ato que eu iria cometer. Porque ele me amava. Porque ele
pensava que eu era melhor do que eu era de verdade. E ele continuaria me amando,
mesmo agora, quando eu provasse que ele estava errado.
Bella Swan se sentou ao meu lado, seus movimentos eram rígidos e estranhos - com
medo? -, e o cheiro do sangue dela criou uma inexorável nuvem ao meu redor.
Eu iria provar que meu pai estava errado sobre mim. A tristeza desse fato doía quase tanto
quanto o fogo na minha garganta.
Eu me afastei dela com repulsa - revoltado com o monstro implorando pra atacá-la.
Por que ela tinha que vir para cá? Por que ela tinha que existir?
Por que ela tinha que acabar com o pouco de paz que eu tinha nessa minha não-vida? Por
que essa humana agravante tinha que ter nascido? Ela ia me arruinar.
Eu desviei o meu rosto pra longe dela, enquanto uma súbita fúria, um aborrecimento
irracional passou por mim.
Quem era essa criatura? Por que eu, por que agora? Por que eu tinha que perder tudo só
porque ela escolheu aparecer nessa cidade improvável?
Por que ela tinha que vir pra cá?!
Eu não queria ser o monstro! Eu não queria matar essa sala cheia de crianças indefesas!
Eu não queria perder tudo o que eu havia conseguido com uma vida inteira de sacrifícios e
negações!
Eu não faria isso. Ela não ia me obrigar.
O cheiro era o problema, o cheiro odiosamente apelativo do sangue dela. Se houvesse
alguma forma de resistir… se apenas um sopro de ar fresco pudesse limpar a minha
cabeça.
Bella Swan balançou os seus longos, grossos cabelos cor de mogno na minha direção.
Ela era louca? Era como se ela estivesse encorajando o monstro! Cutucando-o.
Não havia nenhuma brisa amigável pra afastar o cheiro de mim agora. Tudo estaria
perdido em breve.
Não, não havia nenhuma brisa amigável. Mas eu não precisava respirar. Eu parei o fluxo de
ar para os meus pulmões; o alívio foi instantâneo, mas incompleto.
Eu ainda tinha a memória do cheiro na minha cabeça, o gosto no fundo da minha língua.
Eu não seria capaz de resistir por muito mais tempo. Mas talvez eu pudesse resistir por
uma hora. Uma hora. Só o tempo suficiente pra sair dessa sala cheia de vítimas, vítimas
que talvez não precisassem ser vítimas. Se eu pudesse resistir durante uma curta hora.
Ficar sem respirar era uma sensação desconfortável. Meu corpo não precisava de oxigênio,
mas isso ia contra os meus instintos. Eu me valia desse sentido muito mais do que em
qualquer outro quando estava estressado. Ele me guiava nas caças, era o primeiro a me
avisar em casos de perigo.
Eu não cruzava com alguma coisa tão perigosa quanto eu com freqüência, mas a autopreservação
era tão forte na minha espécie quanto nos humanos.
Desconfortável, mas suportável. Mais suportável do que sentir o cheiro dela e não afundar
os meus dentes naquela pele bonita, fina, transparente, até o quente, molhado, pulsante ?
Uma hora! Só uma hora. Eu não devo pensar no cheiro, no gosto.
A garota silenciosa manteve o cabelo dela entre nós, se inclinando para a frente até que
ele se espalhou no classificador dela. Eu não conseguia ver o seu rosto para tentar ler as
emoções dela através de seus olhos claros, profundos. Era por isso que ela deixava as
mechas entre nós? Para esconder aqueles olhos de mim? Por medo? Timidez? Para
esconder seus segredos de mim?
A minha antiga irritação por ser incapacitado pelos seus pensamentos sem som era fraca e
pálida em comparação à necessidade - e ao ódio - que me possuía agora. Eu odiava essa
mulher-criança ao meu lado, a odiava com todas as forças que eu devotava ao meu antigo
eu, meu amor pela minha família, meus sonhos de ser melhor do que eu era… Odiá-la,
odiar o que ela me fazia sentir - isso ajudou um pouco.
Eu me agarrei a qualquer emoção que me distraísse do pensamento de qual seria o gosto
dela…
Ódio e irritação. Impaciência. Será que essa hora não passaria nunca? E quando essa hora
terminasse… Então ela sairia dessa sala. E eu faria o quê?
Eu podia me apresentar. Olá, meu nome é Edward Cullen. Posso te acompanhar até a sua
próxima aula?
Ela diria sim. Era a coisa educada a se fazer. Mesmo já sentindo medo de mim, como eu
suspeitava que ela sentisse, ela iria me acompanhar convencionalmente e caminhar ao
meu lado. Seria fácil o suficiente guiá-la na direção errada.
Havia um pedaço da floresta que se esticava como um dedo e tocava o estacionamento
pelos fundos. Eu podia dizer a ela que havia esquecido um livro no meu carro…
Será que alguém notaria que eu fui a última pessoa com a qual ela foi vista?
Estava chovendo, como sempre; dois casacos de chuva escuros se movendo na direção
errada não chamariam tanta atenção, nem me denunciariam.
A não ser pelo fato de eu não ser o único estudante que estava consciente dela hoje -
apesar de nenhum estar tão devastadoramente consciente dela quanto eu. Mike Newton,
em particular, estava consciente de cada movimento que ela fazia se mexendo na cadeira -
ela estava desconfortável ao meu lado, assim como qualquer um estaria, assim como eu já
esperava antes que o cheiro dela destruísse todos os traços de preocupação por caridade.
Mike Newton repararia se ela deixasse a sala comigo.
Se eu pudesse agüentar uma hora, será que eu poderia agüentar duas? Eu vacilei com a
dor da queimação.
Era iria para uma casa vazia. O chefe de polícia Swan trabalhava o dia inteiro. Eu conhecia
a casa dele, assim como eu conhecia todas as casinhas da cidade. A casa dele ficava acima
da encosta da floresta, sem vizinhos próximos. Mesmo se ela tivesse tempo pra gritar, e
ela não teria, não haveria ninguém por perto pra ouvir.
Essa era a forma mais responsável de lidar com isso. Eu havia agüentado sete décadas
sem sangue humano. Se eu segurasse a respiração, eu poderia agüentar duas horas. E
quando eu a encontrasse sozinha, não haveria chances de alguém mais se machucar. E
não há motivo pra apressar a experiência, o monstro em minha cabeça concordou.
Eu estava me enganando ao pensar que, salvando os dezenove humanos dessa sala com
esforço e paciência, eu seria menos monstro quando matasse essa garota inocente.
Apesar de odiá-la, eu sabia que o meu ódio era injusto. Eu sabia que quem eu realmente
odiava era eu mesmo. Eu odiaria a nós dois muito mais quando ela estivesse morta.
Eu consegui passar a hora desse jeito - imaginando as melhores formas de matá-la.
Eu tentei evitar pensar no ato de verdade. Isso seria demais pra mim; eu acabaria
perdendo essa batalha e matando todo mundo que eu visse. Então eu planejei a estratégia
e nada mais.
Isso me ajudou a passar a hora.
Uma vez, quase no final, ela olhou pra mim pela fluida parede dos seus cabelos. Eu podia
sentir o ódio injustificado queimando em mim quando eu olhei nos olhos dela - eu vi a
minha reflexão em seus olhos assustados. O sangue pintou suas bochechas antes que ela
pudesse se esconder em seus cabelos de novo, e eu quase me desfiz.
Mas o sinal tocou. Salva pelo gongo - que clichê. Nós dois estávamos salvos. Ela, salva de
sua morte. Eu, salvo por um curto período de tempo de ser a criatura de pesadelos que eu
temia e não suportava.
Eu não consegui caminhar tão devagar quanto devia quando saí da sala. Se alguém
estivesse olhando pra mim, poderia ter suspeitado que havia alguma coisa anormal no jeito
como eu me movia. Ninguém estava prestando atenção em mim. Todos os pensamentos
humanos ainda rondavam a garota que estava condenada a morrer em pouco mais de uma
hora.
Eu me escondi no meu carro.
Eu não gostava de pensar em mim mesmo tendo que me esconder. Isso soava muito
covarde. Mas esse era inquestionavelmente o caso agora.
Eu não estava suficientemente disciplinado pra ficar perto de humanos agora. Me
concentrar tanto em não matar um deles havia acabado com todos os meus recursos para
resistir a matar os outros. Que desperdício isso seria. Se eu tinha que dar o braço a torcer
para o monstro, eu podia pelo menos fazer o desafio valer a pena.
Eu coloquei o CD de música que geralmente me acalmava, mas ele fez pouco por mim
agora. Não, o que mais ajudou agora foi o ar frio, molhado, limpo que entrava com a
chuva pelas minhas janelas abertas. Apesar de eu conseguir me lembrar do cheiro do
sangue de Bella Swan com perfeita clareza, inalar o ar limpo era como lavar o interior do
meu corpo contra as infecções.
Eu estava são de novo. Eu podia pensar de novo. E eu podia lutar de novo. E eu podia
lutar contra o que eu não queria ser.
Eu não tinha que ir até a casa dela. Eu não queria matá-la.
Obviamente, eu era uma criatura racional, uma criatura que pensava, e eu tinha uma
escolha. Sempre havia uma escolha.
Não era isso o que parecia na sala de aula… mas agora eu estava longe dela. Talvez, se eu
a evitasse muito, muito cuidadosamente, não houvesse motivos para a minha vida mudar.
Eu tinha as coisas sob controle do jeito como elas eram agora. Por que eu deveria deixar
alguém agravante e delicioso arruinar isso? Eu não tinha que desapontar o meu pai. Eu
não tinha que causar estresse à minha mãe, preocupação… dor. Sim, isso machucaria a
minha mãe adotiva também. E Esme era tão gentil, tão delicada e suave. Causar dor a
alguém como Esme era verdadeiramente indesculpável.
Era irônico que eu tivesse tido vontade de proteger essa garota da ameaça desprezível,
sem dentes, dos pensamentos de Jessica Stanley. Eu era a última pessoa que iria querer
servir de protetor de Isabella Swan. Ela jamais precisaria de proteção de alguma coisa
tanto quanto ela precisava de mim.
Onde estava Alice?, eu me perguntei de repente. Ela não havia me visto matar a garota
Swan de alguma forma? Por que ela não apareceu para ajudar - para me parar ou para me
ajudar a limpar as provas, o que quer que fosse? Será que ela estava tão preocupada em
livrar Jasper de problemas que ela havia deixado passar essa possibilidade muito mais
horrorosa? Será que eu era mais forte do que eu pensava? Será que eu realmente não
teria feito nada com a garota?
Não. Eu sabia que isso não era verdade. Alice deve estar se concentrando bastante em
Jasper.
Eu procurei na direção em que eu sabia que ela estaria, no pequeno prédio que era usado
para as aulas de inglês. Não me levou muito tempo localizar sua “voz” familiar. E eu estava
certo. Todos os seus pensamentos estavam voltados pra Jasper, vendo todas as suas
pequenas escolhas a cada minuto.
Eu desejei poder pedir seus conselhos, mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz que ela não
soubesse do que eu era capaz. Que ela não soubesse do massacre que eu havia planejado
na hora anterior.
Eu senti uma nova queimação pelo meu corpo - a da vergonha. Eu não queria que nenhum
deles soubesse.
Se eu pudesse evitar Bella Swan, se eu pudesse conseguir não matá-la - mesmo enquanto
eu pensava nisso, o monstro trincava e rangia os dentes, cheio de frustração - então
ninguém teria que saber. Se eu pudesse manter distância do cheiro dela…
Não havia razão para que eu não tentasse, pelo menos. Fazer uma boa escolha. Tentar ser
o que Carlisle pensava que eu era.
A última hora de escola já estava quase acabada. Eu decidi começar a colocar o meu novo
plano em ação imediatamente. Era melhor do que ficar sentado no estacionamento, onde
ela poderia passar a qualquer minuto e arruinar minha tentativa. De novo, eu senti o ódio
injusto por essa garota. Eu odiava que ela tivesse esse poder inconsciente sobre mim. Que
ela conseguisse me fazer ser algo que eu repugnava.
Eu caminhei rapidamente - um pouco rapidamente demais, mas não havia testemunhas -
através do pequeno campus até a secretaria. Não havia razão pra Bella Swan cruzar o meu
caminho. Ela seria evitada como a praga que ela era.
A secretaria estava vazia, com exceção da secretária, a única que eu queria ver.
Ela não reparou na minha entrada silenciosa.
- Sra. Cope?
A mulher com o cabelo desnaturalmente vermelho olhou pra cima e os olhos dela se
arregalaram. Eu sempre os pegava fora de guarda, pequenos marcadores que eles não
conseguiam entender, não importava quantos de nós eles já tivessem visto.
- Oh. - Ela ofegou, um pouco corada. Ela alisou sua blusa. Boba, ela pensou consigo
mesma. Ele quase é novo o suficiente pra ser meu filho. Novo demais pra eu pensar nele
desse jeito… - Olá, Edward. O que eu posso fazer por você? - Seus cílios flutuaram por trás
das lentes dos seus grossos óculos.
Desconfortável. Mas eu sabia ser charmoso quando eu queria ser. Era fácil, já que eu era
capaz de saber instantaneamente como qualquer tom ou gesto meu era recebido.
Eu me inclinei para a frente, encontrando seu olhar como se estivesse olhando
profundamente dentro dos seus olhos marrons rasos, pequenos. Os pensamentos dela já
estavam em polvorosa. Isso iria ser simples.
- Eu estava me perguntando se você pode me ajudar com os meus horários - eu disse com
a minha voz suave que era reservada a não assustar humanos.
Eu ouvi o ritmo do coração dela acelerar.
- É claro, Edward. Como eu posso ajudar? - Jovem demais, jovem demais, ela repetiu para
si mesma. Errada, é claro. Eu era mais velho que o avô dela. Mas, de acordo com a minha
carteira de motorista, ela estava certa.
- Eu estava imaginando se eu poderia trocar a minha aula de Biologia para o nível mais alto
de Ciências. Física, talvez?
- Algum problema com o Sr. Banner, Edward?
- Absolutamente não, é só que eu já estudei esse material…
- Naquela escola acelerada que você estudou no Alaska, certo? - Os lábios finos dela se
torceram enquanto ela considerava isso. Eles todos já deveriam estar na faculdade. Eu já
ouvi todos os professores reclamando. Notas perfeitas, nunca hesitavam antes de
responder, nunca respondiam errado num teste - como se eles encontrassem uma forma
de colar em todos os assuntos. O Sr. Varner preferiria admitir que tem alguém colando do
que dizer que existe alguém mais inteligente que ele… Eu aposto que a mãe deles os
instrui… - Na verdade, Edward, a aula de física já está muito cheia agora. O Sr. Banner
odeia ter mais de vinte e cinco alunos na sala de aula -
- Eu não daria nenhum problema.
É claro que não. Não um Cullen perfeito.
- Eu sei disso, Edward. Mas simplesmente não tem lugares suficientes…
- Então eu posso desistir da aula? Eu posso usar o período pra estudos independentes.
- Desistir de Biologia? - A boca dela se abriu. Isso é loucura. Quão difícil pode ser ver um
assunto que você já viu? DEVE haver algum problema com o Sr. Banner. Eu me pergunto
se devo falar sobre isso com Bob. - Você não teria créditos suficientes pra se formar.
- Eu posso acompanhar no ano que vem.
- Talvez você devesse falar com os seus pais sobre isso.
A porta se abriu atrás de mim, mas quem quer que fosse não estava pensando em mim,
então eu ignorei a chegada e me concentrei na Sra. Cope. Eu me inclinei um pouco mais
pra perto e abri meus olhos um pouco mais. Isso funcionaria melhor se eles estivessem
dourados em vez de pretos. A negritude assustava as pessoas, tal como devia.
- Por favor, Sra. Cope? - Eu fiz minha voz ficar o mais suave e convincente que eu pude - e
isso podia ser consideravelmente convincente. - Não há uma outra seção à qual eu possa
me mudar? Será que não existe nenhuma vaga em aberto em algum lugar? Biologia no
sexto horário pode ser a única opção…
Eu sorri pra ela, tomando cuidado pra não mostrar os meus dentes demais pra não
assustá-la, deixando a expressão se suavizar no meu rosto.
O coração dela bateu mais rápido. Jovem demais, ela dizia para si mesma freneticamente.
- Bem, talvez eu pudesse falar com Bob - quero dizer, o Sr. Banner. Eu posso ver se -
Um segundo foi o que levou para tudo mudar: a atmosfera na sala, a minha missão aqui, a
razão pela qual eu me inclinava para a mulher de cabelos vermelhos… O que havia sido
por um propósito, agora era por outro.
Um segundo foi só o que demorou pra Samantha Wells abrir a porta e jogar uma
assinatura que ela havia pego na cesto ao lado da porta e correr para fora de novo, com
pressa de sair da escola. Um segundo foi tudo o que levou para uma rajada repentina de
vento passar pela porta e vir me atingir. Um segundo foi o tempo que eu levei pra me dar
conta de por que aquela primeira pessoa não havia me atrapalhado com os seus
pensamentos.
Eu me virei, apesar de não precisar ter certeza. Eu me virei lentamente, lutando pra
controlar os meus músculos que se rebelavam contra mim.
Bella Swan ficou com as costas pressionadas na parede ao lado da porta, com um papel
agarrado nas mãos.
Os olhos dela estava ainda maiores do que o normal quando ela percebeu o meu olhar
feroz, desumano.
O cheiro dela saturou cada pequena partícula de ar na sala pequena, quente. Minha
garganta ficou em chamas.
O monstro olhou pra mim pelo espelho dos olhos dela de novo, uma máscara do mal.
Minha mão hesitou no ar em cima do balcão. Eu não teria que olhar para bater com a
cabeça da Sra Cope na mesa dela com força suficiente pra matá-la. Duas vidas, ao invés
de vinte. Uma troca.
O monstro esperou ansiosamente, faminto, que eu fizesse isso.
Mas sempre havia uma escolha - tinha que haver.
Eu parei o movimento dos meus pulmões e fixei o rosto de Carlisle na frente dos meus
olhos. Eu me virei de volta pra olhar para a Sra. Cope e ouvi a surpresa interna dela com a
mudança da minha expressão. Ela se afastou de mim, mas o medo dela não saiu em
palavras coerentes.
Usando todo o auto-controle que eu havia aprendido em minhas décadas de auto-negação,
eu fiz a minha voz ficar uniforme e suave. Havia ar o suficiente nos meus pulmões pra falar
uma ultima vez, apressando as palavras.
- Deixa pra lá então. Eu vejo que é impossível. Muito obrigado por sua ajuda.
Eu me virei e me lancei pela porta, tentando não sentir o calor do sangue quente do corpo
da garota enquanto eu passei a apenas alguns centímetros dela.
Eu não parei até estar no meu carro, me movendo rápido demais em todo o caminho até
lá.
A maioria dos humanos já havia ido embora, então não havia muitas testemunhas.
Eu ouvi um garoto do segundo ano, D.J. Garrett, notar e depois deixar pra lá…
De onde foi que Cullen saiu? Foi como se ele tivesse aparecido com o vento… Lá vou eu
com minha imaginação de novo. Minha mãe sempre diz…
Quando eu escorreguei para dentro do meu Volvo, os outros já estavam lá. Eu tentei
controlar a minha respiração, mas eu estava asfixiando por ar fresco como se estivesse
sufocando.
- Edward? - Alice perguntou com uma voz alarmada.
Eu só balancei a minha cabeça pra ela.
- O que diabos aconteceu com você? - Emmett quis saber, distraído, por um momento, do
fato de Jasper não estar no clima de aceitar a sua revanche.
Ao invés de responder, eu dei a ré no carro. Eu tinha que sair daquele estacionamento
antes que Bella me seguisse aqui também. Meu demônio pessoal me perseguindo… Eu
virei o carro e acelerei. Eu já estava nos quarenta antes de chegar à estrada. Na estrada,
eu fiz setenta antes de chegar à esquina.
Sem olhar, eu sabia que Emmett, Rosalie e Jasper se viraram todos para olhar para Alice.
Ela levantou os ombros. Ela não podia ver o que havia se passado, só o que estava por vir.
Ela olhou pra mim agora. Nós dois estávamos processando o que ela viu em sua cabeça
agora, e nós dois estávamos surpresos.
- Você vai embora? - ela sussurrou.
Os outros olharam pra mim agora.
- Eu vou? - eu assoviei através dos meus dentes.
Ela viu nessa hora, enquanto a minha decisão ia para outro caminho e outra escolha virara
o meu futuro pra uma direção mais escura.
- Oh.
Bella Swan morta. Meus olhos brilhando, vermelhos com o sangue fresco. A procura que se
seguiria. O tempo cuidadoso que nos levaria a esperar até que fosse seguro sair e começar
tudo de novo…
- Oh - ela disse de novo. A imagem ficou mais específica. Eu vi o interior da casa do Chefe
Swan pela primeira vez, vi Bella na pequena cozinha com os armários amarelos, com as
costas viradas pra mim enquanto eu a perseguia na escuridão… deixava o cheiro dela me
guiar até ela…
- Pare! - eu rugi, incapaz de agüentar mais.
- Desculpa - ela cochichou com os olhos arregalados.
O monstro gostou.
E a visão na cabeça dela mudou de novo. Uma avenida vazia à noite, as árvores ao lado
dela cobertas de neve, brilhando com os quase duzentos quilômetros por hora.
- Eu vou sentir sua falta - ela disse. - Não importa quão curto seja o tempo que você vai
ficar fora.
Emmett e Rosalie trocaram um olhar apreensivo.
Nós já estávamos quase na curva da longa estrada que levava à nossa casa.
- Nos deixe aqui - Alice sugeriu. - Você deve dizer isso a Carlisle pessoalmente.
Eu balancei a cabeça e o carro guinchou quando parou de repente.
Emmett, Rosalie e Jasper saíram silenciosamente; eles fariam Alice explicar tudo quando
eu fosse embora. Alice tocou o meu ombro.
- Você vai fazer a coisa certa - ela murmurou. Não era uma visão dessa vez, era uma
ordem. - Ela é a única família de Charlie Swan. Isso o mataria também.
- Sim - eu disse, concordando apenas com a última parte.
Ela saiu pra se juntar aos outros, as sobrancelhas dela estavam se juntando por causa da
ansiedade.
Eles se enfiaram nas matas, desaparecendo de vista antes que eu pudesse virar o carro.
Eu acelerei de volta à cidade, e eu sabia que as visões na cabeça de Alice estariam
passando de negras a claras num piscar de olhos.
Enquanto eu corria pra Forks com mais de noventa quilômetros por hora, eu não tinha
certeza do que estava fazendo. Dizer adeus ao meu pai?
Ou abraçar o monstro que havia dentro de mim?
A estrada passava voando por baixo dos meus pneus.
2. Livro Aberto
Eu inclinei as costas contra o banco fofo com neve, deixando o pó seco se refazer em volta
de meu peso. Minha pele esfriou para se igualar ao ar envolta de mim, e os pequenos
pedaços de gelo pareciam como veludo embaixo da minha pele.
O céu acima de mim estava limpo, brilhante com estrelas, ficando azul em algumas partes,
e amarelo em outras. As estrelas apareceram majestosamente, em formas redondas contra
o universo negro -uma maravilhosa vista. Requintadamente bonita. Ou melhor, deveria ter
sido requintadamente. Teria sido, se eu pudesse vê-las.
Eu não estava ficando nada melhor, já haviam se passado seis dias, seis dias que eu
estava escondido no vazio deserto Denali, mas eu não estava nem perto da liberdade
desde o primeiro momento em que fui preso pelo seu perfume.
Quando eu olhei para o o céu estrelado, era como se tivesse uma obstrução entre meus
olhos e a beleza dele. A obstrução era um rosto, um rosto humano pouco notável, mas eu
não parecia poder baní-lo da minha mente.
Eu ouvi os pensamentos aproximando-se antes de ouvir os passos que os acompanhavam.
O som do movimento era apenas um desfalecido suspiro contra o pó.
Eu não estava surpreso que Tanya havia me seguido até aqui. Eu sabia que ela estava
refletindo sobre esta conversa pelos últimos dias, adiando até que ela estivesse
exatamente certa do que ela queria dizer.
Ela apareceu há uns 54 metros, pulando até a ponta de uma rocha escura à vista,
balançando-se nas solas dos pés A pele de Tanya estava cinza na luz das estrelas, os
seus cabelos louros brilhavam palidamente, quase rosa com mechas avermelhadas. Seus
olhos amarelados brilharam rapidamente quando ela olhou para mim, meio enterrada na
neve, e seus lábios se esticaram lentamente formando um sorriso.
Delicadamente. Se eu pudesse vê-la. Eu suspirei.
Ela agachou até a ponta da rocha, as pontas de seus dedos tocando a rocha, o corpo dela
girou.
Bola de neve, ela pensou.
Ela se lançou no ar, sua forma tornou-se escura, uma sombra giratória na medida que ela
girava entre mim e as estrelas. Ela se curvou até uma bola, assim que ela tocou a a pilha
do banco de neve junto à mim.
Um nevoal caiu em cima de mim. A estrelas ficaram pretas, e eu estava enterrado, coberto
de cristais de gelo.
Eu suspirei de novo, mas não me movi para me desenterrar. A escuridão abaixo da neve
não podia piorar e nem melhorar a visão. Eu ainda via o mesmo rosto.
“Edward?”
E depois a neve voava de novo, assim que Tanya me desenterrou rapidamente. Ela limpou
o pó do meu rosto imóvel, não totalmente olhando em meus olhos.
“Desculpa.” Ela murmurou. “Foi uma piada.”
“Eu sei. Foi engraçado.”
Sua boca deformou para baixo.
“Irina e Kate falam que eu deveria te deixar em paz. Elas acham que eu te incomodo.”
“Não mesmo,” Eu assegurei à ela “Pelo contrário, sou eu quem está sendo rude -
abominavelmente rude. Eu sinto muito.”
Você está indo para casa, não está? Ela pensou.
“Eu ainda.. não me decidi… totalmente.”
Mas você não vai ficar aqui. Seu pensamento era melancólico agora, triste.
“Não. Isso não parece estar… ajudando.”
Ela fez uma careta. “É minha culpa, não é?”
“Claro que não,” eu menti rapidamente.
Não seja cavalheiro.
Eu sorri.
Eu faço você se sentir desconfortável, ela acusou.
“Não.”
Ela levantou uma sobrancelha, sua expressão estava tão descrente que eu tive que rir. Um
curto riso, seguido por outro suspiro.
“Está bem,” eu admiti. “Um pouco.”
Ela suspirou também e colocou o seu queixo sob suas mãos. Seus pensamentos estavam
mortificados.
“Você é mil vezes mais amável do que as estrelas, Tanya. É claro que você é bem
consciente disso. Não deixe a minha teimosia minar a sua confiança.” eu ri com a
impossibilidade disso.
“Eu não estou acostumada com a rejeição,” ela grunhiu, seu lábio inferior se pôs para fora
em um atraente beicinho.
“Certamente não,” eu concordei, tentando sem muito sucesso bloquear os seus
pensamentos enquanto ela se aprofundava por dentre suas milhares de conquistas. Em sua
maioria, Tanya preferia os homens humanos - eles eram muito mais populares para uma
única coisa, com a vantagem de serem suaves e quentes. E sempre sedentos,
definitivamente.
“Succubus,” eu soltei, na esperança de interromper as imagens que surgiam em sua
mente.
Ela sorriu, mostrando seus dentes. “A original.”
Diferente de Carlisle, Tanya e suas irmãs descobriram suas consciências lentamente. No
final, foi o afeto pelos homens humanos que colocaram as irmãs contra o massacre. Agora
os homens que elas amaram… viveram.
“Quando você apareceu aqui,” Tanya disse lentamente. “Eu pensei que…”
Eu sabia o que ela tinha pensado. E eu devia saber que ela ia se sentir assim. Mas eu não
estava no meu melhor momento racional naquela hora..
“Você pensou que eu havia mudado de idéia.”
“Sim,” Ela me olhou com cara feia.
“Eu me sinto horrível por brincar com as suas expectativas, Tanya. Eu não queria - Eu não
estava pensando. É que eu saí… com um pouco de pressa.”
“Eu imagino que você não vai me contar o porque…?”
Eu me sentei e enrolei meus braços ao redor das minhas pernas, me curvando
defensivamente. “Eu não quero falar sobre isso.”
Tanya, Irina e Kate se adaptaram muito bem à vida que elas se comprometeram. Melhor,
em algumas maneiras, até do que Carlisle. Apesar da proximidade insana que elas se
permitiram a aqueles que deviam ser - e uma vez foram - suas presas, eles não
cometeram erros. Eu estava muito envergonhado em admitir minha fraqueza para Tanya.
“Problemas com mulheres?” Ela perguntou ignorando minha relutância.
Eu dei um sorriso obscuro “Não do jeito que você quer dizer”
Então ela ficou quieta. Eu escutei seus pensamentos enquanto ela os mudava, tentando
decifrar o significado de minhas palavras.
“Você não está nem perto” - Eu a avisei.
“Uma dica?” ela me perguntou.
“Por favor, esqueça isso, Tanya.”
Ela estava quieta de novo, especulando. Eu a ignorei tentando, em vão, admirar as
estrelas.
Ela desistiu depois de um momento de silêncio e seus pensamentos tomaram outra
direção.
Se você nos deixar, pra onde você vai, Edward? De volta pro Carlisle?
“Eu não acho que seja possível” Eu suspirei.
Pra onde eu iria? Eu não podia imaginar um lugar em todo o planeta que fosse me
interessar. Porque não importa para onde eu fosse, eu estaria indo para lugar algum - eu
estaria apenas fugindo.
Eu odiava isso. Quando eu me tornei tão covarde?
Tanya colocou seus braços sobre os meus ombros. Eu enrijeci mas eu não tirei seu braço
dali. Ela queria dizer que não havia nada como o apoio de um amigo.
Praticamente.
“Eu acho que você vai voltar.” - ela disse com sua voz pegando um pouco do seu sotaque
russo - “Não importa o que seja ou quem seja que está machucando você. Você vai
enfrentar isso. Você é esse tipo.”
Seus pensamentos estavam de acordo com as suas palavras. Eu tentei abraçar a visão de
mim que ela carregava em sua cabeça. Aquele que enfrenta as coisas de cabeça levantada.
Eu nunca duvidei de minha coragem, minha habilidade de enfrentar situações adversas.
Até aquela aula terrível de biologia há pouco tempo atrás.
Eu beijei sua bochecha, voltando rapidamente quando ela torceu seu rosto em direção ao
meu. Seus lábios já enrugados. Ela sorriu da minha rapidez.
“Obrigada, Tanya. Eu precisava ouvir isso.”
Seus pensamentos tornaram-se petulantes “De nada, eu acho. Eu gostaria que você fosse
mais racional sobre as coisas, Edward.”
“Me desculpe, Tanya. Você sabe que é boa demais para mim. Eu apenas… não achei o que
eu estou procurando ainda.”
“Bom, se você for embora antes de eu te ver de novo. Tchau,Edward.”
“Tchau, Tanya” - Enquanto eu falava as palavras, eu pude ver isso. Eu podia me ver saindo
de lá, de volta para o lugar onde eu gostaria de estar. - “Obrigada - de novo.”
Ela estava em pé num movimento. E depois ela tinha saído, desaparecendo entre a neve.
Ela não olhou para trás. Minha rejeição a deixou mais incomodada do que ela já tinha
ficado antes, até em seus pensamentos. Ela não queria me ver antes de partir.
Meus lábios se contorceram com desapontamento. Eu não gostava de machucar a Tanya,
apesar de seus sentimentos não serem tão profundos e dificilmente puros. De todos os
modos não era algo que eu poderia corresponder. E eu continuava me sentido menos
gentil.
Eu coloquei meu queixo no meu joelho e olhei para as estrelas novamente mesmo estando
de repente ansioso para voltar ao meu caminho. Eu sabia que Alice me veria voltando para
casa e contaria aos outros. Isso os faria feliz - principalmente Carlisle e Esme. Mas eu
admirei as estrelas mais uma vez e tentando ver passado na minha cabeça. Entre eu e o as
luzes brilhantes no céu um par de olhos castanhos confusos voltando para mim, me
fazendo perguntar o que essa decisão significaria para ela.
É claro, eu não poderia ter certeza que era isso que seus olhos curiosos procuravam. Nem
na minha imaginação eu conseguia ouvir seus pensamentos. Os olhos de Bella Swan
continuavam questionando e uma não obstruída visão das estrelas continuou a me invadir.
Com um leve suspiro, eu desisti. Se eu corresse, eu estaria de volta ao carro do Carlisle em
menos de uma hora.
Numa pressa para ver minha família - e para voltar a ser aquele Edward que enfrenta as
coisas - eu destruí o iluminado de neves não deixando marcas de pés.
“Tudo ficará bem” - Alice encorajou. Seus olhos estavam sem foco e o Jasper tinha uma
mão sob seu cotovelo, a guiando enquanto entrávamos na cafeteria num grupo fechado.
Rosalie e Emmett tamparam o caminho, Emmett ridículo como um guarda costas no meio
do território inimigo. Rose parecia preocupada também porém bem mais irritada do que
protetora.
“Claro que ficará.” - eu grunhi. O comportamento deles era burlesco. Se eu não tivesse
certeza de que agüentaria esse momento, eu teria ficado em casa.
A repentina mudança para o nosso normal mesmo na lúdica manhã - havia nevado ontem
à noite e Emmett e Jasper tirando vantagem da minha distração para me bombardear com
bolas de neve; quando eles se cansaram da minha falta de resposta eles se viraram um
para o outro - esse excesso de vigilância teria sido cômica se não fosse tão irritante.
“Ela não está aqui ainda, mas ela virá. Ela não desconfiará se nós sentarmos no lugar de
sempre.”
“Claro que nós vamos sentar no lugar de sempre! Pare com isso Alice. Você está me dando
nos nervos. Eu ficarei absolutamente bem.”
Ela piscou seus olhos uma vez enquanto o Jasper a ajudava a se sentar e seus olhos
finalmente se focaram em minha face.
“Hmm…” ela disse, parecia surpresa. “Acho que você está certo”
“Claro que eu estou!” eu murmurei.
Eu odiava estar no foco da preocupação deles. Eu senti uma certa solidariedade por Jasper
lembrando-me das inúmeras vezes que nós o superprotegemos. Ele percebeu de relance
meus sentimentos e sorriu.
Irritante, não é?
Eu consenti para ele.
Foi apenas semana passada que esse grande e pardo aposento parecia mortalmente
depressivo para mim?
Pareceria quase como um sonho, um coma estar aqui?
Hoje meus nervos estavam firmes - conexões de pianos, intensamente tocados a leves
pressões. Meus sentidos estavam hiper alertas, eu vistoriei cada som, cada suspiro, cada
movimento do ar que tocaram minha pele, cada pensamento. Especialmente os
pensamentos. Só havia um sentindo que eu me recusei a usar. Olfato, é claro.
Eu não respirei.
Eu estava esperando escutar mais sobre os Cullen nos pensamentos do que realmente
aconteceu. Todo o dia eu estive esperando, procurando por cada novo pensamento sobre
Bella Swan ter confessado, tentando ver que direção a nova fofoca que seguiria. Mas não
tinha nada. Ninguém notou que havia 5 vampiros no refeitório, exatamente como antes da
nova garota entrar. Muitos humanos aqui ainda estavam pensando sobre aquela garota, os
mesmos pensamentos da semana passada. Em vez de estar inalteravelmente entediado,
eu estava fascinado.
Ela não tinha falado nada para ninguém sobre mim?
Não tinha nenhuma chance de que ela não tivesse percebido meu obscuro, assassino
brilho. Eu a vi reagir a isso. Óbvio, eu assustei aquela tola. Eu estava convencido de que
ela havia mencionado isso para alguém, talvez até tivesse exagerado na história um pouco
para fazê-la melhor. Atribuindo-me alguns traços ameaçadores.
E então, ela também me ouvindo tentando cancelar nossas aulas compartilhadas de
biologia. Ela deve ter imaginado, depois de ver a minha expressão, se ela tinha sido a
causa. Uma garota normal teria perguntado por aí, comparado a sua experiência com os
outros, procurado por algum terreno em comum que pudesse explicar o meu
comportamento e então ela não se sentiria sozinha. Humanos estão constantemente
desesperados por se sentirem normal, por se encaixarem. Para se misturar com os outros
ao seu redor, como mais uma ovelha sem graça no rebanho. Essa necessidade era
particularmente forte durante os inseguros anos da adolescência. Essa garota não devia
ser uma exceção à regra.
Mas ninguém tinha dado atenção a nós sentados aqui, em nossa mesa normal. Bella devia
estar excepcionalmente tímida, se ela tinha confidenciado com alguém. Talvez ela tenha
falado com o seu pai, talvez esse fosse seu melhor relacionamento… Apesar de isso soar
improvável, dado o fato de que ela havia passado tão pouco tempo com ele durante sua
vida. Ela devia ser mais próxima de sua mãe. Mesmo assim, eu devia passar pelo Chefe
Swan alguma hora e ouvir o que ele estava pensando.
“Algo novo?” Jasper perguntou.
“Nada. Ela… não deve ter dito nada.”
Todos ergueram uma sobrancelha com as novidades.
“Talvez você não seja tão assustador quanto você acha que é.” Emmett disse, rindo. “Eu
aposto que eu a teria apavorado mais do que ISSO.”
Eu rolei meus olhos até ele.
“Imaginando o porquê…?” ele se surpreendeu com a minha revelação sobre o silêncio
único da garota.
“Nós já passamos por isso. Eu não SEI.”
“Ela está vindo,” Alice murmurou então. Eu senti meu corpo ficar rígido. “Tente parece
humano.”
“Humano, você diz?” Emmet perguntou.
Ele levantou seu punho direito, girando os dedos para revelar a bola de neve que tinha
guardado em sua palma. É claro que ela não havia derretido ali. Ele a apertou em um
grumoso bloco de gelo. Ele tinha os olhos em Jasper, mas eu vi a direção de seus
pensamento. Alice também, claro. Quando ele abruptamente lançou o pedaço de gelo nela,
ela o jogou longe com um leve balançar de seus dedos. O gelo ricocheteou através do
corredor da cafeteria; muito rápido para os olhos humanos, e se fragmentou com um
agudo barulho na parede de tijolo. O tijolo quebrou também.
As cabeças na esquina da cafeteria todas se viraram para olhar para a pilha de gelo no
chão, e se viraram para procurar sua origem. Não olharam para muitas mesas ao longe.
Ninguém olhou para nós.
“Muito humano, Emmett,” Rosalie disse de maneira fulminante. “Por que você não soca a
parede enquanto estiver perto?”
“Seria mais impressionante se você fizesse isso, baby.”
Eu tentei prestar atenção neles, mantendo um sorriso fixo no meu rosto como se eu
estivesse fazendo parte da brincadeira. Eu não me permiti olhar em direção aonde ela
estava em pé. Mas isso foi tudo que eu escutei também.
Eu pude ouvir a impaciência de Jessica com a garota nova, que parecia estar distraída,
também, permanecendo imóvel na fila em movimento. Eu vi, nos pensamentos de Jessica,
que as bochechas de Bella Swan ficaram mais uma vez rosas com o sangue.
Eu respirei curta e rapidamente, pronto para parar de respirar se qualquer traço de seu
odor tocasse o ar ao meu redor.
Mike Newton estava com as duas garotas. Eu ouvia as duas vozes, mental e verbal,
quando ele perguntou o que havia de errado com a garota Swan. Eu não gostava do modo
com os seus pensamentos estavam envolvidos nela, um brilho de suas fantasias já
construídas encobriram sua mente enquanto ele a observava ficar surpresa e olhar para
cima como se ela tivesse esquecido que ele estivesse ali.
“Nada,” eu ouvi Bella dizer em uma voz baixa e clara. Parecia soar com um sino sobre
todos os murmúrios da cafeteria, mas eu sabia que isso era somente porque eu estava
escutando de forma tão intensa.
“Eu vou tomar só um refrigerante hoje,” ela continuou enquanto ela se movia para seguir
com a fila.
Eu não consegui evitar olhar de relance em sua direção. Ela estava olhando para o chão, o
sangue lentamente se esvaindo de seu rosto. Eu olhei para longe rapidamente, para
Emmet, que riu agora de um sorriso aflito em meu rosto.
Você parece doente, mano.
Eu re-arranjei minhas feições para parecer mais casual e natural.
Jessica estava imaginando sobre a falta de apetite da garota. “Você não está com fome?”
“Na verdade, eu me sinto um pouco doente.” Sua voz soou mais baixa, mas ainda assim,
perfeitamente clara.
Por que isso me incomodava, uma preocupação protetora que repentinamente surgiu dos
pensamentos do Newton? O que importava que houvesse um timbre possessivo neles? Não
era exatamente da minha conta se Mike Newton se sentia desnecessariamente ansioso por
ela. Talvez esse fosse o modo que todos correspondiam à ela. Eu não queria,
instintivamente, protegê-la, também?
Antes que eu quisesse matá-la, isto é…
Mas aquela garota estava doente?
Era difícil de julgar - ela parecia tão delicada com aquela pele translúcida… então eu
percebi que eu estava me preocupando, também, assim como aquele garoto estúpido, e eu
forcei a mim mesmo não pensar sobre a saúde dela.
Sem levar em consideração que eu não gostava de monitorá-la pelos pensamentos de
Mike. Troquei para Jessica, olhando cuidadosamente enquanto eles três escolhiam uma
mesa para sentar. Felizmente, eles sentaram-se com as companhias usuais de Jessica, uma
das primeiras mesas do lugar. Não na direção do vento, assim como Alice havia prometido.
Alice me acotovelou. Ela vai olhar para cá, aja como humano.
Eu trinquei meus dentes por detrás de meu sorriso.
“Se acalme, Edward,” Emmet disse. “Honestamente. Então você matou um humano. Isso é
dificilmente o fim do mundo”.
“Você deve saber.” eu murmurei.
Emmet riu. “Você tem que aprender a fazer outras coisas. Como eu faço. Eternidade é
muito tempo para ficar rolando na culpa.”
E então, Alice lançou uma pequena mão cheia de gelo que ela havia ocultado na confiante
cara de Emmet.
Ele piscou, surpreso, e então sorriu em antecipação.
“Você pediu por isso,” ele disse, enquanto ele se inclinava sobre a mesa e sacudia seu
cabelo coberto de gelo em sua direção. A neve, derretendo no cômodo quente, lançou-se
de seu cabelo em um denso banho metade líquido, metade gelo.
“Eca!” Rose reclamou, enquanto ela e Alice recuavam da inundação.
Alice riu e todos nós a acompanhamos. Eu podia ver na mente de Alice como ela havia
orquestrado esse momento perfeito e eu sabia que aquela garota - eu tinha que parar de
pensar nela dessa maneira, como se ela fosse a única garota do mundo - Bella devia estar
nos olhando rindo e brincando, parecendo felizes e humanos e de forma tão irreal como
uma pintura de Norman Rockwell.
Alice continuou rindo, e segurando a sua bandeja como um escudo. Aquela garota - Bella
devia estar nos encarando.
… encarando os Cullens de novo, alguém pensou, prendendo a minha atenção.
Eu olhei automaticamente em direção ao chamado não intencional, percebendo enquanto
meus olhos encontravam a sua origem, que eu havia reconhecido a voz - eu a havia ouvido
muito hoje.
Mas meus olhos passaram direto por Jessica e se focaram na observação penetrante da
garota.
O que ela estava pensando? A frustração parecia aumentar enquanto o tempo passava, ao
invés de diminuir. Eu tentei - de forma incerta no que eu estava fazendo já que eu nunca
havia tentado isso antes - sondar com a minha mente o silêncio ao redor dela. Minha
audição extra vinha naturalmente para mim, sem pedir; eu nunca tive que forçá-la. Mas
agora eu estava concentrado, tentando passar por qualquer escudo ao redor dela.
Nada além de silêncio.
O que ela tem? Jessica pensou, ecoando minha própria frustração.
“Edward Cullen está te encarando,” ela sussurrou no ouvido da garota Swan, com um
sorriso falso. Não houve nenhuma insinuação de sua irritação invejosa no seu tom. Jessica
pareceu ser experiente no fingimento de amizade.
Eu escutei, muito claramente, à resposta da garota.
“Ele não parece irritado, parece?” ela sussurrou de volta.
Então ela havia notado a minha reação selvagem semana passada. É claro que ela havia.
A pergunta pareceu confundir Jessica. Eu vi a minha própria face em seus pensamentos
enquanto ela checava a minha expressão, mas eu não encontrei com seu olhar. Eu ainda
estava concentrado na garota, tentando ouvir alguma coisa. O meu foco intencional não
parecia estar ajudando em nada.
“Não,” Jess disse a ela, e eu sabia que ela desejava poder dizer que sim - como isso a
envenenou por dentro, meu olhar - apesar de ela não demonstrar de forma alguma em sua
voz: “Ele devia estar?”
“Eu não acho que ele goste de mim,” a garota sussurrou de volta, deitando a sua cabeça
em seu braço como se ela estivesse subitamente cansada. Eu tentei entender seu
movimento, mas eu só pude fazer suposições. Talvez ela estivesse cansada.
“Os Cullens não gostam de ninguém,” Jess assegurou a ela: “Bem, eles nem se quer
percebem alguém o suficiente para gostar deles.” Eles nunca notaram. O seu pensamento
foi um rosnado de reclamação. “Mas ele ainda está te encarando.”
“Pare de olhar para ele,” a garota disse ansiosamente, erguendo a sua cabeça para ter
certeza que a Jessica a obedeceu.
Jessica sorriu, mas fez o que ela pediu.
A garota não tirou os olhos de sua mesa pelo resto do tempo. Eu pensei - imaginei, é claro,
eu não podia ter certeza - que isso foi intencional. Parecia que ela queria olhar para mim.
O seu corpo se deslocaria ligeiramente na minha direção, o seu queixo começava a virar, e
então ela se repreendia, respirava fundo e olhava fixamente para qualquer pessoa que
estava falando.
Eu ignorei a maior parte dos outros pensamentos ao redor da garota, como eles não eram,
momentaneamente, sobre ela. Mike Newton estava planejando uma guerra de neve no
estacionamento depois da escola, sem parecer perceber que a neve já tinha mudado para
chuva. A agitação dos leves flocos contra o teto já tinha se tornado o padrão comum de
gotas de água. Ele realmente não conseguia ouvir a mudança? Parecia alta para mim.
Quando a hora do almoço terminou, eu continuei no meu lugar. Os humanos iam saindo, e
eu me peguei tentando distinguir o som dos passos dela do som do resto, como se
houvesse algo importante ou incomum neles. Que estupidez.
Minha família também não se mexeu para ir embora. Eles esperaram para ver o que eu iria
fazer.
Eu iria para a classe, sentar ao lado da garota onde eu podia sentir a fragrância
absurdamente potente de seu sangue e sentir o calor de sua pulsação do ar na minha
pele? Eu era forte o suficiente para isso? Ou já tinha tido o suficiente para um dia?
- Eu… acho que está tudo bem. - Alice disse, hesitante. - Sua mente está segura. Eu acho
que você conseguira agüentar por uma hora.
Mas Alice sabia muito bem a rapidez que uma mente podia mudar.
- Por que arriscar, Edward? - Jasper perguntou. Embora ele não quisesse se sentir
presunçoso que eu fosse o fraco agora, eu podia escutar que ele se sentia, só um pouco. -
Vá para casa. Vá com calma.
- Qual é o problema? - Emmett discordou. - Ou ele vai ou não vai matá-la. Melhor acabar
com isso de uma vez, de um jeito ou do outro.
- Eu não quero me mudar ainda. - Rosalie reclamou. - Eu não quero recomeçar. Estamos
quase fora do colegial, Emmett. Finalmente.
Eu estava igualmente despedaçado com esta decisão. Eu queria, queria muito, encarar isso
de cabeça do que fugir para longe outra vez. Mas eu também não queria me arriscar
muito, também. Havia sido um erro semana passada para Jasper ficar tanto tempo sem
caçar; isso era um erro sem propósito também?
Não queria desarraigar minha família. Nenhum deles me agradeceria por isso.
Mas eu queria ir para a minha aula de biologia. Percebi que queria ver o rosto dela
novamente.
Foi isso o que decidiu por mim. Essa curiosidade. Estava irritado comigo mesmo por sentir
isso. Não tinha prometido que não iria deixar o silêncio da mente da garota me deixar
desnecessariamente interessado nela? E mesmo assim, aqui estava eu, ainda mais
desnecessariamente interessado.
Eu queria saber o que ela estava pensando. A mente dela era fechada mas seus olhos
eram muito abertos. Talvez eu pudesse ver por eles.
- Não, Rose, eu acho que vai ficar tudo bem. - Alice disse. - Está… se firmando. Eu tenho
noventa e três por cento de certeza de que nada de ruim vai acontecer se ele for para a
classe. - Ela me olhou curiosamente, se perguntando o que havia mudado em meus
pensamentos que fez sua visão do futuro mais segura.
Curiosidade seria o suficiente para manter Bella Swan viva?
Emmett tinha razão - por que não acabar com isso, de um jeito ou de outro? Eu iria
enfrentar a tentação de cabeça.
- Vão para suas classes. - Eu ordenei, me afastando da mesa. Eu me virei e andei para
longe deles sem olhar para trás. Eu podia ouvir a preocupação de Alice, a censura de
Jasper, a aprovação de Emmett e a irritação de Rosalie se arrastando às minhas costas.
Eu respirei fundo mais uma vez na porta da sala de aula, e segurei o ar em meus pulmões
enquanto entrava no espaço pequeno e quente.
Não estava atrasado. O Sr. Banner ainda estava se arrumando para a experiência de
laboratório de hoje. A garota sentou na minha - na nossa mesa, seu rosto para baixo de
novo, encarando o caderno em que desenhava. Eu examinei os rabiscos quando me
aproximei, interessado até mesmo nessa criação banal da sua mente, mas eram coisas
sem sentido. Só fazendo ondas e mais ondas. Talvez ela não estivesse se concentrando no
padrão, mas pensando em outra coisa?
Eu puxei minha cadeira com um barulho desnecessário, deixando raspar no chão de
linóleo; humanos sempre se sentiam mais confortáveis quando algum barulho anunciava a
aproximação de alguma outra pessoa.
Eu sabia que ela tinha escutado o som; ela não olhou para cima, mas a sua mão errou
uma onda no formato que ela estava fazendo, deixando-o desbalanceado.
Por que ela não olhou para cima? Provavelmente ela estava assustada. Eu tinha que ter
certeza de deixá-la com uma impressão diferente desta vez. Fazê-la pensar que havia
imaginado coisas antes.
- Olá. - eu disse na voz calma que usava quando queria deixar humanos mais confortáveis,
formando um sorriso educado com meus lábios que não mostraria nenhum dente.
Ela olhou para cima então, seus atentos olhos castanhos assustados - quase
desconcertados - e cheios de perguntas silenciosas. Era a mesma expressão que tinha
obstruído minha visão pela ultima semana.
Enquanto eu encarava aqueles olhos castanhos estranhamente intensos, eu percebi que o
ódio - o ódio que eu tinha imaginado que esta menina merecia por simplesmente existir -
havia evaporado. Sem respirar agora, sem sentir seu cheiro, era difícil de acreditar que
alguém tão vulnerável pudesse justificar ódio.
As bochechas dela começaram a corar e ela não disse nada.
Eu mantive meus olhos nos dela, me concentrando só em suas profundezas
questionadoras, e tentando ignorar a cor apetitosa. Eu tinha fôlego suficiente para falar
mais um pouco sem inalar.
- Meu nome é Edward Cullen. - eu disse, embora soubesse que ela sabia disso. Era o jeito
educado de começar. - Não tive a oportunidade de me apresentar na semana passada.
Você deve ser Bella Swan.
Ela pareceu confusa - havia uma pequena ruga entre seus olhos novamente. Ela levou
meio segundo a mais do que deveria para responder.
- Como você sabe meu nome? - ela perguntou, e sua voz tremeu um pouco.
Eu devia tê-la realmente assustado. Isso me fez sentir culpado; ela era tão indefesa. Eu ri
gentilmente - era um som que eu sabia que deixava humanos mais à vontade. Novamente,
fui cuidadoso com meus dentes.
- Ah, eu acho que todo mundo sabe seu nome. - Certamente ela devia ter percebido que
ela tinha se tornado o centro das atenções nesse lugar monótono. - A cidade toda estava
esperando você chegar.
Ela fez uma careta como se essa informação fosse desagradável. Eu achei que, sendo
tímida como ela parecia ser, atenção iria parecer uma coisa ruim para ela. A maioria dos
humanos sentia o oposto. Embora eles não quisessem se destacar em uma multidão, ao
mesmo tempo eles desejavam um holofote por suas uniformidades individuais.
- Não. - ela disse. - Quer dizer, por que me chamou de Bella?
- Prefere Isabella? - eu perguntei, perplexo pelo fato de que não podia ver para onde a sua
pergunta estava levando. Eu não entendi. Com certeza, ela deixou sua preferência clara
muitas vezes naquele primeiro dia. Todos os humanos eram incompreensíveis assim sem
um contexto mental como guia?
- Não, gosto de Bella. - ela respondeu, inclinando a cabeça levemente para um lado. Sua
expressão - se eu estivesse lendo corretamente - estava dividida entre vergonha e
confusão. - Mas eu acho que Charlie… quer dizer, meu pai, deve me chamar de Isabella
nas minhas costas. É como todo mundo aqui parece me conhecer.- Sua pele ficou um tom
de rosa mais escuro.
- Ah. - eu disse indevidamente, e rapidamente desviei meus olhos de seu rosto.
Eu tinha acabado de entender o que as perguntas dela queria dizer: eu tinha escorregado -
cometido um erro. Se eu não tivesse escutando as conversar dos outros naquele primeiro
dia, então eu teria chamado inicialmente pelo nome inteiro, como todos os outros. Ela
tinha notado a diferença.
Eu senti uma dor de desconforto, foi muito rápido para ela perceber meu erro. Bem astuta,
especialmente para alguém que deveria estar aterrorizada pela minha proximidade.
Mais se tinha problemas maiores do que qualquer suspeita sobre mim ela estava trancando
dentro de sua cabeça.
Eu estava sem ar. Se eu fosse falar com ela de novo, eu teria que respirar.
Seria difícil evitar falar. Infelizmente para ela, compartilhar esta mesa a tornava minha
parceira de laboratório, e nós teríamos que trabalhar juntos hoje. Seria estranho - e
incompreensivelmente rude - eu ignorá-la enquanto nós fazíamos a experiência. Iria deixála
mais suspeita, com mais medo…
Eu me inclinei para o mais longe que eu podia dela sem mexer minha cadeira, virando
minha cabeça para o corredor. Firmei-me, travando meus músculos no lugar, e então
suguei um pulmão inteiro de ar rapidamente, respirando por minha boca.
Ahh!
Era genuinamente doloroso. Mesmo sem sentir o cheiro dela, ou podia sentir o gosto dela
em minha língua. Minha garganta de repente estava em chamas outra vez, a necessidade
tão forte como a daquele primeiro momento em que eu senti o cheiro dela.
Juntei meus dentes e tentei me recompor.
- Podem começar. - O Sr. Banner comandou.
Pareceu que tomou cada pequena partícula do auto-controle que eu tinha acumulado em
setenta anos de trabalho árduo para virar minha cabeça para a garota, que estava olhando
para a mesa, e sorrir.
- Primeiro as damas, parceira? - eu ofereci.
Ela olhou para minha expressão e seu rosto ficou vazio, os olhos arregalados. Havia algo
de errado com a minha expressão? Ela estava assustada novamente? Ela não falou.
- Ou eu posso começar, se preferir. - eu disse calmamente.
- Não. - ela disse, e seu rosto passou de branco para vermelho outra vez. - Eu começo.
Eu encarei o equipamento na mesa, o microscópio arranhado, a caixa de slides, ao invés
de ver o sangue correr por baixo da pele clara. Respirei de novo depressa, por meus
dentes, e recuei quando o gosto fez minha garganta arder.
- Prófase. - ela disse depois de um rápido exame. Ela começou a remover o slide, embora
ela mal o tinha visto.
- Importa-se se eu olhar? - Instintivamente - estupidamente, como se eu fosse da espécie
dela - eu estendi para parar a mão que removia o slide. Por um segundo, o calor de sua
pele queimou a minha. Foi como uma corrente elétrica - certamente muito mais quente do
que meros 37 graus. O tiro de calor passou pela minha mão e correu pelo meu braço. Ela
puxou rapidamente a sua mão debaixo da minha.
“Desculpe-me,” eu murmurei por dentre meus dentes trincados. Precisando de algum lugar
para olhar, eu segurei o microscópio e olhei brevemente pelo buraco. Ela estava certa.
“Prófase,” eu concordei.
Eu ainda estava demasiadamente perturbado para olhá-la. Respirando tão calmamente
quanto eu podia por dentre meus dentes cerrados e tentando ignorar a sede furiosa, eu
tentava me concentrar naquela simples tarefa, escrevendo a palavra no espaço adequado
na lâmina do laboratório, e então trocando o primeiro slide pelo próximo.
O que ela estava pensando agora? Como será que ela se sentiu, quando eu toquei a sua
mão? Minha pele deve ter parecido gelo - repulsivo. Não me admirava que estivesse tão
quieta.
Eu dei uma olhada no slide.
“Anáfase.” eu disse para mim mesmo enquanto eu escrevia na segunda linha.
“Posso?” ela perguntou.
Eu olhei para cima, para ela, surpreso ao ver que ela estava esperando, na expectativa,
uma mão metade estendida em direção ao microscópio. Ela não parecia estar com medo.
Ela realmente pensava que eu tinha errado na resposta?
Eu não me segurei e sorri com o seu olhar esperançoso no rosto enquanto eu passava o
microscópio para ela.
Ela encarou no microscópio com uma vontade que logo desapareceu. Os cantos de sua
boca rapidamente desceram.
“Slide 3?” Ela perguntou, sem olhar pra cima do microscópio, mas com sua mão estendida.
Eu coloquei o próximo slide na mão dela, sem deixar minha pele chegar perto da dela
dessa vez. Sentar do lado dela era como sentar do lado de uma lâmpada. Eu podia sentir
conforme eu esquentava aos poucos com a temperatura mais alta.
Ela não olhou para o slide por muito tempo. “Interfase” ela disse de forma casual - talvez
tentando com muita vontade - e empurrou o microscópio na minha direção. Ela não
encostou no papel, mas esperou que eu escrevesse a resposta. Eu chequei - ela estava
certa de novo.
Nós terminamos dessa forma, falando uma palavra por vez nunca nos olhando nos olhos.
Nós éramos os únicos que haviam acabado - os outros na aula estavam tendo mais
dificuldade com o laboratório. Mike Newton parecia estar tendo problemas se concentrando
- ele estava tentando observar Bella e eu.
“Queria que ele tivesse ficado onde ele foi” Mike pensou, me olhando com raiva. Hmm,
interessante. Eu não tinha notado que o garoto tinha mantido algum sentimento negativo
sobre mim. Isso era um novo acontecimento, tão recente quanto à chegada da nova
garota. Ainda mais interessante, eu pensei - para minha própria surpresa - que o
sentimento era mútuo.
Eu olhei pra baixo para a garota de novo, perplexo pelo tamanho da devastação e violência
que, apesar de comum; sem ameaças aparente, ela estava causando em minha vida.
Não era como se eu não pudesse ver o que Mike estava pensando. Ela na verdade estava
bonita…de uma forma diferente. Melhor do que estando bonita, seu rosto estava
interessante. Não tão simétrico - seu queixo mais pontudo fora de sincronia com as maçãs
do rosto largas; fortemente ruborizadas. - o claro e escuro contraste da sua pele e seu
cabelo; e então os olhos. Brilhando sobre silenciosos segredos.
Olhos que de repente estavam perdidos nos meus.
Eu a encarei de volta, tentando descobrir pelo menos um de seus segredos.
“Você está usando lentes?” ela perguntou de repente.
Que pergunta estranha. “Não” Eu quase sorri com a idéia de tentar melhorar minha visão.
“Ah” ela murmurou. “Eu achei que tinha algo diferente nos seus olhos.”
Eu me senti gelado de novo conforme eu notei que aparentemente eu não era o único
tentando descobrir segredos hoje.
É claro que tinha algo diferente nos meus olhos desde a última vez que ela tinha olhado
neles. Para me preparar para hoje, a tentação de hoje, eu passei o fim de semana inteiro
caçando, matando minha sede o máximo possível, mais do que o necessário. Eu me
afoguei no sangue de animais, não que fizesse muita diferença na frente do absurdo sabor
flutuando ao redor do ar perto dela. Quando eu olhei para ela por fim, meus olhos tinham
estado pretos pela sede. Agora, meu corpo nadando em sangue, meu olhos estavam com
uma cor dourada. Castanho-claro, âmbar pelo meu excesso de alimento.
Outro lapso. Se eu tivesse notado o que ela quis dizer com a pergunta, poderia somente
ter dito que eram lentes.
Eu sentei ao lado de humanos por quase dois anos nessa escola, ela foi a primeira a tentar
me examinar perto o suficiente para notar a diferença de cor nos meus olhos. Os outros,
enquanto admiravam a beleza da minha família, tinham a tendência de olhar para baixo
rapidamente quando nós olhávamos de volta. Eles sempre se protegiam, bloqueando
detalhes das nossas aparências como uma tentativa forte e instintiva de nos entender.
Ignorância era uma dádiva para a mente humana.
Por que tinha que ser essa garota que via tanto?
Sr. Banner se aproximou da nossa mesa. Eu agradecido inalei o ar puro que ele trouxe
consigo antes que pudesse misturar com o cheiro dela.
“Então, Edward,” ele disse olhando nossas respostas, “você não acha que Isabella deveria
ter uma chance com o microscópio?”
“Bella” Eu corrigi ele por puro reflexo. “Na verdade ela identificou três de cinco.”
Os pensamentos de Mr.Banner eram céticos enquanto ele se virava para ela. “Você já fez
essa aula antes?”
Eu assisti, envolvido, quando ela sorriu, parecendo um pouco envergonhada.
“Não com raiz de cebola.”
“Ovas de peixe?” ele perguntou.
“Sim.”
Isso o surpreendeu. A aula de hoje foi algo que ele pegou de um curso mais avançado. Ele
assentiu de maneira pensante. “Você estava em um programa avançado em Phoenix?”
“Sim.”
Ela era avançada, então, inteligente para uma humana. Isso não me surpreendeu.
“Bem,” o Sr.Banner disse, franzindo o lábio. “Eu suponho que é bom que vocês dois sejam
parceiros então.” Ele virou e foi embora murmurando “Para que os outros possam ter uma
chance te aprender algo por eles mesmos.”. Eu duvido que a garota possa ouvir isso. Ela
voltou a desenhar círculos ao redor da sua pasta.
Dois lapsos em meia hora. Uma demonstração insatisfatória da minha parte. Apesar de que
eu não tinha nenhuma idéia do que a garota pensava de mim - quando ela tinha medo,
quando ela suspeitava?
Suspeitava? - eu sabia que precisaria me esforçar mais daqui para frente para fazê-la
mudar sua opinião sobre mim. Alguma coisa para fazê-la esquecer-se do nosso ameaçador
último encontro.
“É ruim essa neve toda, não é?” Eu disse repetindo o assunto que vários outros alunos já
haviam discutido. Um tópico habitual e entediante. O tempo - sempre seguro.
Ela olhou para mim, a dúvida óbvia em seu olhar - uma reação anormal para minhas
palavras muito normais.
Eu tentei direcionar a conversa de volta a um caminho mais comum. Ela era de um lugar
muito mais claro, mais quente - sua pele parecia refletir isso de alguma maneira, apesar de
sua palidez - e o frio devia fazê-la se sentir desconfortável. Meu toque gelado com certeza
tinha…
“Você não gosta do frio,” eu adivinhei.
“E do molhado,” ela assentiu.
“Forks deve ser um lugar difícil para você viver.” Talvez você não devesse ter vindo para
cá, eu quis acrescentar. Talvez você devesse voltar ao lugar de onde veio.
Porém, eu não tinha certeza se era isso que eu queria. Eu sempre me lembraria do cheiro
de seu sangue - existia ao menos alguma garantia de que eu não a seguiria? Além disso,
se ela fosse embora, sua mente sempre seria um mistério. Um constante e insistente
quebra-cabeças.
“Você não faz idéia,” ela disse em voz baixa e me senti carrancudo por um momento.
Suas respostas nunca eram o que eu esperava que fossem. Isso me fez querer fazer mais
perguntas.
“Por que você veio para cá, então?” eu reclamei, percebendo que meu tom de voz era
muito acusatório, não era casual o bastante para a conversa. A pergunta pareceu rude,
intrometida.
“É… complicado.”
Ela piscou seus grandes olhos, não dando maiores informações, e eu quase explodi de
curiosidade - a curiosidade queimou tão forte quanto à sede em minha garganta. Na
realidade, estava ficando um pouco mais fácil respirar; a agonia estava ficando mais
tolerável enquanto eu me familirializava.
“Eu acho que posso agüentar,” eu insisti. Talvez a cortesia comum a fizesse continuar
respondendo minhas perguntas tanto quanto eu era rude o suficiente para perguntá-las.
Ela encarou silenciosamente suas mãos. Isso me deixou impaciente; eu queria colocar
minha mão embaixo de seu queixo e levantar sua cabeça para que eu pudesse ler seus
olhos. Mas fazer isso seria tolice de minha parte - perigoso - tocar sua pele novamente.
Ela levantou os olhos subitamente. Era um alívio poder ver as emoções em seus olhos
novamente. Ela falou apressadamente, correndo pelas palavras.
“Minha mãe casou-se novamente.”
Ah, isso era humano suficiente, fácil de entender. A tristeza passou por seus olhos claros e
ela enrugou de novo a testa.
“Não parece tão complicado,” eu disse. Minha voz soou gentil sem que eu me esforçasse
para isso. Sua tristeza me fez sentir estranhamente impotente, desejando que houvesse
algo ao meu alcance para fazê-la sentir-se melhor.
Um estranho impulso. “Quando isso aconteceu?”
“Setembro passado.” Ela expirou pesadamente - nada mais que um suspiro. Eu segurei
minha respiração e sua respiração quente varreu meu rosto.
“E você não gosta dele,” eu supus, pescando maiores informações.
“Não, o Phil é legal,” ela disse, corrigindo suposição. Havia a ponta de um sorriso agora
nos cantos de seus lábios cheios. “Muito jovem, talvez, mas legal o suficiente.”
Isso não se encaixava com a cena que eu havia construído em minha cabeça.
“Por que você não fica com eles?” eu perguntei, minha voz um pouco curiosa demais.
Parecia que eu estava sendo bisbilhoteiro. E eu estava sendo, eu admito.
“Phil viaja muito. Ele joga bola.” O pequeno sorriso cresceu; essa escolha de carreira a
divertia.
Eu sorri, também, sem escolher fazê-lo. Eu não estava tentando fazê-la sentir-se à
vontade. Seu sorriso apenas me fez querer sorrir de volta - fazer parte do segredo.
“Eu já ouvi falar dele?” eu passei o rosto dos jogadores de baseball em minha cabeça, me
perguntando qual deles era Phil…
“Provavelmente não. Ele não joga bem.” Outro sorriso. “Só na menor liga. Ele se muda
muito.”
Os rostos em minha mente desapareceram instantaneamente e eu fiz uma lista de
possibilidades em menos de um segundo. Ao mesmo tempo, eu estava imaginando uma
nova cena.
“E sua mãe te mandou pra cá pra poder viajar com ele,” eu disse. Fazer suposições parecia
funcionar mais com ela do que fazer perguntas. Funcionou de novo. Seu queixo ficou
proeminente e sua expressão de repente ficou dura.
“Não, ela não me mandou pra cá,” ela disse, e sua voz tinha novo tom, duro e irritado.
Minha suposição a havia deixado triste, embora eu não pudesse entender o por que. “Eu
mandei a mim mesma.”
Eu não consegui entender seu motivo, ou a razão por detrás de sua tristeza. Eu estava
completamente perdido.
Então eu desisti. Essa garota simplesmente não fazia sentido algum. Ela não era como os
outros humanos. Talvez o silêncio em seus pensamentos e o perfume em seu cheiro não
fossem as únicas coisas incomuns nela.
“Eu não entendo,” eu admiti, odiando ceder.
Ela suspirou, e olhou nos meus olhos por mais tempo do que a maioria dos humanos
normais seriam capazes de suportar.
“No início ela ficou comigo, mas ela sentia a falta dele,” ela explicou devagar, seu tom
ficando mais desesperado a cada palavra. “Eu a fiz infeliz, então eu decidi que estava na
hora de passar um tempo de qualidade com Charlie.”
A mínima ruga entre seus olhos se intensificou.
“Mas agora você está triste,” eu murmurei. Eu não conseguia parar de falar minhas
hipóteses em voz alta, desejando aprender com suas reações. Esta, porem, não parecia tão
diferente do normal.
“E?” ela disse, como se esse não fosse um aspecto que merecesse ser considerado.
Eu continuei olhando em seus olhos, sentindo que finalmente eu havia conseguido uma
olhadela dentro de sua alma. Eu vi naquela única palavra onde ela havia posicionado ela
mesma em sua lista de prioridades. Diferente dos outros humanos, suas próprias
necessidades estavam bem abaixo na lista.
Ela era altruísta.
Quando notei isso, o mistério naquela pessoa se escondendo nessa mente silenciosa
começou a desaparecer.
“Isso não parece justo,” eu disse. Eu encolhi meus ombros, tentando parecer casual,
tentando omitir a intensidade de minha curiosidade.
Ela riu, mas não havia diversão no som. “Ninguém nunca disse a você? A vida não é justa.”
Eu queria rir com suas palavras embora eu, também, não tivesse me divertido. Eu sabia
um pouco sobre a injustiça da vida. “Eu acredito que tenha ouvido isso em algum lugar
antes.”
Ela olhou de volta para mim, parecendo confusa de novo. Ela desviou os olhos e depois
olhou de novo nos meus.
“Então, isso é tudo,” ela me disse.
Mas eu não estava preparado para finalizar esta conversa. O pequeno “V” entre seus olhos,
um resto de seu pesar, me perturbava. Eu queria arrancá-la com a ponta do meu dedo,
mas obviamente eu não podia tocá-la. Isso não era seguro de varias formas.
“Você faz um belo show,” eu disse devagar, ainda considerando a próxima hipótese. “Mas
eu seria capaz de apostar que você está sofrendo mais do que deixa os outros verem.”
Ela fez uma cara, seus olhos apertados e sua boca se torcendo em um beicinho, e ela
olhou de volta para a frente da sala. Ela não gostou quando eu supus corretamente. Ela
não era o mártir mediano - ela não queria uma platéia para sua dor.
“Eu estou errado?”
Ela recuou um pouco, mas por outro lado fingindo não me ouvir.
Isso me fez sorrir. “Eu pensei que não.”
“Por que isso te interessa?” ela quis saber, ainda olhando para longe.
“Esta é uma pergunta muito boa,” eu admiti, mais para mim mesmo do que para
responder a ela.
Seu discernimento era melhor que o meu - ela estava bem no centro das coisas enquanto
eu me debatia cegamente através das pistas. Os detalhes de sua vida muito humana não
deviam interessar a mim. Era errado para mim me interessar pelo que ela pensava. Para
proteger minha família das suspeitas, pensamentos humanos não eram significantes.
Eu não costumava ser o menos intuitivo em um par. Eu confiei no meu extra “ouvir
demais” - eu obviamente não era tão perceptivo quanto eu achei que fosse.
A garota suspirou e ficou carrancuda encarando a frente da sala. Algo em sua expressão
frustrada era engraçado. A situação em si, toda a conversa era engraçada. Ninguém nunca
esteve tão em perigo por mim quanto esta pequena garota - a qualquer momento eu
poderia, distraído pela minha ridícula absorção em nossa conversa me descontrolar e
atacá-la antes que eu pudesse me segurar - e ela estava irritada porque eu não havia
respondido sua pergunta.
“Eu estou perturbando você?” eu perguntei, rindo do absurdo daquilo tudo.
Ela me deu uma olhadela rapidamente, e depois seus olhos pareceram cair em minha
armadilha.
“Não exatamente” ela me disse. “Eu estou mais perturbada comigo mesma. Minha cara é
tão fácil de ser lida - minha mãe sempre diz que sou o livro aberto dela.”
Ela franziu as sobrancelhas de mau humor.
Eu olhei para ela me divertindo. A razão de ela estar de mau humor era porque ela
pensava que eu vi através dela muito facilmente. Que bizarro. Eu nunca havia me
esforçado tanto para compreender alguém em toda a minha vida - ou existência, quando
vida não era a palavra adequada. Eu não tinha realmente uma vida.
“Pelo contrário,” eu discordei, me sentindo estranhamente… cauteloso, como se houvesse
algum perigo escondido que eu estava falhando em ver. Eu estava subitamente na corda
bamba, a premonição me fazendo ansioso. “Eu acho você muito difícil de ler.”
“Você deve ser um leitor muito bom, então,” ela supôs, fazendo sua própria suposição, que
estava novamente correta.
“Normalmente,” eu concordei.
Eu sorri largamente para ela, deixando meus lábios retorcerem para expor os cintilantes e
afiados dentes atrás deles.
Foi algo estúpido de fazer, mas fiz repentinamente, inesperadamente desesperado para
expressar algum tipo de aviso para a menina. Seu corpo estava perto de mim como antes,
inconscientemente deslocado no decorrer da nossa conversa. Todos os pequenos
marcadores e cantos eram suficientemente assustadores para o resto da humanidade que
não viam como trabalhar nela. Por que ela não se encolheu longe de mim com terror? Com
certeza ela deve ter visto bastante do meu lado sombrio para perceber o perigo, ela
parecia ser intuitiva.
Eu não vi se minha advertência teve o efeito desejado, Mr. Banner disse para a classe ter
atenção apenas por aquele momento, e ela recuou para longe de mim ao mesmo tempo.
Ela parecia um pouco aliviada por causa da interrupção, então talvez ela tenha
compreendido inconscientemente.
Eu esperava que sim.
Eu reconheci o fascinio cada vez maior dentro de mim, mesmo estando cansado para
cortá-lo para fora. Eu não podia me dar ao luxo de achar Bella Swan interessante. Ou
melhor, ela não poderia se dar ao luxo. Eu já estava ansioso por alguma outra chance de
falar com ela… Eu queria saber mais sobre sua mãe, sua vida antes de chegar aqui, seu
relacionamento com seu pai. Todos as coisas sem sentido que poderia acrescentar
detalhes ao seu caráter. Mas a cada segundo que eu gastei com ela foi um erro, um risco
que ela não sabe que estava correndo.
Distraidamente, ela jogou seu cabelo. Por um momento eu me permiti outra respiração.
Uma onda particularmente concentrada de seu cheiro bateu em minha garganta.
Era como o primeiro dia - como a destruição inicial. A dor que queimava e a sede me fez
ficar tonto. Eu poderia agarrar a mesa de novo para manter meu corpo na cadeira. Agora
eu tinha um pouco mais de controle. Eu não quebraria nada, no mínimo… O monstro
rosnou dentro de mim, mas nada comparado com o prazer da minha dor. Ele estava
também firmemente amarrado por aquele momento.
Eu parei de respirar completamente, e me inclinei o mais longe possivel da garota o quanto
eu pude.
Não, eu não podia me dar ao luxo de achá-la fascinante… A mais interessante coisa que
encontrei nela, provavelmente a maior, era aquela que eu poderia matá-la. Eu já tinha
cometido dois pequenos erros hoje. Eu poderia cometer um terceiro, que não seria nada
pequeno?
Um pouco antes do sinal tocar, eu abandonaria a sala de aula - provavelmente destruindo
qualquer impressão de educação que eu havia construído no decorrer da hora. De novo, eu
ofeguei por limpeza, o ar de fora estava úmido, como se fosse um perfume de cura. Eu me
coloquei apressadamente ao máximo de distancia possível entre a garota e eu.
Emmet estava me esperando na porta da sala de Espanhol. Ele leu minha expressão louca
por um momento.
Como foi? Ele perguntou cautelosamente.
“Ninguém morreu,” Eu resmunguei.
Eu achei isso. Quando eu vi a Alice andando por aqui quando acabou, eu pensei…
Nós andamos para a sala, eu vi sua memória por apenas alguns momentos antes, vendo
pela porta aberta de sua última aula: Alice de rosto desligado andando em direção ao
prédio de biologia. Eu senti que na sua lembrança ele sentia vontade de ir lá e se juntar a
ela, e quando ele decidiu ficar. Se Alice precisasse de sua ajuda, ela poderia pedir…
Eu fechei meus olhos com horror e desgosto quando eu despenquei na minha cadeira. “Eu
não pensei em realizar aquilo quando estava perto. Eu não pensei o que eu estaria
fazendo… Eu não vi que aquilo poderia ser tão ruim,” Eu sussurei.
Não foi, ele me re-assegurou. Ninguém morreu, certo?
“Certo,” Eu disse entre os dentes. “Não dessa vez.”
Talvez fique mais fácil.
“Claro.”
Ou, talvez você a mate. Ele deu de ombros. Você não seria o primeiro a fazer besteira.
Ninguém te julgaria duramente. Às vezes uma pessoa apenas cheira muito bem. Estou
impressionado que você tenha resistido tanto tempo.
“Não está ajudando, Emmett.”
Eu estava revoltado com a sua aceitação da idéia de que eu mataria a garota, de que isso
era de algum modo, inevitável. Era culpa dela que ela cheirasse tão bem?
Eu sei quando aconteceu pra mim… Ele lembrou, trazendo à tona metade de um século,
para uma rua suja, onde uma mulher de meia idade estava tirando seus lençóis secos de
um varal amarrado entre duas macieiras. O cheiro de maçãs era forte no ar - a colheita
tinha acabado e as frutas rejeitadas estavam espalhadas pelo chão, os machucados nas
suas cascas deixavam escapar as suas fragrâncias como grossas nuvens. Um campo recém
cortado de feno era um fundo de paisagem para o cheiro, a harmonia. Ele andou pela rua,
tudo menos distraído para a mulher, para entregar um pagamento por Rosalie. O céu lá
encima estava púrpura, laranja acima das árvores. Ele teria continuado vagando pelo
caminho das carroças e lá não teria nenhuma razão para lembrar daquela tarde, se não
fosse por uma repentina brisa que soprou os lençóis brancos como velas e levou o cheiro
da mulher até o rosto de Emmett.
“Ah,” Eu suspirei calmamente. Como se a minha própria sede não fosse o suficiente.
Eu sei. Eu não durei nem metade de um segundo. Eu nem pensei em resistir.
Sua memória se tornou muito explícita pra eu agüentar.
Eu fiquei em pé, meus dentes se trincaram forte o suficiente para cortar aço.
“Esta bien, Edward?” Señora Goff perguntou, assustada pelo meu brusco movimento. Eu
podia ver o meu rosto na sua mente, e eu sabia que eu parecia longe de estar bem.
“Me perdona,” eu murmurei, enquanto eu me lançava para a porta.
“Emmett - por favor, puedas tu ayuda a tu hermano?” ela perguntou, gesticulando sem
solução para mim enquanto eu me apressava pra sair da sala.
“Claro,” eu escutei ele falar. E logo ele já estava bem atrás de mim.
Ele me seguiu até o lado mais longe do prédio, onde ele me alcançou e pôs a sua mão no
meu ombro.
Eu empurrei a mão dele pra longe com uma força desnecessária. Teria quebrado os ossos
de uma mão humana, e os ossos do braço ligados a ela.
“Me desculpe, Edward.”
“Eu sei.” Eu extraí profundas arfadas de ar, tentando clarear a minha cabeça e os meus
pulmões.
“É tão ruim quanto aquilo?” ele perguntou, tentando não pensar no cheiro e no sabor de
sua memória enquanto ele perguntou, não tendo muito sucesso.
“Pior, Emmett, pior.”
Ele ficou quieto por um instante.
Talvez…
“Não, não seria melhor se eu acabasse logo com isso. Volte para a sala, Emmett. Eu quero
ficar sozinho.”
Ele se virou sem falar nenhuma palavra ou pensamento e caminhou rapidamente. Ele diria
para a professora de Espanhol que eu estava doente, ou matando aula, ou um vampiro
perigosamente fora de controle. A desculpa dele realmente importava? Talvez eu não
voltasse. Talvez eu tenha que partir.
Eu voltei pro meu carro novamente, para esperar o final da aula. Para me esconder,
novamente.
Eu poderia ter usado o tempo para fazer decisões ou tentar reforçar minha explicação,
mas, como um vício, eu me vi buscando através dos murmúrios de pensamentos que
emanavam do prédio da escola. As vozes familiares se destacaram, mas eu não estava
interessado em dar ouvidos as visões de Alice ou as reclamações de Rosalie agora. Eu
achei Jessica facilmente, mas a garota não estava com ela, então continuei procurando. Os
pensamentos de Mike Newton tomaram a minha atenção, e eu acabei achando-a, em um
ginásio com ele. Ele estava triste, porque eu conversei com ela na aula de Biologia. Ele
estava pensando sobre sua responsabilidade quando algo surgiu do nada…
Eu nunca o vi conversando com ninguém nada mais que uma palavra aqui ou ali. Claro que
ele acabou achando Bella interessante. Eu não gosto do jeito que ele olha pra ela. Mas ela
não parece estar muito interessada nele. O que ela disse? “Imagino o que ele tinha na
segunda passada…” Algo assim. Não parece que ela tenha se importado. Isso não
precisava fazer parte de uma conversa…
Ele falou consigo mesmo sobre seu pessimismo daquele jeito, confortado pela idéia de que
Bella não estava interessada em sua troca de palavras comigo. Isso me incomodou um
pouco mais do que o aceitável, então eu parei de escutá-lo.
Eu coloquei um CD com músicas pesadas no meu som, e então aumentei o som até que
não dava pra ouvir mais vozes. Eu realmente tentei me concentrar na música para me
manter longe dos pensamentos de Mike Newton, para espiar a garota inocente…
Eu trapaceei algumas vezes, enquanto chegava a hora. Não espiando, eu tentava me
convencer. Eu estava apenas me preparando. Eu queria saber quando exatamente iria sair
do ginásio, quando ela estaria no estacionamento… Eu não queria pegá-la de surpresa.
Enquanto os estudantes começaram a sair das portas do ginásio, eu saia do meu carro,
não sabendo por que eu fiz isso. A chuva estava fraca - eu ignorei isso enquanto ela ia
lentamente saturando o meu cabelo.
Eu queria que ela me visse aqui? Eu esperava que ela viesse e falasse comigo? O que eu
estava fazendo?
Eu não me mexi, apesar de eu estar tentando me convencer a voltar para o carro, sabendo
que o meu comportamento era repreensível. Eu mantive meus braços sobre o meu peito e
respirei bem devagar enquanto eu observava ela passar devagar por mim, seus lábios
caídos nas extremidades. Ela não olhou para mim. Algumas vezes ela lançou os olhos em
direção às nuvens com uma careta, como se eles a ofendessem.
Eu estava desapontado quando ela chegou no seu carro antes de passar por mim. Ela
devia ter falado comigo? Eu devia ter falado com ela?
Ela entrou em uma caminhonete vermelha desbotada da Chevy, um monstro robusto que é
mais velho que o seu pai. Eu observei ela dar a partida na caminhonete - o motor velho
roncou mais alto que qualquer veículo no estacionamento - e então, ela botou suas mãos
em direção ao vento quente. O frio era desconfortável para ela - não gostava nem um
pouco disso. Ela passou seus dedos pelos cabelos emaranhados, esticando os nós através
da corrente de ar quente, como se estivesse secando-o. Eu imaginei como a boléia daquele
caminhão deveria cheirar, e então rapidamente me desfiz desse pensamento.
Ela olhou ao redor enquanto se preparava para dar ré, e finalmente olhou em minha
direção. Ela olhou para mim por apenas meio segundo, e tudo o que consegui ler em seus
olhos foi surpresa, antes dela virar os seus olhos pro outro lado e passar a marcha ré. E
então freou repentinamente, e a traseira da caminhonete ficou a alguns centímetros de
bater no carro de Erin Teague.
Ela deu uma olhada no espelho retrovisor, sua boca aberta com o constrangimento.
Quando o outro carro passou por ela, olhou todos os pontos cegos duas vezes e então saiu
da área do estacionamento tão cuidadosamente que isso me fez sorrir. É como se ela
pensasse que sua caminhonete decrépita fosse perigosa.
O pensamento de Bella Swan poder fazer mal a qualquer um, não importa que ela estava
dirigindo, me fez rir quando passou por mim, olhando fixamente.
3. Fenômeno
Sinceramente, eu não estava sedento, mas eu decidi caçar novamente naquela noite. Uma
pequena quantidade para prevenir, eu sei que seria inadequado.
Carlisle veio comigo; nós não ficávamos juntos sozinhos desde que eu retornei de Denali.
Enquanto nós corríamos pela floresta negra, eu o escutei pensando sobre aquele rápido
adeus da semana passada.
Em sua memória, eu vi a maneira que as minhas feições tinham se contraído em um feroz
desespero. Eu senti a surpresa dele e a repentina preocupação.
“Edward?”
“Eu tenho que ir Carlisle. Tenho que ir agora.”
“O que aconteceu?”
“Nada. Ainda. Mas irá, se eu ficar.”
Ele alcançou o meu braço. Eu senti como doeu para ele quando eu recuei da sua mão.
“Eu não entendo.”
“Você já… já houve algum momento…”
Eu me vi dando uma profunda respiração, vi a selvagem luz nos meus olhos através do
filtro de preocupação dele.
“Alguém já cheirou pra você melhor do que o resto das pessoas? Muito melhor?”
“Oh.”
Quando eu soube que ele tinha entendido, meu rosto caiu com vergonha. Ele me alcançou
para me tocar, ignorando quando eu recuei de novo, e deixou sua mão em meu ombro.
“Faça o que você deve para resistir, filho. Sentirei tua falta. Aqui, pegue o meu carro. É
mais rápido.”
Ele estava se perguntando agora se ele tinha feito a coisa certa antes, me mandando para
longe. Se perguntando se ele teria me machucado com a sua falta de confiança.
“Não,” eu sussurrei enquanto eu corria. “Aquilo era o que eu precisava. Eu poderia tão
facilmente ter traído aquela confiança, se você tivesse me falado pra ficar.”
“Desculpe se você está sofrendo, Edward. Mas você deve fazer o que pode para manter a
criança Swan viva. Mesmo se isso signifique que você tem que nos deixar novamente.”
“Eu sei, eu sei.”
“Por que você voltou? Você sabe o quão feliz eu fico por te ter aqui, mas se isso é muito
difícil…”
“Eu não gostei de me sentir um covarde,” eu admiti.
Nós desaceleramos - nós estávamos praticamente caminhando através da escuridão agora.
“Melhor do que botar ela em perigo. Ela partirá em um ano ou dois.”
“Você tem razão, eu sei disso.” Ao contrário, apesar, as palavras dele apenas me deixaram
mais ansioso pra ficar. A garota partiria em um ano ou dois…
Carlisle parou de correr e eu parei com ele; ele se virou para examinar a minha expressão.
Mas você não vai fugir, vai?
Eu deixei a minha cabeça cair.
É por orgulho, Edward? Não há porque ter vergonha -
“Não, não é o orgulho que me mantêm aqui. Não agora.”
Você precisa ir neste momento?
Eu suspirei brevemente. “Não. Isso não é por mim, se fosse por mim, eu já teria ido.”
“Eu vou ficar com você, é claro, se você precisar. É só você dizer. É só você não se queixar
ao resto. Eles não terão má vontade com isso.”
Ergui uma das sobrancelhas.
Ele suspirou. “Sim, Rosalie poderia, mas ela não deveria. Seja como for, é muito melhor
para nós, irmos agora, sem ter feito nenhum dano, do que irmos mais tarde, depois de que
uma vida tenha sido encerrada,” Todo humor havia chegado ao fim.
Eu fiquei com medo de suas palavras.
“Sim,” Eu concordei. Minha voz soou rouca.
Mas você está partindo?
Eu suspirei. “Eu deveria.”
“O que você está fazendo aqui, Edward? Não consigo ver…”
“Não sei como explicar,” Mesmo para mim, ainda não fazia sentido.
Ele mediu minha expressão por um longo tempo.
Não, eu não consigo ver. Mas eu vou respeitar sua privacidade, se você prefere.
“Muito obrigado. É generoso de sua parte, eu não dou privacidade a ninguém.” Com uma
exceção. E eu estava fazendo o que eu podia para impedir isso, não estava?
Todos nós temos nossas peculiaridades. Ele riu novamente. Vamos?
Ele havia acabado de sentir o rastro de um pequeno rebanho de cervos. Era difícil reunir
muito entusiasmo pelo que era, mesmo nas melhores circunstâncias, um aroma que fazia
menos que dar água na boca. Agora, certamente, com a memória do sangue fresco da
garota na minha mente, o aroma na verdade revirava o meu estômago.
Eu suspirei. “Vamos,” eu concordei, apesar de saber que forçar mais sangue por minha
garganta não ajudaria muito.
Nós dois assumimos uma posição de caçada e deixamos o rastro que nos guiasse e nos
puxamos em silêncio para frente.
Estava mais frio quando voltamos para casa. A neve derretida havia congelado novamente;
era como se um fino lençol de vidro cobrisse tudo - cada ponta de pinheiro, cada folha das
plantas, cada lâmina de grama estava congelada.
Enquanto Carlisle foi se vestir para seu primeiro turno no hospital, eu fiquei perto do rio,
esperando o sol nascer. Eu me sentia quase inchado de tanto sangue que havia
consumido, mas eu sabia que a falta de sede significaria pouco quando eu sentasse ao
lado da garota de novo.
Frio e estático como a pedra em que me sentava, eu encarei a água fria que corria ao lado
da margem congelada, encarando aquela cena.
Carlisle estava certo. Eu devia deixar Forks. Eles poderiam espalhar alguma história para
explicar a minha ausência. Intercâmbio na Europa. Visitando parentes distantes. Fuga
adolescente. A história não importava. Ninguém ia questionar muito.
Levaria apenas um ano ou dois para a garota desaparecer. Ela seguiria enfrente com a vida
dela - ela teria que seguir enfrente com sua vida. Ela iria à faculdade de algum lugar, ficar
mais velha, começar uma carreira, possivelmente até se casar com alguém. Eu podia
imaginar isso - Eu podia ver a garota toda vestida de branco andando em uma profunda
paz, de braços dados com seu pai.
Era sem igual a dor que aquela imagem me causou. Eu não podia entender aquilo. Eu
estava com ciúmes, por que ela tinha um futuro que eu nunca teria? Aquilo não fazia
sentido. Todos os humanos a minha volta tinham o mesmo potencial - uma vida - eu
raramente tinha parado para envejá-los.
Eu devia deixá-la para seu futuro. Parar de arriscar a vida dela. Essa era a coisa mais certa
a se fazer. Carlisle sempre escolhia o jeito certo. Eu devia escutá-lo agora.
O sol aumentou atrás das nuvens, e a luz fraca brilhou de todo o vidro congelado
Mais um dia, eu decidi. Eu podia vê-la uma vez mais. Podia lidar com aquilo. Possivelmente
eu mencionaria o meu desaparecimento pendente, trazendo a história a tona.
Aquilo seria difícil; Eu podia sentir isso em cada pesada relutância que já estava me
fazendo pensar em desculpas para dizer - para estender o prazo por dois dias, três,
quatro… Mas eu não estaria fazendo a coisa certa. Eu sabia que podia confiar no aviso de
Carlisle. E eu também sabia que podia ser muito difícil tomar a decisão certa sozinho.
Muito difícil. O quanto dessa relutância vinha da minha obsessiva curiosidade, e quanto
vinha do meu insatisfeito apetite?
Eu entrei para trocar de roupa, para ir à escola.
Alice estava esperando por mim, sentada no topo da borda do terceiro andar.
Você está indo embora de novo, ela me acusou.
Suspirei e acenei com cabeça
Eu não consigo ver onde você está indo desta vez.
“Eu não sei para onde estou indo ainda,” eu sussurrei.
Eu quero que você fique.
Eu balancei minha cabeça.
Talvez eu e Jazz possamos ir com você?
“Eles vão precisar mais de você agora, se eu não estou aqui para olhar por eles. E pense
em Esme. Eu levaria metade da família dela embora de uma vez?”
Você vai fazê-la tão triste.
“Eu sei. Por isso você tem que ficar.”
Não é o mesmo sem você aqui, você sabe disso.
“Sim. Mas eu tenho que fazer o que é certo.”
Existem vários jeitos certos, e muitos errados, pense, não está lá?
Por um curto momento ela foi até uma de suas estranhas visões; eu assisti junto com ela
como as imagens indistintas apareciam e giraram. Eu vi a mim mesmo dentro dessas
visões com estranhas sombras que eu não conseguia compreender - nebulosas, imprecisas
formas.
E então, de repente, minha pele estava brilhando na luz do sol de uma pequena e aberta
clareira. Eu conhecia este lugar. Havia uma figura na clareira comigo, mas novamente, era
indistinta, não ali o suficiente para reconhecer. As imagens tremeram e desapareceram
quando um milhão de pequenas escolhas rearranjaram o futuro novamente.
“Eu não absorvi muito disso,” eu disse quando a visão ficou escura.
Eu também. Seu futuro está mudando e mudando tanto que eu não consigo acompanhar.
Mas eu acho que…
Ela parou, e vagueou por uma vasta coleção de outras visões recentes para mim. Eram
todas iguais - borradas e vagas.
“Eu acho que algo está mudando, na verdade,” ela disse em voz alta. “Sua vida parece que
alcançou uma encruzilhada.”
Eu ri, austero. “Você tem noção de que soa como uma cigana charlatona em um parque de
diversões agora, certo?”
Ela mostrou sua pequena língua.
“Hoje está tudo bem, não é?” perguntei, minha voz abruptamente apreensiva.
“Não vejo você matando ninguém hoje,” ela me garantiu.
“Obrigado, Alice.”
“Vá se trocar. Não direi nada - deixarei que você conte aos outros quando estiver pronto.”
Ela levantou-se e seguiu escada abaixo, seus ombros um pouco curvados. Sentirei sua
falta. Muito.
Sim, eu também sentiria a falta dela.
Foi uma viagem quieta até o colégio. Jasper podia dizer que Alice estava brava com
alguma coisa, mas ele sabia que se ela quisesse falar sobre isso já o teria feito. Emmett e
Rosalie estavam distraídos, tendo outro de seus momentos, olhando um nos olhos do outro
com admiração- era um tanto nojento de se assistir pelo lado de fora. Nós todos sabíamos
o quão desesperadamente apaixonados eles estavam. Ou talvez eu apenas estivesse sendo
amargo por ser o único sozinho. Alguns dias eram piores que outros de se conviver com
três casais perfeitos e apaixonados. Esse era um desses dias.
Talvez eles fossem mais felizes sem mim por perto, com meu temperamento ruim e hostil
como o senhor de idade que eu deveria ser agora.
Claro, a primeira coisa que fiz quando chegamos ao colégio foi procurar a garota. Apenas
me preparando novamente.
Certo.
Era embaraçoso como meu mundo de repente parecia ser vazio de tudo, menos ela - toda
a minha existência centrada ao redor dessa garota, ao invés de em mim mesmo.
Era fácil de entender, na verdade; depois de oitenta anos da mesma coisa, todo dia, toda
noite, qualquer mudança era motivo de interesse.
Ela ainda não chegara, mas eu podia ouvir o barulho de trovão do motor de sua picape ao
longe. Inclinei-me ao lado do carro para esperar. Alice esperou comigo, enquanto os outros
foram direto para suas aulas. Estavam entediados com minha fixação - era incompreensível
para eles como qualquer humano pudesse despertar tanto interesse em mim por tanto
tempo, não importava o quão delicioso o cheiro dela era.
A garota aos poucos entrou em meu campo de visão, seus olhos na estrada e suas mãos
segurando com força o volante. Ela parecia ansiosa com algo. Levei um segundo para
entender o que o algo seria, para perceber que todo humano tinha a mesma expressão
hoje. Ah, a estrada estava escorregadia por causa do gelo, e eles estavam todos dirigindo
com cuidado. Eu podia ver que ela levava o risco a sério.
Aquilo parecia alinhado com o pouco que eu já aprendera sobre sua personalidade.
Adicionei aquilo à pequena lista: ela era uma pessoa séria, responsável.
Ela estacionou não muito longe de mim, mas ainda não notara minha presença ainda,
encarando-a. Pensei no que ela faria quando percebesse? Coraria e iria embora?
Aquele era meu primeiro palpite. Mas talvez ela me encarasse de volta. Talvez ela viesse
falar comigo.
Inspirei fundo, enchendo meus pulmões. Esperançoso, apenas por precaução.
Ela saiu da picape com cuidado, testando o chão escorregadio antes que ela pusesse todo
seu peso nele. Não olhou para cima, e isso me frustrou. Talvez eu devesse falar com ela…
Não, isso seria errado.
Ao invés de virar em direção ao colégio, ela caminhou até a traseira da picape, segurandose
no lado da picape de um jeito atrapalhado, não confiando em seus passos. Isso me fez
sorrir, e eu senti os olhos de Alice em meu rosto. Não ouvi seja lá o que isso a fez pensar -
eu estava me divertindo muito observando a garota checar as correntes nos pneus. Ela
realmente parecia que estava prestes a escorregar, da maneira que seus pés deslizavam
no chão. Ninguém mais parecia ter o mesmo problema - teria ela estacionado na pior parte
do gelo?
Ela parou por um momento, olhando para os pneus com uma expressão estranha no rosto.
Era… ternura? Como se algo com relação aos pneus a deixasse… emocionada?
Novamente, a curiosidade doeu como a sede. Era como se eu precisasse saber o que ela
estava pensando - como se mais nada importasse.
Eu iria falar com ela. Ela parecia que precisava de uma ajuda de qualquer modo, pelo
menos até que ela estivesse fora da zona escorregadia de gelo. Claro, eu não poderia lhe
oferecer ajuda, não é? Hesitei, dividido. Por mais contrária que ela parecia com relação à
neve, dificilmente ela acharia agradável o toque de minhas mãos brancas e frias. Eu devia
ter usado luvas -
“NÃO!” Alice ofegou alto.
Instantaneamente, li seus pensamentos, imaginando primeiro que eu deveria ter feito uma
escolha ruim e ela me viu fazendo algo imperdoável. Mas não era nada a ver comigo.
Tyler Crowley escolhera fazer a curva do estacionamento rápido demais. Essa escolha o
faria deslizar no gelo…
A visão aconteceu a menos de meio segundo da realidade. A van de Tyler rodou na
esquina enquanto eu assistia o final que deixou Alice sem fôlego.
Não, essa visão não tinha nada a ver comigo, mas ainda assim tinha tudo a ver comigo,
porque a van de Tyler - os pneus agora tocando o gelo num ângulo pior, impossível - ia
rodar pelo estacionamento e bater na garota que se tornara o foco não intencional de meu
mundo.
Mesmo sem Alice prevendo, teria sido fácil adivinhar a trajetória do veículo, saindo do
controle de Tyler.
A garota, parada no lugar exatamente errado na traseira da picape, olhou para cima,
confusa com o barulho dos pneus cantando no asfalto. Ela olhou diretamente nos meus
olhos horrorizados, e virou-se para observar sua morte iminente.
Ela, não! As palavras gritaram em minha mente, como se pertencessem a outra pessoa.
Ainda preso aos pensamentos de Alice, percebi que a visão de repente se modificava, mas
não tive tempo de ver o que aconteceria então.
Atirei-me pelo estacionamento, jogando-me entre a van desgovernada e a garota
petrificada. Movimentei-me tão depressa que tudo parecia apenas um borrão, menos o
objeto em que eu estava focado. Ela não me viu - nenhum olho humano conseguiria
acompanhar minha movimentação - ainda encarando a forma que estava prestes a prensála
na estrutura metálica de sua picape.
A peguei pela cintura, movendo com urgência para ser tão gentil quanto fosse possível. No
centésimo de segundo entre o tempo que levei para tirá-la do caminho da morte e o tempo
que levei para cair no chão com ela em meus braços, eu estava vividamente consciente da
fragilidade de seu corpo.
Quando ouvi sua cabeça bater contra o gelo, senti como se eu tivesse virado gelo também.
Mas eu não tinha nem mesmo um segundo inteiro para me certificar de sua condição.
Escutei a van atrás de nós, girando barulhenta enquanto batia no corpo metálico da picape
da garota. Estava mudando de curso, virando-se, vindo até ela novamente - como se ela
fosse um ímã, puxando-a para nós.
“Droga,” sibilei.
Eu já havia feito muito. Enquanto eu voava pelo ar para tirá-la do caminho, eu estava
consciente do erro que estava cometendo. Saber que era um erro não me impediu, mas eu
não estava alheio ao risco que estava assumindo - assumindo, não apenas para mim, mas
para toda minha família.
Revelação.
E isso certamente não ajudaria, mas não havia a menor chance de eu deixar a van obter
sucesso em sua segunda tentativa de tirar a vida da garota.
A deixei no chão e ergui minhas mãos, segurando a van antes que ela pudesse tocar a
garota. A força do movimento me lançou de encontro ao carro parado ao lado da picape, e
eu podia sentir sua forma afundar por meus ombros. A van tremeu contra o obstáculo que
eram meus braços, e então girou, balançando instável nos dois pneus mais afastados.
Se eu movesse minhas mãos, o pneu traseiro da van ia cair nas pernas dela.
Ah, pelo amor de tudo que é sagrado, as catástrofes nunca teriam fim? Havia mais alguma
coisa pra dar errado? Eu não podia ficar ali, segurando a van no ar, e esperando por
resgate. Mas não podia jogar a van longe - havia o motorista a considerar, seus
pensamentos incoerentes pelo pânico.
Com um rugido interno, empurrei a van para que ela se afastasse de nós por um instante.
Enquanto ela balançava novamente em minha direção, a segurei por debaixo de sua forma
com minha mão direita enquanto enrolava meu braço esquerdo em volta da cintura da
garota novamente e a arrastava de debaixo da van, puxando-a apertada a meu lado. Seu
corpo se moveu mole enquanto eu a virava para que suas pernas estivessem livres -
estaria ela consciente? Quanto dano eu a teria infligido em minha desastrosa tentativa de
resgate?
Deixei a van cair, agora que não podia mais machucá-la. Ela bateu no pavimento, as
janelas tremendo em uníssono.
Eu sabia que estava no meio de uma crise. O quanto ela teria visto? Mais alguém teria me
visto materializar ao lado dela e então segurado a van enquanto tentava tirar a garota de
debaixo dela? Essas questões deveriam ser minha maior preocupação.
Mas eu estava ansioso demais para realmente me importar com a ameaça de exposição o
tanto que eu deveria. Muito tomado pelo pânico de que eu poderia tê-la machucado em
meu esforço de protegê-la. Muito assustado de tê-la tão próxima a mim, sabendo que
assim eu sentiria seu cheiro se eu me permitisse respirar. Muito consciente do calor de seu
corpo macio, pressionado ao meu - mesmo pelo obstáculo duplo de nossas jaquetas, eu
podia sentir o calor…
O primeiro medo foi o maior. Quando os gritos das testemunhas se ergueu a nossa volta,
me inclinei para examinar seu rosto, para ver se ela estava consciente - esperando
ansiosamente para que ela não estivesse sangrando.
Seus olhos estavam abertos, encarando em choque.
“Bella?” Perguntei urgentemente. “Você esta bem?”
“Estou bem.” Ela disse, suas palavras soaram automáticas com tom atordoado.
Alívio. Era tão esquisito quanto doloroso, o banho que veio a mim com o som da sua voz.
Eu inspirei um pouco entre meus dentes, e não me importei com a queimação que estava
na minha garganta. Eu quase dei as boas-vindas.
Ela se esforçou para sentar-se, mas eu não estava pronto para soltá-la. Se eu soltasse…
seria mais seguro? Melhor, no mínimo, tê-la enroscada em mim.
“Cuidado,” Eu a avisei. “Acho que você bateu sua cabeça com força.”
Não estava cheirando a sangue novo - uma piedade - mas isso não quer dizer nada sobre
o dano interno. Eu estava inesperadamente ansioso para levá-la ao Carlisle e ao seu
completo equipamento de radiologia.
“Ai,” ela disse, seu tom comicamente chocado quando ela percebeu que eu estava certo
sobre sua cabeça.
“Foi isso que pensei”. Aliviadamente foi engraçado para mim, me fez ficar mais tonto.
“Como foi que…” Sua voz falhou, e seus olhos tremeram. “Como foi que chegou aqui tão
rápido?”
O alivio voltou azedo, o humor desapareceu. Ela percebeu demais.
Agora pareceu que a garota estava em postura séria, a ansiedade pela minha família
estava séria.
“Eu estava bem ao seu lado, Bella.” Eu sabia por experiência que se eu tivesse muita autoconfiança
poderia mentir, de uma maneira que qualquer questionamento poderia parecer
verdade.
Ela esforçou-se para se mover de novo, e nessa hora eu me permiti. Eu precisava respirar
tanto que eu poderia fazer meu papel corretamente, eu precisava de espaço do seu corpo
caloroso, delicioso e quente tanto que não poderia combinar com sua mensagem de
desespero para mim. Eu deslizei para longe dela, o mais longe o possível no pequeno
espaço entre os destroços do veículo.
Ela me olhou e eu a olhei também. Para olhar para longe, seria um primeiro erro que
apenas um mentiroso incompetente poderia fazer, e eu não era um mentiroso
incompetente. Minha expressão estava suave, benigna… Seu rosto pareceu confuso. Isso
era bom.
A cena do acidente estava cercada agora. Tantos estudandes, crianças, colegas se
empurrando feito manivelas para ver qualquer corpo que fosse visivel. Ali as falas eram
inteligíveis com os altos gritos dos pensamentos chocados. Eu escaniei os pensamentos
uma vez para ter certeza que não havia ninguém desconfiado ainda, e então pude desligar
e me concentrar apenas na garota.
Ela estava distraída por causa da confusão. Ela deu uma olhada por perto, sua expressão
continuou chocada e cansada para se manter em pé.
Eu coloquei minha mão levemente para empura-la.
“Fique quieta por enquanto.” Ela parecia bem, mas ela poderia mesmo mover seu pescoço?
De novo, eu ansiei por Carlisle. Meus olhos como estudante teórico de medicina não se
igualavam com seus séculos de medicina prática.
“Mas está frio,” Ela reclamou.
Ela quase tinha sido esmagada até a morte duas vezes de formas distintas e se ferido uma
vez mais, e era esse frio que a estava incomodando. Um pedaço da memória deslizou em
meus dentes, depois eu pude lembrar que a situação não foi engraçada.
Bella piscou, e seus olhos focaram no meu rosto. “Você estava lá.”
Aquilo soou sério para mim de novo.
Ela deu uma olhada para trás, viu que não tinha nada para ver além da Van amassada.
“Você estava perto do seu carro.”
- Não estava não.
- Vi você. - ela insistiu; a voz dela era infantil quando era teimosa. Seu queixo sobressaiu.
- Bella, eu estava parado do seu lado e tirei você do caminho.
Eu encarei fundo em seus olhos intensos, tentando convencê-la a aceitar minha versão - a
única racional disponível.
O queixo dela se endureceu. - Não.
Eu tentei ficar calmo, não entrar em pânico. Se eu pudesse a manter calada por alguns
momentos, me dar uma chance de destruir a evidência… e negar a história dela alegando
uma lesão na cabeça.
Não deveria ser fácil manter essa garota silenciosa e reservada calada? Se ela confiasse em
mim, só por alguns instantes…
-Por favor, Bella. - eu disse, e minha voz estava muito intensa, porque de repente eu
queria que ela confiasse em mim. Queria muito, e não só por causa do acidente. Que
vontade estúpida. Que sentido faria ela confiar em mim?
- Por quê? - ela perguntou, ainda na defensiva.
- Confie em mim. - eu pedi.
- Promete que vai me explicar tudo depois?
Deixou-me nervoso ter que mentir para ela de novo, quando eu queria tanto que eu
merecesse a confiança dela. Então, quando eu a respondi, retruquei.
- Tudo bem.
- Tudo bem. - ela revidou no mesmo tom.
Enquanto a tentativa de resgate começava ao nosso redor - adultos chegando, autoridades
foram chamadas, sirenes à distância - eu tentei ignorar a garota e colocar minhas
prioridades em ordem. Busquei em cada mente no estacionamento, das testemunhas e das
que chegaram depois, mas não consegui achar nada de perigoso. Muitos estavam
surpresos de me ver ao lado de Bella, mas todos concluíram - porque não havia mais
nenhuma conclusão a se tirar - que eles não tinham me notado parado ao lado da menina
antes do acidente.
Ela era a única que não aceitava a explicação mais fácil, mas também seria considerada a
fonte menos confiável. Ela estava aterrorizada, traumatizada, para não falar a pancada na
cabeça. Possivelmente em choque. Seria aceitável para a história dela estar confusa, certo?
Ninguém a daria atenção com tantos outros expectadores.
Eu recuei quando ouvi os pensamentos de Rosalie, Jasper e Emmett, que chegavam agora
na cena. Seria o inferno pagar por isto à noite…
Eu queria resolver o problema da fissura que meus ombros tinham deixado no carro
caramelo, mas a garota estava perto demais. Teria que esperar até que ela estivesse
distraída.
Era frustrante esperar - tantos olhos humanos em mim - enquanto os humanos lutavam
com a van, tentando tirá-la de nós. Eu podia ter ajudado, apressado o processo, mas já
estava com problemas suficientes e a menina tinha olhos atentos. Finalmente, eles
conseguiram afastá-la longe o suficiente para que os paramédicos entrassem com as
macas.
Um rosto grisalho e familiar apareceu.
- Oi, Edward. - Brett Warner disse. Ele também era um enfermeiro registrado, e eu o
conhecia bastante bem do hospital. Foi um golpe de sorte - a única sorte de hoje - foi ele
quem chegou até nós primeiro. Em seus pensamentos, ele estava notando que eu parecia
alerta e calmo. - Você está bem, garoto?
- Perfeito, Brett. Nada me acertou. Mas receio que a Bella aqui talvez tenha uma
concussão. Ela bateu a cabeça forte quando a tirei da frente…
Brett se virou para a menina, que me lançou um olhar traído. Ah, estava certo. Ela era o
tipo de mártir calado - preferia sofrer em silêncio.
Ela não contradisse minha história imediatamente e isso me deixou melhor.
O próximo paramédico insistiu que eu me deixasse ser tratado, mas não foi tão difícil
desencorajá-lo. Eu prometi que deixaria meu pai me examinar, e ele desistiu. Com a
maioria dos humanos, só falar com confiança era necessário. Com a maioria dos humanos,
menos a menina, é claro. Ela se encaixava em algum padrão?
Quando eles colocaram o protetor de pescoço nela - e seu rosto ficou escarlate de
vergonha - usei a distração para arrumar silenciosamente o formato do amassado no carro
caramelo com meu pé. Só meus irmãos notaram o que eu estava fazendo e escutei a
promessa mental de Emmett de arrumar o que eu deixasse para trás.
Agradecido pela ajuda dele - e mais agradecido que Emmett, pelo menos, já tinha
perdoado minha escolha perigosa - fiquei mais relaxado quando subi no banco da frente da
ambulância ao lado de Brett.
O chefe de polícia chegou antes que eles colocassem Bella no fundo da ambulância.
Embora os pensamentos do pai de Bella estivessem além das palavras, o pânico e a
preocupação emanando da mente do homem como qualquer outro nos arredores.
Ansiedade e culpa sem palavras, muito dos dois sentimentos, o lavou quando ele viu sua
única filha na maca.
Lavaram dele e passaram para mim, ecoando e ficando mais forte. Quando Alice tinha me
avisado que matar a filha de Charlie Sawn o mataria também, ela não estava exagerando.
Minha cabeça se curvou de culpa enquanto escutava sua voz em pânico.
- Bella! - ele gritou.
- Eu estou bem Char… pai. - ela suspirou. - Não há nada de errado comigo.
A garantia dela mal acalmou o terror dele. Ele se virou para o paramédico mais perto e
pediu mais informação.
Não foi até eu o ouvir falando, formando frases perfeitamente coerentes tirando seu pânico
que eu percebi que a ansiedade e preocupação dele não eram além das palavras. Eu só…
não podia ouvir as palavras exatas.
Hmm. Charlie Swan não era tão silencioso como a filha, mas eu podia ver de onde ela
tinha herdado. Interessante.
Nunca tinha passado muito tempo envolta do chefe de polícia da cidade. Sempre o
considerei um homem de raciocínio lento - agora eu entendi que eu é que era lento. Os
pensamentos dele eram parcialmente ocultos, não ausentes. Eu só podia escutar o caráter
deles, o tom…
Queria escutar com mais atenção, ver se eu podia achar nessa nova pequena peça a chave
para os segredos da garota. Mas Bella foi trancada na parte trazeira então, e a ambulância
estava seguindo seu caminho.
Era difícil me desviar dessa possível solução para o mistério que tinha me deixado
obcecado. Mas eu tinha que pensar agora - olhar o que havia sido feito hoje de cada
ângulo. Eu tinha que escutar, ter certeza de que não tinha colocado todos nós em tanto
perigo que teríamos que partir imediatamente. Tinha que me concentrar.
Não havia nada nos pensamentos dos paramédicos para me preocupar. Até onde eles
sabiam, não tinha nada de errado com a garota. E Bella estava mantendo a história que eu
tinha contado, até agora.
A prioridade, quando chegamos ao hospital, era ver Carlisle. Eu corri pelas portas
automáticas, mas fui incapaz de abrir mão de assistir totalmente a Bella; continuei
prestando atenção nela através dos pensamentos dos paramédicos.
Foi fácil achar a mente familiar de meu pai. Ele estava um seu escritório pequeno, sozinho
- o segundo golpe de sorte desse dia azarado.
- Carlisle.
Ele escutou minha aproximação, e ficou alarmado assim que viu meu rosto. Ele ficou em
pé, pálido como um fantasma. Ele se inclinou para frente da mesa de nogueira organizada.
Edward, você não…
- Não, não, não é isso.
Ele respirou fundo. Claro que não. Desculpe que pensei isso. Seus olhos, claro, eu devia
reconhecido… Ele notou meus olhos ainda eram dourados com alívio.
- Mas ela está machucada, Carlisle, provavelmente não é grave, mas…
- O que aconteceu?
- Um acidente de carro estúpido. Ela estava no lugar errado, na hora errada. Mas eu não
podia fica parado lá - deixar que fosse atropelada…
Comece de novo, eu não entendo. Como você se envolveu?
- Uma van derrapou no gelo. - eu sussurrei. Olhei a parede atrás dele enquanto falava. Ao
invés de ser coberta com diplomas, ele tinha só uma pintura à óleo, uma de suas favoritas,
um Hassam não descoberto. - Ela estava no caminho. Alice viu acontecendo, mas não
havia tempo para fazer nada além de correr pelo estacionamento e tirá-la da frente.
Ninguém notou… exceto ela. Eu tive que parar a van também, mas de novo, ninguém viu…
a não ser ela. Eu… eu sinto muito, Carlsile. Não queria nos colocar em perigo.
Ele deu a volta na mesa e colocou a mão no meu ombro.
Você fez a coisa certa. E não deve ter sido fácil para você. Estou orgulhoso, Edward.
Eu o olhei nos olhos. - Ela sabe que tem algo… de errado comigo.
- Isso não importa. Se tivermos que ir embora, nós iremos. O que ela disse?
Balancei a cabeça, um pouco frustrado. - Nada, ainda.
Ainda?
- Ela concordou com a minha versão dos eventos… mas está esperando uma explicação.
Ele franziu a testa, pensando.
- Ela bateu a cabeça - bom, eu fiz isso. - continuei rapidamente. - Eu a bati contra o chão
com bastante força. Ela parece bem, mas… não acho que será difícil desacreditá-la.
Senti-me rude só de dizer as palavras.
Carlisle ouviu o desgosto na minha voz. Talvez isso não seja necessário. Vamos ver o que
acontece, está bem? Parece que tenho uma paciente para ver.
- Por favor. - eu disse. - Estou preocupado que a tenha machucado.
A expressão de Carslile se aliviou. Ele passou o dedo pelo cabelo, só alguns tons mais claro
que seus olhos dourados, e riu.
Foi um dia interessante para você, não foi? Em sua mente, eu podia ver a ironia, e era
engraçada - para ele, pelo menos. Uma inversão de papéis. Durante aquele momento curto
e impensado em que corri pelo estacionamento congelado, eu tinha passado de assassino
para protetor.
Eu ri com ele, lembrando de ter certeza de que Bella nunca precisaria de proteção de nada
além de mim mesmo. Minha risada tinha um tom irritado porque, apesar da van, isso ainda
era verdade.
Eu esperei no escritório de Carlsile - uma das horas mais compridas que já vivi - escutando
o hospital cheio de pensamentos.
Tyler Crowley, o motorista da van, parecia estar mais machucado que Bella, e a atenção se
voltou para ele enquanto ela esperava a sua vez de fazer o raio-X. Carlisle ficou nos
fundos, confiando no diagnóstico dos residentes de que a garota só estava levemente
machucada. Isso me deixou ansioso, mas sabia que ele tinha razão. Uma espiada no rosto
dele e ela imediatamente se lembraria de mim, do fato que havia algo de errado com a
minha família, e talvez isso a fizesse falar algo.
Ela certamente tinha um parceiro disposto o suficiente para conversar. Tyler estava
consumido por culpa com o fato de quase tê-la matado, e não conseguia parar de falar
sobre isso. Eu podia ver a expressão dela através dos olhos dele, e estava claro que ela
queria que ele parasse. Como ele não via isso?
Houve um momento tenso para mim quando Tyler perguntou como ela tinha saído da
frente.
Eu esperei, sem respirar, como ela hesitou.
- Hmmm… - ele a escutou falar. Então ela fez uma pausa tão longa que Tyler se perguntou
se sua pergunta a tinha confundido. Finalmente, ela continuou. - Edward me puxou de lá.
Eu suspirei. Então minha respiração acelerou. Eu nunca a tinha ouvido falar meu nome
antes. Gostei do som - mesmo só de escutar pelos pensamentos de Tyler. Queria escutar
com meus próprios ouvidos…
- Edward Cullen. - ela disse, quando Tyler não entendeu de quem ela tinha falado.
Encontrei-me na porta, a mão na maçaneta. O desejo de vê-la estava ficando mais forte.
Eu tive que me lembrar de ter cuidado.
- Ele estava do meu lado.
- Cullen? - Hm. Que estranho. - Não o vi… - Podia ter jurado… - Caramba, acho que foi
tudo tão rápido. Ele está bem?
- Acho que sim. Está em algum lugar por aqui, mas ninguém o obrigou a usar uma maca.
Eu vi o olhar pensativo no rosto dela, a suspeita ficando mais forte em seus olhos, mas
essas pequenas mudanças de expressão foram perdidas em Tyler.
Ela é bonita, ele estava pensando, quase surpreso. Mesmo toda desarrumada. Não faz meu
tipo, mas… devia convidá-la para sair. Compensar por hoje…
Então fui para o corredor, a meio caminho da sala de emergência, sem pensar por um
segundo no que estava fazendo.
Por sorte, a enfermeira entrou na sala antes de mim - era a vez de Bella tirar o raio-X.
Encostei-me à parede em um canto escuro e tentei me controlar enquanto ela era levada
para longe.
Não importava que Tyler pensou que ela era bonita. Qualquer um notaria isso. Não havia
razão para eu me sentir… Como eu me sentia? Aborrecido? Ou enfurecido estava mais
perto a verdade? Isso não fazia nenhum sentido.
Eu fiquei onde eu estava o quanto eu pude, mas a impaciência me venceu e eu voltei pra
sala de radiologia. Ela já tinha sido levada de volta ao pronto socorro, mas eu podia dar
uma olhada em seus Raios-x enquanto a enfermeira não voltava.
Eu me senti mais calmo quando vi. Sua cabeça estava bem. Eu não a tinha machucado,
não exatamente.
Carlisle me apanhou lá.
Você parece melhor, ele comentou.
Eu apenas olhei pra frente. Nós não estávamos sozinhos, os corredores cheios de
ordenados e visitantes.
Ah, sim. Ele encravou seus raios-x a tábua iluminada, mas eu não precisava de uma
segunda olhada. Eu vejo. Ela está absolutamente bem. Muito bem, Edward.
O som da aprovação de meu pai criou uma reação mista em mim. Eu estaria contente,
exceto por saber que ele não aprovaria o que eu ia fazer agora. Ao menos, ele não
aprovaria se soubesse de minhas reais motivações…
“Eu acho que vou conversar com ela - depois que ela ver você,” eu suspirei. “Aja
naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Esqueça isso.” Todas razões aceitáveis.
Carlisle acenou ausente, ainda olhando pros seus raios-x. “Boa idéia. Hmm.”
Eu olhei pra ver o que o tinha interessado.
Olhe todas as contusões cicatrizadas! Quantas vezes a mãe dela a derrubou?
Carlisle sorriu pra si mesmo por sua brincadeira.
“Eu estou começando a pensar que essa garota tem apenas má sorte. Sempre no lugar
errado na hora errada.”
Forks é certamente o lugar errado pra ela, com você aqui.
Eu me retirei.
Vá em frente. Esqueça essas coisas. Eu estarei com você logo.
Eu saí rapidamente, me sentindo culpado. Talvez eu fosse um mentiroso muito bom, se eu
pudesse enganar Carlisle.
Quando eu cheguei ao pronto socorro, Tyler estava resmungando sob sua respiração,
ainda se desculpando. A garota estava tentando escapar do remorso dele tentando dormir.
Os olhos dela estavam fechados, mas sua respiração não estava contínua, e uma vez ou
outra seus dedos se torciam impacientemente.
Eu encarei seu rosto por um longo tempo. Essa era a última vez que eu a veria. Isso
disparou uma dor aguda em meu peito. Seria porque eu odiava deixar qualquer quebracabeça
sem solução? Isso não parecia uma explicação suficiente.
Finalmente, eu respirei fundo e fiquei a vista.
Quando Tyler me viu, ele começou a falar, mas eu coloquei um dedo em meus lábios.
“Ela está dormindo?” Eu murmurei.
Os olhos de Bella se abriram rapidamente e focou em meu rosto. Eles se arregalaram por
um momento, e depois se estreitaram por raiva ou suspeita. Eu lembrei que eu tinha uma
encenação pela frente, então eu sorri pra ela como se nada incomum houvesse acontecido
esta manhã - apenas uma pancada na cabeça e um pouco de imaginação livre.
“Hey, Edward,” Tyler disse. “Eu lamento muito -”
Eu levantei uma mão pra parar suas desculpas. “Sem sangue, sem danos,” eu disse
humoradamente. Sem pensar, eu sorri muito largamente por minha brincadeira particular.
Era assustadoramente fácil ignorar Tyler, deitado não mais que 1.20m de mim, coberto de
sangue fresco. Eu nunca tinha entendido como Carlisle era capaz de fazer aquilo - ignorar
o sangue de seus pacientes pra cuidar deles. Não seria a constante tentação muito
distraída, muito perigosa…? Mas, agora… Eu podia ver como, se você estivesse focado o
suficiente em algo mais forte o suficiente, a tentação não seria nada demais.
Apesar de fresco e exposto, o sangue de Tyler não tinha nada a ver com o de Bella.
Eu mantive minha distância dela, me sentando nos pés do colchão de Tyler.
“Então, qual o veredicto?” eu perguntei a ela.
Ela fez bico. “Não há nada de errado comigo, mas eles não vão me deixar ir. Como você
não está acorrentado a uma maca como o resto de nós?”
Sua impaciência me fez sorrir novamente.
Eu podia ouvir Carlisle no corredor agora.
“Tudo depende dos seus contatos,” eu disse suavemente. “Mas não se preocupe, eu vim
libertar você.”
Eu assisti sua reação cuidadosamente enquanto meu pai entrava na sala. Os olhos dela se
arregalaram e sua boca realmente abriu em surpresa. Eu gemi internamente. Sim, ela
certamente tinha notado a semelhança.
“Então, Srta. Swan, como você está se sentindo?” Carlisle perguntou. Ele tinha uma
maneira maravilhosamente calma que deixava a maioria dos pacientes bem em poucos
momentos. Eu não poderia falar como isso afetou Bella.
“Eu estou bem,” ela disse quietamente.
Carlisle fixou seus raios-x no painel de luz acima da cama. “Seu raio-X parece bom. Sua
cabeça está doendo? Edward disse que você bateu com força.”
Ela suspirou, e disse, “Eu estou bem,” novamente, mas dessa vez a impaciência vazou em
sua voz. Depois ela olhou de relance em minha direção.
Carlisle se aproximou dela e correu seus dedos levemente por seu crânio até que ele
encontrou o galo embaixo de sua cabeça.
Eu fui pego de surpresa pela onda de emoção que passou por mim.
Eu tinha visto Carlisle trabalhar com humanos mil vezes. Anos atrás, eu tinha até o ajudado
informalmente - embora apenas em situações em que sangue não estava envolvido. Então
não era uma coisa nova pra mim, assisti-lo interagir com a garota como se ele fosse tão
humano quanto ela. Eu tinha invejado seu controle muitas vezes, mas não era o mesmo
que essa emoção. Eu invejei mais que seu controle. Eu sofri pela diferença entre Carlisle e
eu - que ele pudesse tocá-la tão gentilmente, sem receio, sabendo que nunca a
machucaria…
Ela estremeceu, e eu pulei do meu assento. Eu tive que me concentrar por um momento
para manter minha postura relaxada.
“Sensível ?” Carlisle perguntou.
Seu queixo se levantou um pouco. “Na verdade não,” ela disse.
Outro pequeno pedaço de sua personagem se encaixou: ela estava brava. Ela não gostava
de mostrar fraqueza.
Possivelmente a criatura mais vulnerável que eu já vi, e ela não quer parecer fraca. Uma
gargalhada escorregou através de meus lábios.
Ela me olhou novamente.
“Bem,” Carlisle disse. “Seu pai está na sala de espera - você pode ir pra casa com ele
agora. Mas volte se tiver vertigens ou qualquer problema com a sua visão.”
O pai dela estava aqui? Eu varri os pensamentos da sala de espera lotada, mas não
conseguia distinguir sua voz mental do grupo antes que ela estivesse falando de novo, o
rosto ansioso.
- Posso voltar pra a escola?
- Talvez devesse descansar hoje. - Carlisle sugeriu.
Os olhos dela se voltaram para mim. - Ele vai para a escola?
Agir normalmente… acalmar as coisas… esquecer a sensação quando ela me olha nos
olhos…
-Alguém tem que espalhar a boa notícia de que sobrevivemos. - eu disse.
- Na verdade - Carlisle corrigiu - a maior parte da escola parece estar na sala de espera.
Eu pressenti a reação dela dessa vez - sua aversão à atenção. Ela não me desapontou.
- Ah, não - ela lamentou e colocou as mãos no rosto.
Eu gostei que finalmente adivinhei uma coisa certa. Estava começando a entendê-la…
- Quer ficar aqui? - Carlisle perguntou.
- Não, não! - ela disse rapidamente, girando as pernas sob o colchão e escorregando para
ficar em pé. Ela tropeçou, sem equilíbrio, nos braços de Carlisle. Ele a pegou e a firmou.
Novamente, a inveja me inundou.
- Estou bem. - ela disse antes que ele pudesse comentar, um rosa claro em suas
bochechas.
Claro, aquilo não incomodaria Carlisle. Ele teve certeza que ela tinha recuperado o
equilíbrio e soltou as mãos.
- Tome um Tylenol para a dor. - ele instruiu.
- Não está doendo tanto assim.
Carlisle sorriu e assinou o prontuário dela. - Parece que vocês dois tiveram muita sorte.
Ela virou levemente o rosto, para me encarar com olhos rígidos. - A sorte foi Edward por
acaso estar parado ao meu lado.
- Ah, bem, sim. - Carlisle concordou depressa, escutando a mesma coisa na voz dela que
eu escutei. Ela não tinha pensado que suas suspeitas eram coisas da sua imaginação.
Ainda não.
Toda sua, Carlisle pensou. Cuide do jeito que achar melhor.
- Muito obrigado. - eu sussurrei, rápido e baixo. Nenhum humano me ouviu. Os lábios de
Carlisle se viraram um pouco para cima com o meu sarcasmo enquanto ele se virava para
Tyler. - Mas acho que você terá que ficar conosco por mais um tempinho. - ele disse
quando começou a examinar os cortes deixados pelo vidro quebrado.
Bom, eu tinha feito o estrago, então era justo que eu tivesse que lidar com ele.
Bella andou deliberadamente na minha direção, sem parar até que estivesse a uma
distância desconfortável. Lembrei como eu tinha desejado, antes de todo o estrago, que
ela se aproximasse de mim… Isso já era zombar desse desejo.
- Posso conversar com você um minuto? - ela sibilou para mim.
A sua respiração quente tocou meu rosto e eu tive que dar um passo para trás. A atração
dela não tinha diminuído nem um pouquinho. Toda vez que ela estava perto de mim,
despertava os meus piores instintos, os mais urgentes. Veneno inundou minha boca e meu
corpo ansiou para atacar - para puxá-la para os meus braços e despedaçar sua garganta
nos meus dentes.
Minha mente era mais forte que meu corpo, mas era por pouco.
- Seu pai está esperando por você. - eu a lembrei, com o queixo apertado.
Ela olhou para Carlisle e Tyler. Tyler não estava prestando nem um pouco de atenção, mas
Carlisle estava monitorando cada respiração que eu dava.
Cuidado, Edward.
- Gostaria de falar com você a sós, se não se importa. - ela insistiu em uma voz baixa.
Eu gostaria de dizer que me importava muito, mas sabia que teria que passar por isso uma
hora. Melhor acabar com isso de uma vez.
Estava cheio de tantas emoções em conflito quando eu saía do quarto, escutando-a
tropeçar nos próprios pés atrás de mim, tentando me acompanhar.
Tinha que atuar. Sabia que papel eu faria - eu já tinha escolhido o personagem. Seria o
vilão. Mentiria, ridicularizaria e seria cruel.
Isso era contra todos os meus melhores impulsos - os impulsos humanos aos quais tinha
me agarrado todos esses anos. Nunca quis merecer mais confiança do que nesse
momento, quando tinha que destruir qualquer possibilidade que ela existisse.
Foi pior saber que essa seria a última memória que ela teria de mim. Essa era a cena de
despedida.
Virei-me para ela.
- O que você quer? - perguntei friamente.
Ela se contraiu um pouco com a minha hostilidade. Seus olhos ficaram confusos, na
expressão que tinha me assombrado…
- Você me deve uma explicação. - ela disse em uma voz fraca; o rosto de marfim
empalideceu.
Foi muito difícil manter minha voz dura. - Eu salvei a sua vida… Não lhe devo nada.
Ela recuou - queimou como ácido ver que minhas palavras a machucavam.
- Você prometeu. - ela sussurrou.
- Bella, você bateu a cabeça, não sabe do que está falando.
Então ela se empertigou. - Não há nada de errado com a minha cabeça.
Ela estava irritada agora, e isso deixou as coisas mais fáceis para mim. Eu sustentei seu
olhar, deixando meu rosto menos amigável.
- O que você quer de mim, Bella?
- Quero saber a verdade. Quero saber por que estou mentindo por você.
O que ela queria era justo - me frustrou ter que negar isto para ela.
- O que você acha que aconteceu? - eu quase rosnei para ela.
Suas próximas palavras vieram em uma corrente. - Só o que eu sei é que você não estava
em nenhum lugar perto de mim… O Tyler também não o viu, então não venha me dizer
que bati a cabeça com força… Aquela van ia atropelar nós dois… E não aconteceu, e suas
mãos pareceram amassar a lateral dela… E você deixou um amassado no outro carro e não
está nada machucado… E a van devia ter esmagado minhas pernas, mas você a levantou…
- De repente, ela trincou os dentes e seus olhos estavam brilhando com lágrimas não
derramadas.
Eu a encarei, minha expressão de escárnio, embora o que sentisse mesmo era medo; ela
realmente tinha visto tudo.
- Acha que eu levantei a van? - eu perguntei sarcasticamente.
Ela respondeu com um aceno rápido.
Minha voz ficou ainda mais irônica. - Sabe que ninguém vai acreditar nisso.
Ela lutou para controlar a raiva. Quando me respondeu, ela falou cada palavra devagar. -
Não vou contar a ninguém.
Ela estava dizendo a verdade - Eu podia ver isso nos olhos dela. Mesmo furiosos e traídos,
ela iria guardar meu segredo.
Por quê?
O choque disso arruinou a minha expressão cuidadosamente projetada durante meio
segundo, e logo me recompus.
“E por que isso importa?” Eu perguntei, trabalhando para manter minha voz severa.
“Importa pra mim,” ela disse intensa. “Eu não gosto de mentir - então é melhor que tenha
um bom motivo para fazer isso.”
Ela me pediu para confiar nela. Exatamente como eu queria que ela confiasse em mim.
Mas esse lado da linha eu não podia atravessar.
A minha voz ficou calosa. “Você não pode só me agradecer e esquecer isso?”
“Obrigada,” ela disse, e logo ela fumigou silenciosamente, esperando.
“Você não vai esquecer isso, vai?”
“Não.”
“Nesse caso…” Eu não podia dizer ela a verdade se eu quisesse… E eu não podia querer.
Eu deixaria ela fazer sua própria história sobre quem eu era, por que nada podia ser pior
que a verdade - Eu estava vivendo um pesadelo, diretamente das páginas de uma história
de terror.
“Espero que você goste da decepção.”
Fizemos carranca um para o outro.
Foi ímpar quão amável sua raiva foi. Como um furioso gatinho, macio e inofensivo, e
também ignorante quanto a sua própria invulnerabilidade.
Ela ficou rosada e apertou seus dentes de novo. “Por que você se deu o trabalho então?”
Sua pergunta não era a que eu estava esperando ou preparado para responder.
Eu perdi as regras do jogo, as quais eu estava firmado. Eu senti a máscara escorregar da
minha face, e eu disse a ela - nesse único momento - a verdade.
“Eu não sei.”
Eu memorizei seu rosto uma última vez - ainda tinha alguns traços de raiva, o sangue
ainda não tinha parado de deixar suas bochechas rosadas - e então eu me virei e andei
para longe dela.
4 - Visões
Eu voltei para a escola. Esta era a coisa certa a se fazer, a maneira mais discreta para se
comportar.
No final do dia, quase todos os outros alunos tinham voltado para as classes também. Só
Tyler e Bella e alguns outros - que provavelmente estavam usando o acidente como uma
chance para matar aula - continuaram ausentes.
Não deveria ser tão difícil fazer a coisa certa. Mas, durante toda a tarde, estava batendo os
dentes contra o desejo que me deixara querendo matar aula também - ir procurar a garota
de novo.
Como um perseguidor. Um perseguidor obsessivo. Um vampiro perseguidor obsessivo.
A escola hoje estava - de algum modo, impossivelmente ainda mais tediosa do que tinha
sido há uma semana. Como coma. Era como se as cores tivessem sido drenadas dos
tijolos, das árvores, do céu, dos rostos ao meu redor.
Havia outra coisa certa que eu deveria estar fazendo… e não estava. Claro, também era
uma coisa errada. Tudo dependia da perspectiva que você olhava.
Da perspectiva de um Cullen - não só um vampiro, mas um Cullen, alguém que pertencia a
uma família, uma coisa tão rara em nosso mundo - a coisa certa a se fazer seria algo
assim:
- Estou surpreso de vê-lo na classe, Edward. Eu ouvi que você esteve envolvido naquele
acidente horrível hoje de manhã.
- Sim, eu estava, Sr. Banner, mas eu fui o sortudo. - Um sorriso amigável. - Eu não me
machuquei nem um pouco… gostaria de poder dizer o mesmo por Tyler e Bella.
- Como eles estão?
- Eu acho que Tyler está bem… só alguns arranhões superficiais do vidro do pára-brisas.
Embora não tenho certeza quando a Bella. - Uma careta preocupada. - Ela talvez tenha
uma concussão. Eu escutei que ela estava bastante incoerente por um tempo - até vendo
coisas. Eu sei que os médicos estavam preocupados…
Era assim que deveria ter sido. Era assim que eu devia à minha família.
- Estou surpreso em vê-lo na classe, Edward. Eu ouvi que você esteve envolvido naquele
acidente horrível hoje de manhã.
- Não me machuquei. - Sem sorriso.
O Sr. Banner mudou seu peso de um pé para o outro, desconfortável.
- Tem alguma idéia de como Tyler Crowley e Bella Swan estão? Ouvi que tiveram alguns
machucados…
Dei de ombros. - Não sei dizer.
O Sr. Banner limpou a garganta. - Ah, certo… - ele disse, meu olhar frio deixando sua voz
um pouco tensa.
Ele andou rapidamente de volta para frente da sala e começou a matéria.
Era a coisa errada a se fazer. A não ser que você olhasse de uma perspectiva mais
obscura.
Só que parecia tão… tão deselegante caluniar a garota pelas costas, especialmente quando
ela estava provando ser mais confiável do que eu podia ter sonhado. Ela não havia dito
nada para me trair, embora tivesse uma boa razão para o fazer. Eu iria traí-la quando ela
não tinha feito nada a não ser guardar meu segredo?
Eu tive uma conversa quase idêntica com a Sra. Goff - só que em espanhol ao invés de
inglês - e Emmett me olhou por um longo tempo.
Eu espero que você tenha uma boa explicação para o que aconteceu hoje. Rose está em
pé de guerra.
Eu revirei meus olhos sem olhar para ele.
Na verdade eu tinha criado uma explicação que parecia perfeita. Supondo que eu não
tivesse feito nada para parar a van antes que ela esmagasse a menina… eu tremi com esse
pensamento. Mas se ela tivesse sido atingida, se ela tivesse sido ferida e tivesse sangrado,
o fluído vermelho derramado, desperdiçado no asfalto, o cheiro de sangue fresco pulsando
pelo ar…
Eu tremi de novo, mas não só em terror. Parte de mim tremeu de desejo. Não, eu não
teria sido capaz de assistí-la sangrando sem expor a nós todos em um jeito muito mais
escandaloso e chocante.
Parecia a desculpa perfeita… mas eu não a usaria. Era vergonhosa demais.
E de qualquer maneira, eu não tinha pensando nela até bem depois do fato ter ocorrido.
Tome cuidado com Jasper, Emmett continuou, alheio aos meus pensamentos. Ele não está
tão nervoso… mas ele está mais decidido.
Eu vi o que ele quis dizer, e por um momento a sala girou ao meu redor. Meu ódio era tão
devorador que uma névoa vermelha encobriu minha visão. Eu pensei que fosse me fogar
nela.
CREDO, EDWARD! SE CONTROLE! Emmett gritou para mim em sua cabeça. Sua mão
desceu para o meu ombro, segurando-me em meu lugar antes que eu pudesse pular e
ficar em pé. Ele raramente usava sua força completa - raramente havia necessidade,
porque ele era tão mais forte que qualquer outro vampiro que qualquer um de nós já
tivesse encontrado - mas ele a usou agora. Ele agarrou meu braço, ao invés de me
empurrar para baixo. Se ele estivesse me empurrando, a cadeira embaixo de mim teria
desmoronado.
CALMA! Ele ordenou.
Eu tentei me acalmar, mas era difícil. A fúria queimava em minha cabeça.
Jasper não vai fazer nada até todos nós conversarmos. Eu só achei que você devia saber a
direção que ele está tomando.
Eu me concentrei em relaxar, e senti a mão de Emmett afrouxar.
Tente não chamar mais atenção. Você já está com problemas o suficiente do jeito que
está.
Eu respirei fundo e Emmett me soltou.
Eu procurei através da sala por rotina, mas nosso confronto tinha sido tão curto e
silencioso que só algumas pessoas sentadas atrás de Emmett tinham notado. Nenhuma
delas sabia o que pensar disso, e elas esqueceram. Os Cullens eram aberrações - todos já
sabiam disso.
Droga, garoto, você está horrível, Emmett acrescentou, seu tom simpático.
- Dane-se. - eu resmunguei entre dentes, e escutei sua risada baixa.
Emmett não guardava rancor, e eu provavelmente deveria estar mais agradecido por sua
natureza de fácil convívio. Mas eu podia ver que as intenções de Jasper faziam sentido
para Emmett, que ele estava considerando qual seria o melhor caminho a se tomar.
O ódio ferveu, mau sob controle. Sim, Emmett era mais forte do que eu, mas ele ainda não
havia me derrubado em uma luta. Ele dizia que era porque eu trapaceava, mas escutar
pensamentos era tão parte de mim quanto a força era dele. Nós lutávamos de igual para
igual.
Uma luta? Era essa a direção que tudo tomava? Eu iria lutar contra a minha família por
uma humana que eu mal conhecia?
Eu pensei sobre isso por um minuto, pensei na sensação do frágil corpo da garota nos
meus braços contra Jasper, Rose e Emmett - sobrenaturalmente fortes e rápidos, máquinas
de matar por natureza…
Sim, eu iria lutar por ela. Contra a minha família. Eu tremi.
Mas não era justo deixá-la desprotegida quando fui eu quem a colocou em perigo.
Eu não conseguiria ganhar sozinho, entretanto, não contra os três deles, e me perguntei
quais seriam meus aliados.
Carlisle, certamente. Ele não iria lutar contra ninguém, mas ele seria contra os planos de
Rose e Jasper. Talvez isso fosse tudo que eu precisasse. Eu iria ver…
Esme era incerta. Ela não ficaria contra mim também, e ela iria detestar discordar de
Carlisle, mas ela iria ser a favor de qualquer plano que mantivesse sua família unida. Sua
prioridade não seria o certo, e sim eu. Se Carlisle era a alma da família, Esme era o
coração. Ele nos deu um líder que merecia ser acompanhado, ela transformou isso em um
ato de amor. Todos nós nos amávamos - mesmo por baixo da fúria que eu sentia por
Jasper e Rose no momento, mesmo planejando lutar contra eles para salvar a garota, eu
sabia que eu os amava.
Alice… não fazia idéia. Provavelmente dependeria do que ela visse chegando. Ela ficaria do
lado do vencedor, imaginei.
Então eu teria que fazer isso sem ajuda. Sozinho eu não era páreo para eles, mas eu não
ia deixar a menina ser machucada por minha culpa. Isso talvez exigisse uma ação
evasiva…
Minha raiva diminuiu um pouco com o súbito humor negro. Eu podia imaginar como a
menina reagiria se eu a raptasse. É claro, eu raramente adivinhava suas reações - mas que
outra reação ela poderia ter além de terror?
Não tinha certeza como cuidar disso - raptá-la. Não seria capaz de ficar perto dela por
muito tempo. Talvez eu só a devolvesse à mãe. Mesmo isso seria repleto de perigo. Para
ela.
E também para mim, eu percebi de repente. Se eu a matasse por acidente… eu não tinha
certeza de quanta dor isso iria me causar, mas eu sabia que seria intensa e em várias
formas.
O tempo passou rapidamente enquanto eu meditava sobre todas as complicações à minha
frente: a discussão me esperando em casa, o conflito com a minha família, a distância que
eu seria forçado a percorrer depois de tudo…
Bom, eu não podia mais reclamar que a vida fora da escola era monótona. A garota tinha
mudado isso.
Emmett e eu andamos silenciosamente para o carro quando o sinal tocou. Ele estava
preocupado comigo, e preocupado com Rosalie. Ele sabia que lado teria que escolher em
uma disputa, e isso o incomodava.
Os outros estavam esperando por nós no carro, também silenciosos. Éramos um grupo
bem quieto. Só eu conseguia escutar a gritaria.
Idiota! Lunático! Imbecil! Estúpido! Egoísta, tolo irresponsável! Rosalie mantinha uma linha
constante de insultos a plenos pulmões. Ficou difícil ouvir os outros, mas eu a ignorei o
melhor que eu pude.
Emmett estava certo sobre Jasper. Ele estava seguro de seu plano.
Alice estava transtornada, preocupada com Jasper, passando por imagens do futuro. Não
importa por qual direção Jasper chegasse à garota, Alice sempre me via lá, o impedindo.
Interessante… nem Rosalie ou Emmett estavam com ele nessas visões. Então Jasper
planejava trabalhar sozinho. Isso deixaria as coisas eqilibradas.
Jasper era o melhor lutador, certamente o mais experiente entre nós: minha única
vantagem consistia no fato de que eu podia escutar seus movimentos antes que ele os
fizesse.
Eu nunca havia lutado mais que de brincadeira com Emmett ou Jasper - só passatempo.
Senti-me enjoado com o pensamento de realmente tentar machucar Jasper…
Não, não isso. Só impedi-lo. Isso era tudo.
Eu me concentrei em Alice, memorizando as diferentes formas de ataque de Jasper.
Quando eu fiz isso, as visões dela mudaram, se afastando mais e mais da casa dos Swan.
Eu o estava parando antes…
Pare com isso Edward! Não pode acontecer desse jeito. Eu não vou deixar.
Eu não a respondi, só continuei olhando.
Ela começou a olhar mais para frente, para o campo nebuloso e incerto de possibilidades
distantes. Tudo era sombrio e vago.
No caminho inteiro para casa, a atmosfera silenciosa não cedeu. Eu estacionei na grande
garagem perto da casa; a Mercedes de Carlisle estava ali, perto do Jeep enorme de
Emmett, o M3 de Rosalie e meu Vanquish. Fiquei contente que Carlisle já estava em casa -
o silêncio terminaria de forma explosiva, e eu queria que ele estivesse perto quando isso
acontecesse.
Fomos direto para a sala de jantar.
Essa sala nunca era, é claro, usada para o propósito para o qual fora construída. Mas era
mobiliada com uma longa mesa oval de mogno cercada por cadeiras - éramos cautelosos
em ter os acessórios para fingir. Carlisle gostava de usá-la como uma sala de conferência.
Em um grupo com tantas personalidades fortes e distintas, às vezes era necessário discutir
as coisas sentados, de um jeito calmo.
Eu tinha um pressentimento de que sentar não iria ajudar em muita coisa hoje.
Carlisle sentou em seu lugar habitual na ponta leste da mesa. Esme estava ao lado dele -
eles deram as mãos em cima da mesa.
Os olhos de Esme estavam em mim, as profundezas douradas deles cheias de
preocupação.
Fique. Foi seu único pensamento.
Eu queria poder sorrir para a mulher que era verdadeiramente uma mãe para mim, mas eu
não tinha como assegurá-la agora.
Eu sentei do outro lado de Carlsile. Esme se virou ao redor dele para colocar sua mão livre
no meu ombro. Ela não tinha idéia do que estava para começar, só estava se preocupando
comigo.
Carlisle tinha uma noção melhor do que estava chegando. Seus lábios estavam apertados
com força e sua testa estava enrugada. A expressão era muito velha para seu rosto jovem.
Quando todos os outros estavam sentados, eu pude ver as linhas serem desenhadas.
Rosalie sentou-se diretamente à frente de Carlisle, na outra ponta da grande mesa. Ela me
encarou, nunca desviando o olhar.
Emmett sentou ao lado dela, seu rosto e sua mente amargos.
Jasper hesitou, então foi ficar em pé contra a parede atrás de Rosalie. Ele estava decidido,
não importava o resultado dessa discussão. Meus dentes bateram.
Alice foi a última chegar, e seus olhos estavam concentrados em alguma coisa muito longe
- o futuro, ainda muito incerto para que ela fizesse uso dele. Sem parecer pensar ela
sentou perto de Esme. Ela esfregou a testa como se tivesse dor de cabeça. Jasper se
contorceu preocupado e considerou se juntar a ela, mas manteve sua posição.
Eu respirei fundo. Eu tinha começado isso - devia falar primeiro.
- Me perdoem. - Eu disse, olhando primeiro para Rosalie, depois para Jasper e então
Emmett. - Eu não tive a intenção de colocar nenhum de vocês em risco. Foi impensado,e
eu assumo total responsabilidade pelo meu ato precipitado.
Rosalie me encarou malignamente. - O que vocês quer dizer, ‘assume total
responsabilidade’? Você vai consertar?
- Não do jeito que você quer dizer. - Eu disse, tentando manter minha voz calma e
equilibrada. - Estou disposto a ir embora agora, se isso deixa as coisas melhores. - Se eu
acreditar que a garota ficará segura, se eu acreditar que nenhum de vocês irá tocá-la, eu
emendei na minha cabeça.
- Não. - Esme murmurou. - Não, Edward.
Eu dei um tapinha em sua mão. - São só alguns anos.
- Esme está certa. - Emmett disse. - Você não pode ir a lugar algum agora. Isso seria o
oposto de útil. Nós temos que saber o que as pessoas estão pensando agora mais do que
nunca.
- Alice pegará qualquer coisa grave. - eu discordei.
Carlisle balançou a cabeça. - Eu acho que Emmett tem razão, Edward. Vai ser mais fácil a
garota falar se você desaparecer. Ou todos nós vamos, ou ninguém vai.
- Ela não vai dizer nada. - eu insisti rapidamente. Rose estava processando uma explosão,
e eu queria esse fato claro antes.
- Você não conhece a mente dela. - Carlisle me lembrou.
- Disso eu tenho certeza. Alice, me dê cobertura.
Alice me olhou cansativamente. - Não consigo ver o que vai acontecer se nós ignorarmos
isso. Ela olhou de relance para Rose e Jasper.
Não, ela não conseguia ver esse futuro - não quando Rosalie e Jasper estavam tão
decididos em não ignorar o acidente.
A palma de Rosalie bateu na mesa com um barulho alto. - Não podemos permitir que a
humana tenha chance de dizer nada. Carlisle, você deve ver isso. Mesmo se decidirmos
todos desaparecer, não é seguro deixar histórias para trás. Nós vivemos de um jeito tão
diferente do resto do nosso tipo - você sabe que existem aqueles que iriam adorar uma
desculpa para fazer acusações. Temos que ter mais cuidado que qualquer um!
-Já deixamos rumores para trás antes. - eu a lembrei.
- Só rumores e suspeitas, Edward. Não testemunhas oculares e evidências!
- Evidência! - eu zombei.
Mas Jasper estava concordando, seus olhos duros.
-Rose… - Carlisle começou.
- Me deixe terminar, Carlisle. Não precisa ser nada que chame atenção. A menina bateu a
cabeça hoje. Então talvez aconteça de o machucado ser mais sério do que parecia. -
Rosalie deu de ombros. - Todo mortal vai dormir com a chance de nunca mais acordar. Os
outros iriam esperar que nós cuidássemos nós mesmos disso. Tecnicamente, isso seria
trabalho de Edward, mas isto está obviamente além dele. Você sabe que sou capaz de me
controlar. Eu não iria deixar nenhuma evidência para trás.
- Sim, Rosalie, todos nós sabemos a assassina eficiente que você é. - eu rosnei.
Ela sibilou para mim, furiosa.
- Edward, por favor. - Carlisle disse. Então se virou para Rosalie. - Rosalie, eu fui a favor
em Rochester porque eu senti que você devia ter justiça. Os homens que você matou
haviam lhe prejudicado monstruosamente. Essa não é a mesma situação. A garota Swan é
uma inocente.
- Não é nada pessoal, Carlisle. - Rosalie disse pelos dentes. - É para proteger a todos nós.
Houve um breve silêncio enquanto Carlisle pensava em sua resposta. Quando ele
concordou, os olhos de Rosalie brilharam. Ela devia saber melhor. Mesmo se eu não fosse
capaz de ler os pensamentos dele, eu podia ter previsto suas próximas palavras. Carlisle
nunca cedia.
- Eu sei que sua intenção é boa, Rosalie, mas… eu gostaria muito que nossa família fosse
digna de ser protegida. Os ocasionais… acidentes ou lapsos de controle são uma parte
lamentável de quem nós somos. - Era bem característico dele se incluir no plural, embora
ele próprio nunca tivesse tido esse tipo de lapso. - Assassinar uma criança sem culpa a
sangue frio é outra coisa completamente diferente. Eu acredito que o risco que ela
apresenta, quer ela fale suas suspeitas ou não, não é nada muito grave. Se abrirmos
exceções para nos proteger, estaremos arriscando algo muito mais importante. Nós
arriscamos perder a essência de quem somos.
Controlei minha expressão com cuidado. Não faria bem algum sorrir agora. Ou aplaudir,
como eu gostaria.
Rosalie olhou com uma cara feia. - É só ser responsável.
- É ser insensível. - Carlisle corrigiu gentilmente. - Toda vida é preciosa.
Rosalie suspirou pesadamente e seu lábio inferior fez um bico. Emmett deu um tapinha em
seu ombro. - Vai ficar tudo bem, Rosalie. - ele encorajou com uma voz baixa.
- A pergunta - Carlisle continuou. - é se nós devemos nos mudar ou não?
- Não. - Rosalie lamentou. - Acabamos de nos fixar. Não quero começar o segundo ano de
colegial outra vez!
- Você vai poder manter sua idade atual, claro. - disse Carlisle.
- E ter que mudar ainda mais cedo? - ela revidou.
Carlisle deu de ombros.
- Eu gosto daqui! Tem pouco sol, podemos ser quase normais.
- Bom, não precisamos decidir agora. Podemos esperar e ver se isso se torna uma
necessidade. Edward confia no silêncio da menina Swan.
Rosalie bufou.
Mas eu não estava mais preocupado com Rosalie. Podia ver que ela concordaria com a
decisão de Carlisle, não importa o quanto estivesse brava comigo. A conversa deles tinha
se voltado para detalhes sem importância.
Jasper continuou determinado.
Eu entendi o motivo. Antes dele e Alice se conhecerem, ele vivia em uma zona de
combate, um cenário de guerra impiedoso. Ele sabia as conseqüências de desprezar as
regras - já havia visto os medonhos resultados com os próprios olhos.
Dizia muita coisa o fato de ele não ter tentando acalmar Rosalie com seus talentos extras,
ou que agora não tentava incentivá-la. Ele se mantinha neutro na discussão - acima dela.
- Jasper. - eu disse.
Ele encontrou meus olhos, seu rosto inexpressível.
- Ela não vai pagar pelo meu erro. Não vou permitir.
- Ela tira proveito, então? Ela deveria ter morrido hoje, Edward. Eu só consertaria as
coisas.
Eu falei de novo, enfatizando cada palavra. - Não vou permitir.
Ele ergueu as sobrancelhas. Não estava esperando isso - ele não imaginava que eu fosse
impedi-lo.
Ele balançou a cabeça uma vez. - Não vou deixar Alice viver em perigo, mesmo que seja
leve. Você não sente por ninguém o que eu sinto por ela, Edward, e você não viveu o que
eu vivi, tendo visto minhas memórias ou não. Você não entende.
- Não estou discutindo isso, Jasper. Mas estou avisando que não vou deixar você machucar
Isabella Swan.
Nos encaramos - sem raiva, e sim avaliando o oponente. Eu senti que ele verificava o
ambiente ao meu redor, testando minha determinação.
- Jazz… -Alice disse, nos interrompendo.
Ele sustentou seu olhar mais um pouco, e então olhou para ela. - Não se incomode em
dizer que você pode cuidar de si mesma, Alice. Eu já sei disso. Eu ainda tenho que…
- Não é isso que eu vou falar. - Alice interrompeu. - Eu ia pedir um favor para você.
Eu vi o que estava na mente dela e minha boca se abriu com uma arfada audível. Eu olhei
para ela, chocado, só vagamente consciente de que todos tirando Alice e Jasper me
observavam cuidadosamente.
- Eu sei que você me ama. Obrigada. Mas eu gostaria muito que você não tentasse matar
Bella. Primeiro de tudo, Edward está falando sério e não quero vocês dois brigando.
Segundo, ela é minha amiga. Pelo menos vai ser.
Estava nítido na mente dela: Alice, sorrindo, com seus braços gelados envolta dos braços
quentes e frágeis da garota. E Bella estava sorrindo também, seu braço na cintura de Alice.
A visão era sólida como uma pedra; só o tempo era incerto.
- Mas, Alice… - Jasper ofegou. Não conseguia virar minha cabeça para olhar sua expressão.
Não conseguia me desviar da imagem na cabeça de Alice para olhar para ele.
- Eu vou amá-la algum dia, Jazz. Vou ficar muito chateada com você se não deixá-la viver.
Eu ainda estava preso nos pensamentos de Alice. Eu vi o futuro brilhar enquanto a
resolução de Jasper diminuía com o pedido inesperado dela.
- Ah… - Ela suspirou - a decisão dele tinha criado um novo futuro. - Vê? Bella não vai dizer
nada. Não há com o que se preocupar.
O modo como ela disse o nome da menina… como se elas já fossem confidentes…
- Alice - eu engasguei. - O que… isso?
- Eu disse que uma mudança estava vindo. Eu não sei, Edward. - Mas ela apertou o queixo
e eu podia ver que havia mais. Ela estava tentando não pensar nisso; de repente estava se
concentrando muito em Jasper, embora ele estivesse muito espantado para fazer algum
progresso com sua decisão.
Ela fazia isso às vezes, quando queria esconder algo de mim.
- O que é, Alice? O que está escondendo?
Ouvi Emmett resmungar. Ele sempre ficava frustrado quando Alice e eu tínhamos esses
tipos de conversa.
Ela sacudiu a cabeça, tentando me manter fora.
-É sobre a garota? - eu ordenei. - É sobre Bella?
Ela bateu os dentes se concentrando, mas quando eu falei o nome de Bella, ela
escorregou. Só durou meio segundo, mas foi o suficiente.
- NÃO! - eu gritei. Eu escutei a cadeira bater no chão e percebi que estava em pé.
- Edward! - Carlisle ficou em pé também, seu braço no meu ombro. Mal estava ciente dele.
- Está consolidando. - Alice sussurrou. - Cada minuto que passa você está mais decidido.
Só existem duas saídas para ela agora. É uma coisa ou outra, Edward.
Eu podia ver o que ela via… mas não queria aceitar.
- Não. - eu disse de novo; não tinha volume na minha negação. Minhas pernas ficaram
bambas e precisei me apoiar na mesa.
- Alguém por favor quer deixar o resto de nós saber do mistério? - Emmett reclamou.
- Eu tenho que ir embora. - eu sussurrei para Alice, ignorando-o.
- Edward, nós já falamos sobre isso. - Emmett disse alto. - Essa é a melhor maneira de
fazer a garota falar. Além do mais, se você for embora, nós não vamos ter certeza se ela
vai falar alguma coisa ou não. Você tem que ficar e lidar com isso.
- Não vejo você indo a lugar algum, Edward. - Alice me disse. - Não sei mais se você
consegue ir embora. - Pense, ela acrescentou silenciosamente. Pense sobre partir.
Eu vi o que ela quis dizer. Sim, a idéia de nunca mais ver a menina era… dolorosa. Mas
também era uma necessidade. Não conseguia aprovar nenhum dos futuros que
aparentemente eu a tinha condenado.
Não tenho certeza absoluta quanto ao Jasper, Edward. Alice continuou. Se você partir, ele
pensa que ela é um perigo para nós.
- Eu não vou ouvir isso. - eu a contradisse, ainda meio consciente da nossa platéia. Jasper
estava hesitante. Ele não faria algo que magoasse Alice.
Não neste momento. Você arriscaria a vida dela, a deixaria desprotegida?
-Por que está fazendo isso comigo? - eu gemi. Minha cabeça caiu em minhas mãos.
Eu não era o protetor de Bella. Não podia ser isso. O futuro dividido de Alice não era prova
suficiente disso?
Eu a amo também. Ou eu vou. Não é a mesma coisa, mas eu a quero por perto para isso.
- A ama também? - eu sussurrei, incrédulo.
Ela suspirou. Você é tão cego, Edward. Não consegue ver a direção que está tomando?
Não consegue ver onde já está? É mais inevitável do que o sol nascendo no leste. Veja o
que eu vejo…
Eu balancei minha cabeça, horrorizado. - Não. - eu tentei bloquear as visões que ela me
revelada. - Não tenho que seguir esse caminho. Eu vou embora. Eu vou mudar o futuro.
- Você pode tentar… - ela disse, a voz cética.
- Ah, por favor! - Emmett aumentou o tom de voz.
- Preste atenção. - Rosalie sibilou para ele. - Alice o vê se apaixonando por uma humana!
Isso é típico de Edward! - Ela tirou sarro.
Eu mal a ouvi.
- O quê? - Emmett disse, surpreso. Então sua risada de rugido ecoou pelo cômodo. - É isso
o que tem acontecido? - Ele riu de novo. - Parada dura, Edward.
Eu senti a mão dele no meu ombro, e a afastei distraído. Não conseguia prestar atenção
nele.
- Se apaixonando por uma humana? - Esme repetiu em uma voz impressionada. - Pela
garota que ele salvou hoje? Se apaixonar por ela?
- O que você vê, Alice? Exatamente. - Jasper pediu.
Ela se virou para ele; Eu continuei a olhar seu rosto, entorpecido.
- Tudo depende se ele é forte o bastante ou não. Ou ele irá matá-la com as próprias mãos
- ela girou para encontrar meu olhar outra vez - o que iria realmente me irritar, Edward,
sem mencionar o que iria fazer com você - ela olhou Jasper novamente - ou ela vai ser
uma de nós algum dia.
Alguém engasgou; não vi quem foi.
- Isso não vai acontecer! - eu estava gritando de novo. - Nenhum dos dois!
Alice não pareceu ter me escutado. - Tudo depende. - ela repetiu. - Talvez ele seja só forte
o suficiente para não matá-la - mas vai ser por pouco. Vai requerer uma quantidade
incrível de controle. - ela meditou. - Mais até o que Carlisle tem. Ele talvez seja forte só o
suficiente… A única coisa para qual ele não é forte o bastante é ficar longe dela. Essa é
uma causa perdida.
Não conseguia achar minha voz. Ninguém parecia ser capaz de achar sua. A sala ficou
imóvel.
Eu encarei Alice, e todos me encararam. Podia ver minha própria expressão de terror de
cinco pontos de vista diferentes.
Depois de um longo momento, Carlisle suspirou.
- Bom, isso… complica as coisas.
- Eu que o diga. - Emmett concordou. A voz dele era mais uma risada. Era com Emmett
mesmo, fazer piada na destruição da minha vida.
- Mas acho que o plano continua o mesmo. - Carlisle disse, ponderado. - Vamos ficar e
observar. Obviamente, ninguém irá… machucar a menina.
Eu enrijeci.
- Não. - Jasper disse calmamente. - Se Alice só vê duas saídas…
- Não! - minha voz não era um grito ou um rosnado ou choro de desespero, mas uma
combinação dos três. - Não!
Eu tinha que ir embora, ficar longe do som dos pensamentos deles - da aversão egoísta de
Rosalie, do humor de Emmett, da paciência infinita de Carlisle…
Pior: a confiança de Alice. A confiança de Jasper na confiança dela.
Pior de tudo: a… alegria de Esme.
Fui para fora da sala. Esme tocou meu braço quando eu passei, mas eu não reconheci o
gesto.
Estava correndo antes que estivesse fora da casa. Passei pelo rio em um pulo, e corri para
a floresta. A chuva tinha voltado, caindo tão pesada que eu me ensopei em poucos
segundos. Gostei da água espessa - criou uma parede entre eu e o resto do mundo. Me
rodeou, me deixou isolado.
Corri na direção leste, para longe das montanhas sem desviar da linha até que pude ver as
luzes de Seattle do outro lado da baía. Parei antes que chegasse à fronteira da civilização.
Cercado pela chuva, sozinho, eu finalmente me obriguei a ver o que tinha feito - como
tinha mutilado o futuro.
Primeiro, a visão de Alice e da garota com seus braços ao redor uma da outra - a confiança
e amizade eram tão óbvias que gritavam da imagem. Os olhos castanhos expressivos de
Bella não estavam confusos nessa visão, e sim cheios de segredos - nesse momento,
pareciam segredos felizes. Ela não se afastou do braço frio de Alice.
O que isso significava? O quanto ela sabia? Nessa visão congelada do futuro, o que ela
pensava de mim?
Então a outra imagem, tão parecida, só que colorida com horror. Alice e Bella, seus braços
ainda envolta uma da outra em sua amizade confiável. Mas agora não havia diferença
entre esses braços - os dois eram braços, macios e de mármore, duros como aço. Os olhos
atentos de Bella não eram mais castanhos chocolate. Suas íris eram de um escarlate vívido,
chocante. Os segredos neles eram insondáveis - aceitação ou angústia? Era impossível de
dizer. O rosto dela era frio e imortal.
Eu tremi. Eu não conseguia evitar as perguntas similares, mas diferentes: O que isso
significava - como isso aconteceu? E o que ela pensava de mim agora?
Eu podia responder essa última. Se eu a forçasse a fazer parte dessa meia vida vazia por
causa da minha fraqueza e egoísmo, com certeza ela me odiaria.
Mas havia mais uma imagem horrorosa - pior do que qualquer outra que já tive.
Meus próprios olhos, escarlate intensos com o sangue humano, os olhos de um monstro. O
corpo quebrado de Bella em meus braços, branco pálido, vazio, sem vida. Era tão concreta,
tão clara.
Não podia suportar ver isso. Não conseguia suportar. Tentei tirar da minha mente, tentei
ver alguma outra coisa, qualquer coisa. Tentei ver a expressão no rosto com vida dela que
tinha obstruído minha visão no último capítulo de minha existência. Tudo em vão.
A visão negra de Alice encheu minha cabeça, e eu me contorci internamente com a agonia
que ela causou. Enquanto isso, o monstro em mim estava cheio de felicidade, eufórico com
as chances de seu sucesso. Deixou-me enjoado.
Isso não podia ser permitido. Tinha que ter um jeito de transformar o futuro. Eu não
deixaria as visões de Alice me dizer o que fazer. Eu escolheria um caminho diferente.
Sempre existia uma escolha.
Tinha que existir.
5. Convites
Colegial. Não era mais o purgatório, agora era o inferno puro. Tormento e fogo… sim, eu
tinha os dois.
Eu estava fazendo a coisa certa agora. Todos os pingos nos i’s e os traços nos t’s. Ninguém
podia reclamar que eu estava evitando minhas responsabilidades agora.
Para deixar Esme feliz e proteger os outros, eu fiquei em Forks. Retornei para meu horário
antigo. Cacei mais que o resto deles. Todo dia, eu ia para a escola e fingia ser humano.
Todo dia, eu escutava cuidadosamente qualquer coisa nova sobre os Cullens - não tinha
nada novo. A garota não tinha falado uma palavra de suas suspeitas. Ela só repetiu a
história de novo e de novo - que eu estava ao lado dela e a tinha tirado do caminho - até
que os ouvintes ficaram entediados e pararam de pedir mais detalhes. Não havia perigo.
Minha ação precipitada não tinha machucado ninguém.
Ninguém além de mim.
Estava determinado a mudar o futuro. Não era a coisa mais fácil de se fazer, mas não tinha
outra escolha com a qual eu podia viver.
Eu tinha pensado que aquele primeiro dia tinha sido o mais difícil. No final dele, eu tinha
certeza que esse era o caso. Mas estava errado.
Estava amargurado, sabendo que tinha machucado a menina. Tirei conforto do fato de que
a dor dela não era nada mais do que uma picada - só uma pequena ferroada de rejeição -
comparada com a minha. Bella era humana, e ela sabia que eu era algo mais, algo errado,
algo assustador. Ela provavelmente se sentiria mais aliviada do que magoada quando eu
virasse meu rosto para longe dela e fingisse que ela não existe.
- Oi, Edward,- ela me cumprimentou no meu primeiro dia de volta a classe de biologia. A
voz dela estava agradável, amigável, 180 decibéis desde a ultima vez que eu falei com ela.
Por quê? O que a mudança queria dizer? Ela teria esquecido? Decidiu que ela imaginou
todo o episodio? Ela poderia possivelmente ter me perdoado por não cumprir minha
própria promessa?
As perguntas estavam queimando como a sede que me atacava toda vez que eu respirava.
Apenas por um instante eu olhei nos olhos dela. Só para ver se eu podia encontrar
respostas lá…
Não. Eu não podia me permitir nem mesmo isso. Não se eu fosse mudar o futuro.
Eu movi meu queixo devagar na direção dela sem olhar para longe da frente da sala. Eu
acenei com a cabeça uma vez, e então eu virei meu rosto para frente…
Ela não falou comigo de novo.
Aquela tarde, assim que a escola terminou, meu papel também terminou, eu fui até Seattle
como eu tinha feito um dia antes. Parecia que eu poderia agüentar a dor apenas
levemente melhor quando eu estava voando ao longo do chão, transformando tudo a
minha volta em um borrão verde.
Essa corrida se tornou meu habito diário.
Eu a amava? Eu não acho que era isso. Não ainda. A visão de Alice do futuro que eu tinha
preso comigo, embora, eu pudesse ver quão fácil seria me apaixonar por Bella. Isso seria
exatamente como cair: Sem esforço. Não deixar de amá-la seria o oposto da queda - como
ser puxado de um penhasco, eu apoiei meu rosto sobre a mão, a tarefa foi cansativa,
como se eu já não tivesse força mortal.
Mais de um mês se passou, e cada dia era mais difícil. Isso não fazia sentido para mim -
me manter perto dela, para que as coisas fossem mais fáceis. Devia significar isso quando
Alice disse que eu não desejaria, e não conseguiria ficar longe da menina. Ela tinha visto a
escalada da dor. Mas eu podia lidar com a dor.
Eu não iria destruir o futuro da Bella. Se eu fosse destinado ao amor dela, e então ela não
fosse evitar, esse era o mínimo que eu podia fazer?
Evitar ela era o máximo que eu podia agüentar; entretanto. Eu podia fingir ignorá-la, e
nunca estar em seu caminho. Eu podia fingir que ela não me interessava. Mas se essa era
medida, eu apenas faria de conta, e não seria real.
Eu ainda flutuava a cada respiração dela, cada palavra que ela dizia.
Eu aglomerava meus tormentos em quatro categorias.
Os dois primeiros eram familiares. O seu aroma e o seu silêncio. Ou, ao invés - assumir a
responsabilidade por mim mesmo ao que ela pertencia - a minha sede era minha
curiosidade.
A sede era o meu primeiro tormento. Eu tornei um hábito, agora, simplesmente não
respirar na aula de Biologia. Mas é claro, sempre há exceções - quando eu tinha de
responder a uma pergunta ou algo do tipo, e eu teria necessidade de falar usando meu
fôlego. Cada vez que eu saboreasse o ar em torno da garota, que era o mesmo desde o
primeiro dia - fogo e violência brutal e a necessidade desesperada de me livrar. Era mesmo
um pouco difícil de agarrar a razão ou retenção nesses momentos. E, como no primeiro
dia, o monstro estava prestes a rugir, tão perto da superfície…
A curiosidade era um dos meus constantes tormentos. Uma coisa que nunca saiu da minha
cabeça: O que ela está pensando agora? Ao ouvi-la calmamente suspirar. Quando ela
passava um dos dedos sobre o cabelo. Quando ela jogava o livro com mais força do que o
normal. Quando ela chegava na aula tarde. Quando ela batia seu pé, impaciente, sobre o
chão. Cada movimento que eu pegava na minha visão periférica era um irritante mistério.
Quando ela conversava com os outros alunos humanos, eu analisava todas as palavras e
seu tom. Será que ela dizia o que estava pensando, ou ela pensava no que iria dizer? Se
isso soava para mim como se ela estivesse tentando dizer o que a sua audiência esperava,
e isso me fez lembrar da minha família e de nossa vida diária da ilusão - nos éramos
melhores do que ela estava sendo. Ao menos eu estava errado sobre isso, apenas
imaginando coisas. Por que ela iria ter um papel a desempenhar? Ela era um deles - uma
jovem adolescente.
Mike Newton era o mais surpreendente dos meus tormentos. Quem teria sonhado que um
tão comum e entediante mortal poderia ser tão irritante? Para ser justo, eu deveria ter de
sentir gratidão pelo entediante garoto; mais do que os outros, ele fazia a garota falar. Eu
aprendi muito sobre ela através dessas conversas - eu ainda montava a minha lista -, mas
contrariamente, a assistência de Mike com este projeto só me deixava mais irritado.
Eu não queria que Mike fosse o único a descobrir segredos. Eu queria fazer isso.
Ele nunca percebeu as pequenas revelações que ela fazia, seus pequenos discúidos.
Ele não sabia nada sobre ela. Ele criou uma Bella em sua cabeça, que não existia - uma
menina tão comum como ele era. Ele não tinha observado a generosidade e bravura que a
distingüia dos outros humanos, ele não conhecia a anormal maturidade das suas falas. Ele
não percebia que, quando ela falava de sua mãe, ele falava de sua mãe como se ela fosse
uma criança e não o contrário - amorosa, indulgente, um pouco divertida, e ferozmente
protetora.
Ele não percebia a paciência em sua voz quando ela fingia interesse no caminho das
conversas, e não adivinhava o que havia atrás de sua paciente bondade.
Embora nas conversas com Mike, eu fosse capaz de adicionar a qualidade mais importante
para a minha lista, e mais reveladora de todas elas, tão simples como rara. Bella era boa.
Todas as outras coisas somadas com tudo - agradável, discreta, altruísta, amorosa e
corajosa - ela era cada vez melhor através do tempo.
Não me tornavam mais gentil com o garoto, no entanto. A maneira como ele ficava
possessivo quando via a Bella - como se ela fosse feita para ele - me provocou quase raiva
com o seu rude fantasiar sobre ela. Ele estava se tornando mais confiante de si mesmo,
também, quando o tempo passou, ele considerou isso ao vê-la preferi-lo aos seus rivais -
Tyler Crowley, Erick Yorkie, e sempre, esporadicamente, eu mesmo. Ele se sentava
rotineiramente ao seu lado na mesa, conversando com ela, encorajado por seus sorrisos.
Apenas educados sorrisos, eu disse a mim mesmo. Eu freqüentemente me pegava
imaginando, entretido, rebatendo ele contra a parede da sala… É muito provável que ele
não fosse se ferir fatalmente…
Mike muitas das vezes não pensava em mim como um rival. Após o acidente, ele ficou
preocupado que Bella e eu fossemos criar vínculos a partir da experiência partilhada, mas
obviamente teve o resultado oposto. Naquela época, ele ainda tinha ficado irritado que eu
e Bella tínhamos deixado o seu grupo de atenções. Mas agora eu o ignorei perfeitamente
como os outros, e ele progrediu complacente.
O que ela estava pensando agora? Será que ela gostava de ser o centro das atenções?
E, finalmente o último dos meus tormentos, o mais doloroso: A indiferença de Bella. Como
eu havia ignorado ela, ela me ignorou também. Ela nunca tentou falar comigo novamente.
Com tudo que eu sabia, ela nunca pensou em mim novamente.
Isso poderia me levar a loucura- ou até mesmo mudar minha decisão para alterar o futuro
- exceto que ela às vezes me encarava como ela havia feito antes. Eu não a via para mim,
como se eu não pudesse me permitir olhar para ela, mas Alice sempre nos advertia quando
ela estava prestes a me encarar; Os outros estavam sendo cuidadosos com o
conhecimento problemático da garota.
Aliviava um pouco a dor quando ela me olhava de longe de vez em quando. É claro que ela
poderia estar imaginando que tipo de louco que eu era.
“Bella vai encarar Edward em um minuto. Pareça normal.” Alice disse uma terça-feira de
Março, e os outros tomaram cuidado para gesticular e se mexer como um humano; ficar
totalmente parado era um hábito da nossa espécie.
Eu prestei atenção para quantas vezes ela olhava na minha direção. Me agradava, apesar
de não dever agradar, que a freqüência não diminuía conforme o tempo passava. Eu não
sabia o que aquilo significava, mas me fazia me sentir melhor.
Alice suspirou. “Eu gostaria…”
“Fique fora disso, Alice,” Eu disse por baixo do fôlego. “Não vai acontecer”
Ela fez um bico. Alice estava ansiosa para formar sua amizade iminente com Bella. De uma
forma estranha ela sentia falta da garota que ela nem conhecia.
“Eu admito que você é melhor do que eu pensei. Você tem seu futuro todo determinado e
sem sentido de novo. Espero que você esteja feliz” Ela pensou.
“Faz bastante sentido pra mim.”
Ela fez um som impaciente de forma delicada.
Eu tentei a ignorar, estava muito impaciente para conversas. Eu não estava de bomhumor-
mais tenso do que eu deixava qualquer um deles ver. Só Jasper sabia como eu
estava, sentindo o stress ao meu redor com sua habilidade única de sentir e influenciar o
humor das pessoas ao redor. Ele não entendia as razões por trás dos humores e - como
seu estava constantemente em um humor ruim- ele ignorava.
Hoje seria um dia difícil. Mais difícil que o dia anterior, esse era o padrão.
Mike Newton, o garoto odiável com quem eu não podia me permitir virar rival, ia chamar
Bella para um encontro.
O baile que as garotas escolhiam o par estava chegando, e ele esperava muito que Bella o
chamasse. E que ela não havia feito nada que abalava a confiança dele. Agora ele estava
desconfortavelmente preso - eu gostava do desconforto dele mais do que eu devia -
porque Jessica Stanley tinha acabado de o chamar. Ele não queria dizer “sim”, esperando
que Bella o escolhesse (e provar que ele era o vitorioso entre seus rivais), mas ele não
queria dizer “não” e acabar perdendo o baile. Jessica, magoada pela sua hesitação e
imaginando a razão por trás disso, estava tendo pensamentos raivosos contra Bella. Eu
entendi o instinto melhor agora, mas só me fez mais frustrado quando eu não podia agir.
E pensar que tinha chegado a esse ponto! Eu estava totalmente fixado nos dramas da
escola que um dia eu havia simplesmente ignorado.
Mike estava trabalhando na sua coragem conforme ele andava com Bella até a aula de
biologia. Eu ouvi sua luta interna enquanto eu esperava eles chegarem. O garoto era fraco.
Ele tinha esperado por essa festa de propósito, com medo de fazer seu afeto reconhecido
antes dela ter mostrado uma preferência por ele. Ele não queria ficar vulnerável para uma
possível rejeição, preferindo que ela desse aquele passo antes.
Covarde.
Ele sentou do nosso lado de novo, confortável com a familiaridade, e eu imaginei o som
que seu corpo faria se batesse contra a parede oposta com força suficiente para quebrar a
maioria dos seus ossos.
- Então - ele disse pra garota, seus olhos no chão. - Jessica me chamou para o baile de
primavera.
- Isso é ótimo. - Bella respondeu imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não sorrir
conforme Mike se dava conta de seu tom. Ele estava esperando por consternação. - Você
vai se divertir muito com a Jessica.
Ele refletiu sobre a resposta certa. - Bem… - ele hesitou, e quase desistiu. Então voltou ao
trilho. - Eu falei pra ela que ira pensar sobre isso.
“Por que você faria isso?” ela perguntou. O tom dela era mais de desaprovação, mas ainda
tinha uma pontada de alívio também.
O que aquilo significava? Uma fúria inesperada fez com que minhas mãos se curvassem
nos meus punhos com força.
Mike não ouviu o alívio. O rosto dele vermelho - com a raiva que eu estava parecia um
convite - e ele olhou para o chão de novo enquanto falava.
“Eu estava pensando….talvez você estivesse pensando em me chamar.”
Bella hesitou.
Naquele momento de hesitação, eu vi o futuro mais claramente do que Alice.
Ela talvez possa dizer sim para a pergunta implícita de Mike, talvez não, mas ainda assim,
algum dia ela diria sim para alguém. Ela era adorável, intrigante e outros homens notavam
isso. Se ela fosse se prender a alguém nesse grupo insalubre, ou esperasse para estar livre
de Forks, o dia que ela diria sim chegaria.
Eu vi a vida dela como tinha visto no dia anterior - faculdade, carreira…amor, casamento.
Eu vi ela de braços dados com seu pai, vestida de branco, seu rosto corado de felicidade
conforme ela se movia com a marcha nupcial de Mendelssohn.
A dor era mais forte do que jamais tinha sido. Um humano teria que estar à beira da morte
para sentir essa dor- um humano não sobreviveria a isso.
E não só a dor mas o ódio.
A raiva também doía de uma forma física. Mesmo que esse garoto insignificante não seja
para quem Bella diga sim; Eu queria esmagar o crânio dele na minha mão, para deixar ele
representar quem ela escolher.
Eu não entendia essa emoção - era uma mistura de dor e raiva e desejo e desespero. Eu
nunca havia me sentido assim antes; não podia definir isso.
“Mike, acho que você devia dizer sim,” Bella disse de forma gentil.
As esperanças de Mike desapareceram. Em outras circunstâncias eu teria gostado mas eu
estava preso no choque após a dor - e o remorso que a dor e a raiva tinham me dado.
Alice estava certa. Eu não era forte o suficiente.
Agora, Alice estaria vendo o futuro contorcido e revirando, ficando confuso de novo. Isso a
agradaria?
“Você já chamou alguém?” Mike perguntou sóbrio. Ele deu uma olhada para mim,
suspeitando pela primeira vez em um bom tempo. Eu notei que nunca tinha disfarçado
meu interesse bem, minha cabeça estava inclinada na direção de Bella.
A raiva descontrolada nos pensamentos dele - raiva por qualquer um que ela preferisse -
de repente deu um nome ao meu sentimento.
Eu estava com ciúmes.
“Não” Ela disse achando um pouco de graça. “Eu não vou mesmo.”
Por trás de todo o remorso e raiva, eu senti alívio nas palavras dela. De repente eu estava
considerando os meus rivais.
“Por que não?” Mike perguntou de uma forma quase mal-educada. Me ofendia que ele
falasse assim com ela. Eu me segurei.
“Eu vou para Seattle nesse sábado.” Ela respondeu.
A curiosidade não era mais tão viciante quanto antes - agora que eu estava mais
concentrado em descobrir as respostas e tudo mais. Eu saberia os porquês e quando dessa
revelação.
O tom de Mike continuou grosso. “Você não pode ir outro dia?”
“Desculpa, não.” Bella foi mais brusca agora. “Então você não deveria fazer Jess esperar
mais - È falta de educação.”
A preocupação dela com os sentimentos de Jessica diminuiu as chamas do meu ciúme.
Essa viagem para Seattle me parecia suspeita como uma desculpa para dizer não - ela
recusou puramente por lealdade a amiga? Ela realmente queria poder dizer sim? Ou os
dois palpites estavam errados? Ela estava interessada em outra pessoa?
“…, você tem razão.” Mike murmurou, com a moral tão baixa que eu quase senti pena
dele. Quase.
Ele parou de olhar para ela, cortando minha visão do rosto dela na sua mente.
Eu não podia tolerar isso.
Eu virei para ler a expressão dela por mim mesmo, pela primeira vez em mais de um mês.
Foi um alívio poder me autorizar a fazer isso, como respirar depois de muito tempo
embaixo d’água era para humanos.
Os olhos delas estavam fechados e suas mãos de cada lado do seu rosto. Seus ombros
curvados pra frente de forma defensiva. Ela balançava a cabeça suavemente, como se ela
estivesse tentando parar de pensar em alguma coisa.
Frustrante. Fascinante.
A voz do Sr.Banner a tirou da sua reflexão e seus olhos abriram devagar. Ela olhou para
mim imediatamente, talvez sentindo que eu a olhava. Ela me olhou nos olhos com a
mesma expressão perplexa que tinha me perseguido.
Eu não senti remorso ou culpa ou raiva naquele segundo. Eu sabia que eles reapareceriam,
logo mas por hora era até um pouco excitante. Como se eu tivesse ganhado e não perdido.
Ela não parou de me olhar mesmo eu encarando-a com uma intensidade imprópria,
tentando sem sucesso ler seus pensamentos por seus olhos castanhos. Eles estavam
cheios de perguntas ao invés de respostas.
Eu podia ver a reflexão dos meus próprios olhos, vi eles pretos com sede. Já haviam
passado quase duas semanas desde a última vez que eu cacei; isso não era o modo mais
seguro de sucumbir a minha vontade. Mas a escuridão não pareceu assustar ela. Ela não
olhou em outra direção e uma leve cor vermelha começou a aparecer na sua face.
O que ela estava pensando agora?
Eu quase perguntei em voz alta, mas quase ao mesmo momento Sr.Banner chamou meu
nome. Eu ouvi a resposta certa na sua mente e olhei rapidamente na sua direção.
Eu respirei rapidamente. “Ciclo de Krebs.”
A sede coçou minha garganta - fazendo meus músculos mais tensos e enchendo minha
boca com veneno. - eu fechei os olhos, tentando me concentrar apesar do desejo pelo
sangue dela que pulsava dentro de mim.
O monstro estava mais forte do que antes. O monstro estava reaparecendo. Ele se juntou
a esse futuro que dava a ele uma chance de 50% que ele desejava de maneira cruel.
O terceiro futuro incerto eu havia tentando construir por força de vontade apenas tinha
sido destruído - pelo ciúmes, acima de tudo. - e por isso o monstro estava cada vez mais
perto de ter seu desejo.
O remorso e a culpa me queimaram assim como a sede e se eu tivesse como produzir
lágrimas elas estariam se formando agora.
O que foi que eu fiz?
Sabendo que a batalha estava perdida, não parecia ter mais uma razão para resistir o que
eu queria; eu virei para encarar Bella novamente.
Ela havia se escondido no próprio cabelo, mas eu podia ver que seu rosto estava
totalmente vermelho agora.
O monstro gostou daquilo.
Ela não me olhou novamente, mas mexeu de forma nervosa em uma mecha de cabelo.
Seus dedos delicados, seu pulso delicado - eles eram tão frágeis, parecendo que só minha
respiração podia os romper.
Não, não, não. Eu não podia fazer isso. Ela era muito frágil, boa demais, preciosa demais
para merecer esse destino. Eu não podia permitir que minha vida colidisse com a dela,
destruir a vida dela.
Mas eu não podia ficar longe dela também. Alice estava certa sobre isso.
O monstro dentro de mim se manifestou, frustrado conforme eu pensava.
Minha breve hora passou muito rápido. O sinal tocou e ela começou a arrumar as coisas
sem olhar para mim. Isso me decepcionou mas eu não podia esperar nada menos. O jeito
que eu tinha a tratado desde o acidente foi inaceitável.
“Bella?” eu disse, sem conseguir me segurar. Minha força de vontade despedaçada.
Ela hesitou antes de olhar pra mim; quando ela virou sua expressão estava defensiva e
desconfiada.
Eu relembrei a mim mesmo que ela tinha o direito de desconfiar de mim. Ela devia.
Ela esperou que eu continuasse mas eu só olhei para ela lendo sua expressão. Eu respirava
forte em intervalos regulares, lutando contra minha sede.
“O que?” Ela finalmente perguntou. “Você está falando comigo novamente?” Havia um
pingo de ressentimento em sua voz, como sua raiva aparecendo. Isso me fez sorrir.
Eu não tinha certeza de como responder a pergunta dela.Eu devia falar com ela de novo?
Não. Não se eu pudesse evitar. Eu tentaria.
“Não, na verdade não.” Eu falei para ela.
Ela fechou os olhos, o que me frustrou. Eu me permiti o máximo para tentar acessar os
seus sentimentos. Ela respirou fundo sem abrir os olhos. Seu maxilar estava rígido.
Com olhos fechados, ela falou. Certamente não era o jeito normal de conversar. Porque ela
fazia isso?
“Então o que você quer, Edward?”
O som do meu nome nos lábios dela fez algo estranho ao meu corpo. Se meu coração
batesse, estaria acelerado.
Mas como responder para ela?
Com a verdade, eu decidi. Seria o mais sincero que eu podia ser com ela a partir de agora.
Eu não queria merecer sua desconfiança, mesmo omitir a verdade era impossível.
“Me desculpe.” Eu falei. Era a melhor verdade que ela poderia saber. Infelizmente o único
jeito seguro de me desculpar era de maneira trivial. “Eu estou sendo muito mal educado,
eu sei. Mas é melhor assim, acredite.”
Seria melhor se eu pudesse continuar sendo mal educado. Será que eu conseguiria?
Os olhos dela abriram, sua expressão ainda cautelosa.
“Não sei o que você quer dizer.”
Eu tentei o máximo que podia por um aviso entrelinhas para ela. “… melhor para nós não
sermos amigos.” Certamente ela podia sentir a verdade. Ela era esperta. “Confie em mim.”
Os olhos dela se estreitaram e eu lembrei que eu havia dito as palavras para ela antes -
logo antes de quebrar a promessa. Eu me encolhi quando ela travou o queixo - ela
claramente lembrava também.
“… uma pena você não ter descoberto isso antes.” Ela disse brava. “Você poderia ter
evitado todo esse arrependimento.”
Eu a encarei em choque. O que ela sabia dos meus arrependimentos?
“Arrependimento? Arrependimento pelo que?” Eu exigi.
“Por não ter deixado aquela van idiota me esmagar!” ela respondeu bruscamente.
Eu congelei, entorpecido.
Como ela podia pensar isso? Salvar sua vida tinha sido a única coisa certa que eu fiz desde
que a conheci. A única coisa de que não me envergonhava. A única coisa que me deixava
feliz em existir. Estive lutando para mantê-la viva desde o primeiro momento em que senti
seu cheiro. Como ela podia estar pensando isso de mim? Como se atrevia questionar meu
único ato de bondade em toda essa bagunça?
- Acha que me arrependo de ter salvado você?
- Eu sei que se arrepende.
A avaliação dela das minhas intenções me deixou fervendo de raiva. - Você não sabe de
nada.
Como sua mente funcionava de um jeito confuso e incompreensível! Ela não devia pensar
do mesmo modo que os outros humanos. Essa devia ser a explicação por trás de seu
silêncio mental. Ela era completamente diferente.
Ela virou o rosto, batendo os dentes. Suas bochechas estavam vermelhas, com raiva de
novo. Ela juntou os livros em uma pilha, os colocou nos braços e marchou na direção da
porta sem encontrar meu olhar.
Mesmo irritado como eu estava, era impossível não achar seu ódio divertido.
Ela andou desajeitada, sem olhar para onde ia, e seu pé bateu no batente da porta. Ela
tropeçou, e todas as coisas caíram no chão. Ao invés de se curvar para pegá-las, ficou
parada, rígida, sem ao menos olhar para baixo, como se não tivesse certeza de que os
livros merecessem ser recuperados.
Consegui não dar risada.
Ninguém estava aqui para me ver; eu fui rapidamente para o seu lado e juntei os livros
antes que ela olhasse para baixo.
Ela se inclinou, me viu, e parou. Entreguei os livros para ela, tomando cuidado para que
minha pele gelada não tocasse a dela.
- Obrigada. - ela disse numa voz fria, severa.
Seu tom trouxe minha irritação à tona.
- Não há de quê. - respondi no mesmo tom frio.
Ela se endireitou e foi para sua próxima aula.
Eu fiquei olhando até que não pudesse mais ver sua figura nervosa.
A aula de espanhol passou em um borrão. A Sra. Goff não questionou minha distração - ela
sabia que meu espanhol era superior ao dela, e me deu liberdade - me deixando livre para
pensar.
Então, eu não podia ignorar a garota. Isso era óbvio. Mas isso significava que eu não tinha
outra saída a não ser destruí-la? Este não podia ser o único futuro disponível. Tinha que ter
alguma outra escolha, algum equilíbrio. Tentei pensar em um jeito…
Não prestei muita atenção em Emmett até que a aula terminou. Ele estava curioso -
Emmett não era muito intuitivo sobre os sentimentos dos outros, mas ele podia ver uma
óbvia mudança em mim. Perguntou-se o que teria acontecido para tirar o insistente olhar
de ódio do meu rosto. Ele lutou para definir a mudança, e finalmente decidiu que eu
parecia esperançoso.
Esperançoso? Era assim que eu parecia por fora?
Refleti com a idéia de esperança enquanto andávamos para o Volvo, me perguntando
sobre o que exatamente eu devia ter esperança.
Mas não tive que refletir por muito tempo. Sensível aos pensamentos dos outros sobre a
garota como eu era, o som do nome de Bella nas cabeças dos meus… dos meus rivais, tive
que admitir, chamou minha atenção. Eric e Tyler, tendo escutado - com muita satisfação -
do fracasso de Mike, estavam se preparando para agir.
Eric já estava pronto, encostado na picape dela, de modo que ela não conseguisse evitá-lo.
A aula de Tyler estava atrasada por causa de um trabalho, e ele estava desesperado para
pegá-la antes que ela escapasse.
Isso eu tinha que ver.
- Espere pelos outros aqui, está bem? - murmurei para Emmett.
Ele me olhou, suspeito, mas então deu de ombros e acenou.
O garoto ficou louco, ele pensou, divertido com meu pedido esquisito.
Eu vi a Bella saindo do ginásio, e esperei ela passar de um lugar onde ela não me veria.
Quando ela se aproximou da emboscada de Eric, eu fui para mais perto, andando num
ritmo que me faria passar no momento certo.
Eu observei o corpo dela ficar tenso quando viu o garoto a esperando. Ela parou por um
momento, então relaxou e continuou andando.
- Oi, Eric. - eu a escutei falar num tom amigável.
Fiquei inesperadamente ansioso. E se esse menino magro e com problemas de pele fosse
de algum modo atraente para ela?
Eric engoliu alto, seu pomo-de-adão tremendo. - Oi, Bella.
Ela parecia inconsciente do nervosismo dele.
- E aí? - ela perguntou, destrancando a picape sem olhar para a expressão assustada que
ele tinha.
-É… só estava pensando… se você gostaria de ir ao baile de primavera comigo. - a voz dele
tremeu.
- Pensei que as meninas é quem deviam convidar. - ela disse, parecendo frustrada.
- Bom, e é. - ele concordou infeliz.
Esse pobre menino não me irritou tanto quanto Mike Newton, mas eu não conseguia achar
dentro de mim qualquer simpatia por sua angústia até que Bella lhe respondeu com uma
voz gentil.
- Obrigada por me convidar, mas vou a Seattle nesse dia.
Ele já tinha ouvido isso; mesmo assim, ficou desapontado.
-Ah - ele murmurou. - Bom, quem sabe na próxima?
- Claro. - ela concordou. Então mordeu o lábio, como se tivesse se arrependido de dar uma
brecha a ele. Gostei disso.
Eric se afastou da picape e foi embora, indo na direção errada para seu carro, querendo só
escapar dali.
Passei por ela nesse momento, e escutei seu suspiro de alívio. Dei risada.
Ela se virou ao som, mas eu olhei para frente, tentando evitar que meus lábios se
contorcessem em divertimento.
Tyler estava atrás de mim, quase correndo na pressa de falar com ela antes que ela
pudesse ir para casa. Ele estava mais destemido e confiante que os outros dois; só tinha
esperado tanto tempo para abordar Bella porque respeitava que Mike a tinha visto
primeiro.
Queria que ele conseguisse falar com ela por dois motivos. Se - eu estava começando a
suspeitar - toda essa atenção fosse irritante para Bella, eu queria aproveitar e assistir sua
reação. Mas, se não - se o convite de Tyler fosse o que ela estava esperando - então eu
queria saber disso também.
Medi Tyler Crowley como um rival, sabendo que isso era errado de se fazer. Ele parecia
tediosamente comum e pouco notável para mim, mas o que eu sabia das preferências de
Bella? Talvez ela gostasse de garotos comuns…
Estremeci com esse pensamento. Eu jamais conseguiria ser um garoto comum. Que tolice
era me colocar como rival de seus afetos. Como ela poderia se importar com alguém que
era, sob qualquer ângulo, um monstro?
Ela era boa demais para um monstro.
Eu devia deixá-la escapar, mas minha curiosidade indesculpável evitou que fizesse a coisa
certa. De novo. Coloquei meu Volvo na pista estreita, bloqueando a saída dela.
Emmett e os outros estavam vindo, mas ele tinha descrito meu comportamento estranho
para eles, então estavam andando lentamente, me observando, tentando entender o que
eu estava fazendo.
Eu olhei a garota pelo retrovisor. Ela olhou meu carro com raiva, encontrando meu olhar,
como se quisesse estar dirigindo um tanque do que uma picape Chevy enferrujada.
Tyler correu para o seu carro e entrou na fila atrás dela, agradecendo meu comportamento
inexplicável. Ele acenou para ela, para chamar sua atenção, mas ela não notou. Ele
esperou um momento, então saiu do carro, vagando para a janela do carona dela. Bateu
no vidro.
Ela pulou, então olhou para ele confusa. Depois de um segundo, abriu as janelas
manualmente, parecendo ter alguns problemas com elas.
- Desculpe, Tyler. - ela disse numa voz irritada. - Estou presa atrás do Cullen.
Ela falou meu sobrenome com uma voz dura - ainda estava brava comigo.
- Ah, eu sei - Tyler disse, não se importando com o humor dela. - Eu só queria perguntar
uma coisa enquanto estamos atolados aqui.
O sorriso dele era convencido.
Fiquei aliviado com o jeito que ela empalideceu com a tentativa óbvia dele.
- Vai me convidar para o baile de primavera? - ele perguntou, nenhum pensamento de
derrota em sua mente.
- Eu não estarei na cidade, Tyler. - ela lhe disse, a irritação ainda bem presente em sua
voz.
-É, o Mike me contou.
- Então por quê… - ela começou a perguntar.
Ele deu de ombros. - Eu esperava que você só estivesse se livrando deles do jeito mais
fácil.
Os olhos dela queimaram, então ficaram frios. - Desculpe, Tyler. - ela disse, sem parecer
sentir nada. - Eu estarei mesmo fora da cidade.
Ele aceitou essa desculpa, sua autoconfiança intocada. - Tudo bem. Ainda temos o baile
dos estudantes.
Ele se empertigou e foi para o seu carro.
Estava certo em ter esperado por isso.
A expressão horrorizada no rosto dela era impagável. Disse-me o que eu não devia estar
tão desesperado para saber - que ela não sentia nada por nenhum desses garotos
humanos que queriam convidá-la.
E também, a expressão dela era possivelmente a coisa mais engraçada que eu já tinha
visto.
Minha família chegou então, confusa pelo fato de que eu estava, para variar, me tremendo
com o riso em vez de fazendo uma careta assassina a qualquer coisa à vista.
O que é tão engraçado? Emmett quis saber.
Eu só balancei minha cabeça enquanto me revirei com uma nova onda de riso quando
Bella acelerou seu motor nervosa. Ela parecia querer o tanque outra vez.
- Vamos embora! - Rosalie sibilou impaciente. - Pára de ser idiota. Se puder.
As palavras dela não me irritaram - estava muito distraído. Mas fiz o que ela pediu.
Ninguém falou comigo no caminho para casa. Continuei a rir uma vez ou outra, pensando
no rosto de Bella.
Quando eu virei para a estrada - acelerando agora que não havia testemunhas - Alice
arruinou meu humor.
- Então eu posso falar com a Bella agora? - ela perguntou inesperadamente, sem
considerar as palavras primeiro, não me dando aviso.
- Não. - eu revidei.
- Isso não é justo. Por que estou esperando?
- Eu ainda não decidi nada, Alice.
- Que seja, Edward.
Na cabeça dela, os dois destinos de Bella estavam claros novamente.
- Qual o sentido em conhecê-la? - eu murmurei, de repente rabugento. - Se eu vou matála?
Alice hesitou por um segundo. - Você tem razão. - ela admitiu.
Virei a ultima curva a 150 km/h então parei a três centímetros da parede da garagem.
- Aproveite sua corrida. - Rosalie disse presunçosa quando eu me atirei para fora do carro.
Mas eu não fui correr hoje. Em vez disso, fui caçar.
Os outros iriam caçar amanhã, mas eu não podia estar com sede agora. Exagerei, bebendo
mais do que o necessário, me fartando de novo - um pequeno grupo de cervos e um urso
negro que tive a sorte de cruzar tão cedo no ano. Estava tão cheio que era desconfortável.
Por que isso não podia ser o suficiente? Por que o cheiro dela tinha que ser tão mais forte
que todas as outras coisas?
Eu tinha caçado para me preparar para o próximo dia, mas, quando eu não conseguia mais
fazer isso e o sol ainda estava a horas de nascer, soube que o próximo dia não chegaria
rápido o bastante.
A enorme tensão me varreu outra vez quando eu percebi que ia encontrar a garota.
Eu lutei comigo todo o caminho de volta a Forks, mas meu lado menos nobre ganhou a
discussão, e eu segui adiante com meu plano indefensável. O monstro estava inquieto,
mas bem alimentado. Eu sabia que manteria uma distância segura dela. Só queria saber
como ela estava. Só queria ver seu rosto.
Passava da meia-noite e a casa de Bella estava escura e silenciosa. A picape dela
estacionada no meio-fio e a radiopatrulha de seu pai na entrada de carros. Não havia
pensamentos conscientes em lugar algum na vizinhança. Olhei a casa por um momento, da
escuridão da floresta me a cercava do lado leste. A porta da frente provavelmente estava
trancada - não que isso fosse um problema, exceto que eu não queria deixar a porta
quebrada como evidência para trás. Decidi tentar a janela de cima primeiro. Não existiam
muitas pessoas que se importavam em instalar uma fechadura ali.
Cruzei o jardim aberto e escalei a parede da casa em meio segundo. Pendurado por uma
mão na calha que ficava em cima da janela, olhei pelo vidro, e minha respiração parou.
Era o quarto dela. Eu a conseguia ver, as cobertas no chão e os lençóis enrolados por suas
pernas. Enquanto eu olhava, ela se virou inquieta e colocou um braço por cima da cabeça.
Ela não dormia profundamente, pelo menos não à noite. Ela sentiu o perigo próximo?
Fiquei com nojo de mim mesmo quando a vi mexer de novo. O quanto eu era melhor que
qualquer outro bisbilhoteiro? Eu não era melhor. Era muito, muito pior.
Relaxei as pontas dos meus dedos, para me deixar cair. Mas primeiro me permiti um longo
olhar para o rosto dela.
Não estava tranqüilo. A pequena ruga estava entre suas sobrancelhas, os cantos de seus
lábios para baixo. Seus lábios tremeram, e então se abriram.
- Está bem, mãe. - ela resmungou.
Bella falava dormindo.
A curiosidade me invadiu, mais forte que o nojo que tinha por mim mesmo. O encanto que
aqueles pensamentos falados, desprotegidos e inconscientes, era incrivelmente tentador.
Eu tentei abrir a janela, e não estava fechada, embora tenha travado por ter ficado tanto
tempo sem ser aberta. Eu a empurrei lentamente para o lado, encolhendo a cada pequeno
gemido que a moldura de metal fazia. Teria que achar algum óleo para a próxima vez…
Próxima vez? Eu balancei a cabeça, com nojo de novo.
Passei silenciosamente pela janela meio aberta.
O quarto dela era pequeno - desorganizado, mas não sujo. Havia livros empilhados no
chão perto da sua cama, suas lombadas viradas para o outro lado, e CDs espalhados perto
de seu disc-man barato - o que estava por cima era só uma caixa vazia. Papéis cercavam
um computador que parecia mais pertencer a um museu dedicado a tecnologias obsoletas.
Sapatos estavam no chão de madeira.
Eu queria muito ler os títulos de seus livros e CDs, mas tinha prometido que iria manter a
distância; em vez disso, fui sentar na velha cadeira de balanço no outro canto do quarto.
Alguma vez eu tinha realmente pensado que ela era comum? Pensei naquele primeiro dia,
e meu nojo pelos garotos que ficaram tão rapidamente intrigados por ela. Mas quando eu
me lembrei do rosto dela nos pensamentos deles, não conseguia entender por que não a
tinha achado linda imediatamente. Parecia uma coisa óbvia.
Nesse momento - com seu cabelo escuro embaraçado e selvagem envolta de seu rosto
pálido, usando uma camiseta puída cheia de buracos e uma calça surrada - ela me deixou
sem fôlego. Ou teria, pensei ironicamente, se eu estivesse respirando.
Ela não falou. Talvez seu sonho tenha terminado.
Eu encarei seu rosto e tentei pensar em algum modo de deixar o futuro suportável.
Machucá-la não era suportável. Isso significava que minha única escolha era tentar ir
embora novamente?
Os outros não podiam discutir comigo agora. Minha ausência não iria colocar ninguém em
perigo. Não teria nenhuma suspeita, nada para levar os pensamentos de ninguém de volta
ao acidente.
Eu vacilei como tinha feito esta tarde, e nada pareceu possível.
Não podia esperar ser rival dos meninos humanos, quer esses garotos específicos a
atraíssem ou não. Eu era um monstro. Como ela podia me ver de qualquer outro jeito? Se
ela soubesse a verdade sobre mim, iria assustá-la e repulsá-la. Como a vítima em um filme
de terror, ela iria correr, gritando de horror.
Lembrei-me do primeiro dia dela na aula de biologia… e soube que essa seria exatamente
a reação certa para ela ter.
Era besteira imaginar que se fosse eu quem tivesse a convidado para esse baile bobo, ela
teria cancelado seus planos feitos em cima da hora e concordado em ir comigo.
Não era a mim que ela estava destinada a dizer sim. Era para alguma outra pessoa,
humana e quente. E eu nem podia - algum dia, quando ela dissesse sim - me deixar caçálo
e matá-lo, porque ela o merecia, quem quer que fosse que tivesse escolhido.
Eu devia a ela fazer a coisa certa agora; não podia mais fingir que estava só em perigo de
amar essa garota.
E mesmo assim, não importava realmente se eu fosse embora, porque Bella jamais me
veria do jeito que eu queria que ela visse. Ela nunca me veria como alguém que merecesse
ser amado.
Nunca.
Um coração morto, gelado, podia ser despedaçado? Parecia que o meu podia.
- Edward. - Bella disse.
Eu congelei, encarando seus olhos fechados.
Ela tinha acordado, me visto aqui? Ela parecia adormecida, mas sua voz tinha sido tão
clara…
Ela suspirou calmamente, então se moveu inquieta outra vez, rolando de lado - ainda
dormindo e sonhando.
- Edward. - ela murmurou suavemente.
Ela estava sonhando comigo.
Um coração morto, gelado, podia bater de novo? Parecia que o meu podia.
- Fique. - ela suspirou. - Não vá. Por favor… não vá.
Ela estava sonhando comigo, e nem era um pesadelo. Ela queria que eu ficasse com ela, lá
em seu sonho.
Eu lutei para achar palavras para nomear os sentimentos que me invadiram, mas não
existiam palavras fortes o suficiente para descrevê-los. Por um longo momento, me afoguei
neles.
Quando eu emergi, não era o mesmo homem que havia sido.
Minha vida era a meia-noite, sem mudanças, sem fim. Deveria, por necessidade, sempre
ser a meia-noite para mim. Então como era possível que o sol estivesse nascendo agora,
bem na metade da meia-noite?
No momento em que me tornei um vampiro, trocando minha alma e mortalidade por
imortalidade na dor abrasadora da transformação, eu tinha realmente congelado. Meu
corpo tinha se transformado em algo mais para pedra do que para carne, permanente e
sem mudanças. Eu mesmo, também, tinha congelado como era - minha personalidade,
meus gostos e desgostos, meus humores e meus desejos; todos fixados de um jeito.
Era a mesma coisa para o resto dele. Todos nós estávamos congelados. Pedras vivas.
Quando uma mudança chegava para um de nós, era uma coisa rara e inalterável. Tinha
visto acontecer com Carlisle, e uma década depois, com Rosalie. O amor os tinha mudado
de um jeito irremediável, um jeito que nunca mais mudava. Mais de oitenta anos haviam
se passado desde que Carlisle achara Esme, e ele ainda a olhava com os olhos incrédulos
de primeiro amor. Seria sempre assim para eles.
Seria sempre assim para mim também. Eu sempre amaria essa frágil garota humana, pelo
resto da minha existência sem limites.
Olhei para seu rosto inconsciente, sentindo esse amor por ela se acomodar em cada célula
do meu corpo de pedra.
Ela dormia com mais calma agora, um sorriso fraco em seus lábios.
Sem deixar de observá-la, comecei a planejar.
Eu a amava, então eu tentaria ser forte o suficiente para deixá-la. Eu sabia que não era
forte assim agora. Teria que trabalhar nisso. Mas talvez eu fosse forte o suficiente para
moldar o futuro de outro jeito.
Alice tinha visto só dois futuros para Bella, e agora eu entendia os dois.
Amá-la não evitaria que eu a matasse, se eu cometesse erros.
Mas eu não conseguia sentir o monstro agora, não conseguia achá-lo em nenhum lugar
dentro de mim. Talvez o amor o tivesse silenciado para sempre. Se eu a matasse agora,
não seria intencional, só um horrível acidente.
Eu teria que ser extraordinariamente cuidadoso. Jamais, jamais seria capaz de baixar a
guarda. Teria que controlar cada respiração. Teria sempre que manter uma distância
segura.
Não cometeria erros.
Eu finalmente entendi o segundo futuro. Tinha estado aterrorizado por essa visão - o que
poderia acontecer que resultaria em Bella se tornar uma prisioneira nessa meia-vida
imortal? Agora - devastado por desejar a garota - eu podia entender como eu, num
egoísmo indesculpável, pediria a meu pai esse favor. Pediria a ele que tirasse a vida e a
alma dela para que eu pudesse ficar com ela para sempre.
Ela merecia coisa melhor.
Mas eu vi mais um futuro, uma linha estreita pela qual eu talvez pudesse caminhar, se
pudesse manter meu equilíbrio.
Conseguiria fazer? Ficar com ela e deixá-la humana?
Deliberadamente, inspirei fundo e depois outra vez, deixando que seu cheiro passasse por
mim como fogo. O quarto estava cheio de seu perfume; a fragrância dela saía de cada
superfície. Minha cabeça girou, mas lutei contra a tontura. Teria que acostumar com isso,
se eu fosse tentar ter qualquer tipo de relacionamento com ela. Respirei novamente,
deixando o ar me queimar.
A observei dormindo até que o sol nascesse atrás das nuvens no leste, planejando e
respirando.
Fui para casa quando os outros tinham ido embora para a escola. Troquei de roupa
rapidamente, evitando os olhos cheios de perguntas de Esme. Ela viu a luz febril em meu
rosto, e sentiu preocupação e alívio. Minha melancolia sem fim a magoava, e ela estava
feliz que parecia ter acabado.
Eu corri para a escola, chegando poucos segundos depois que meus irmãos. Eles não
viraram, embora Alice deva ter desconfiado que eu estava parado aqui nas grossas árvores
que cercavam o asfalto. Eu esperei até que ninguém estivesse olhando, e então andei
casualmente por entre as árvores até o estacionamento cheio de carros.
Eu ouvi a picape de Bella rugindo na esquina, e parei atrás de um Suburban onde podia
observá-la sem ser visto.
Ela dirigiu até o estacionamento, olhando meu Volvo por um longo momento antes de
parar em uma das vagas mais distantes, uma careta em seu rosto.
Era estranho lembrar que ela provavelmente ainda estava brava comigo, e por um bom
motivo.
Eu queria rir para mim mesmo - ou me chutar. Todo o meu esquema e planejamento eram
totalmente inúteis se ela não se importasse comigo, não eram? O sonho dela pode ter sido
sobre alguma outra coisa aleatória. Eu era mesmo um tolo arrogante.
Bom, era muito melhor para ela se não se importasse comigo. Isso não me impediria de
persegui-la, mas eu a avisaria de minha perseguição. Devia isso a ela.
Andei silenciosamente, pensando qual seria a melhor forma de me aproximar dela.
Ela deixou fácil. A chave da picape escorregou por seus dedos quando ela saiu, e caiu em
uma poça funda.
Ela se inclinou, mas eu cheguei antes, a pegando antes que ela tivesse que colocar os
dedos na água fria.
Encostei-me na picape quando ela me encarou e então se endireitou.
- Como é que você fez isso? - ela perguntou.
Sim, ainda estava brava.
Oferecia a chave para ela. - Fiz o quê?
Ela esticou a mão, e eu a deixei cair em sua palma. Respirei fundo, absorvendo seu cheiro.
- Aparecer do nada desse jeito. - ela esclareceu.
- Bella, não é culpa minha se você é excepcionalmente distraída. - As palavras eram
sarcásticas, quase uma piada. Tinha alguma coisa que ela não visse?
Ela ouviu como a minha voz disse o nome dela com carinho?
Ela me encarou, não gostando muito do meu humor. Os batimentos dela aceleraram - de
raiva? De medo? Depois de um momento, ela olhou para baixo.
- Por que o engarrafamento de ontem? - ela perguntou sem encontrar meus olhos. -
Pensei que você devia fingir que eu não existo e não me matar de irritação.
Ainda estava bastante brava. Ia tomar algum esforço para deixar as coisas certas com ela.
E me lembrei da minha resolução de ser honesto com ela…
- Aquilo foi pelo Tyler e não por mim. Tive que dar uma chance a ele. - E então eu ri. Não
podia evitar, pensando na expressão dela de ontem.
- Você… - ela engasgou, então parou, parecendo estar furiosa demais para terminar. Ali
estava - a mesma expressão. Abafei outra risada. Ela já estava nervosa o suficiente.
- E não estou fingindo que você não existe. - terminei. Estava certo em manter as coisas
casuais, em provocá-la. Ela não entenderia se eu a deixasse ver como me sentia de
verdade. Iria assustá-la. Tinha que manter meus sentimentos sob controle, manter as
coisas leves…
- Então está tentando mesmo me matar de irritação? Já que a van do Tyler não fez o
serviço?
Um rápido lampejo de raiva passou por mim. Como ela podia honestamente acreditar
nisso?
Era irracional da minha parte ficar tão ofendido - ela não sabia da transformação que tinha
acontecido à noite passada. Mas a raiva era a mesma.
- Bella, você é completamente absurda. - eu revidei.
O rosto dela corou, e ela virou as costas para mim. Começou a ir embora.
Remorso. Não havia sentido em minha raiva.
- Espere. - eu pedi.
Ela não parou, então eu a segui.
- Desculpe, foi grosseria minha. Não estou dizendo que não é verdade. - era absurdo
imaginar que eu a queria machucada em qualquer jeito. - mas de qualquer forma, foi uma
grosseria dizer aquilo.
- Por que não me deixa em paz?
Acredite, eu quis dizer. Eu tentei.
Ah, outra coisa, estou miseravelmente apaixonado por você.
Mantenha a coisa leve.
- Quero perguntar uma coisa, mas você está me evitando. - Um outro curso de ação tinha
me ocorrido e eu dei risada.
- Você tem distúrbio de personalidade múltipla? - ela perguntou.
Parecia que sim. Meu humor instável, tantas emoções novas passando por mim.
- Lá vem você de novo. - eu assinalei.
Ela suspirou. - Tudo bem, então. O que quer me perguntar?
- Eu estava me perguntando se, no sábado que vem… - observei o choque passar por seus
olhos e sufoquei outra risada. - Sabe, no dia do baile de primavera…
Ela finalmente me interrompeu, voltando seus olhos para mim. - Está tentando ser
engraçadinho?
Sim. - Quer, por favor, me deixar terminar?
Ela esperou em silêncio, os dentes mordendo o lábio macio inferior.
Essa visão me distraiu por um momento. Reações estranhas, desconhecidas agitaram
fundo no meu interior humano. Tentei me livrar delas para que pudesse fazer meu papel.
- Eu a ouvi dizer que vai a Seattle nesse dia e estava pensando se você queria uma carona.
- ofereci. Percebi que, melhor que perguntar a ela sobre seus planos, eu poderia partilhálos.
Ela me olhou inexpressivamente. - Como é?
- Quer uma carona para Seattle? - Sozinho no carro com ela - minha garganta queimou
com o pensamento. Respirei fundo. Se acostume.
- Com quem? - ela perguntou, seus olhos arregalados e confusos de novo.
- Comigo, é claro. - eu disse lentamente.
- Por quê?
Era realmente um choque que eu queria a companhia dela? Ela deve ter chegado a pior
conclusão possível com meu comportamento passado.
- Bom, eu pretendia ir a Seattle nas próximas semanas e, para ser sincero, não tenho
certeza se sua picape vai agüentar. - Era mais seguro provocá-la do que me permitir ser
sério.
- Minha picape funciona muito bem, obrigada por sua preocupação. - ela disse na mesma
voz surpresa. E começou a andar outra vez. Continuei a seguindo.
Ela não havia dito não, então pressionei essa vantagem.
Ela diria não? O que eu faria se ela dissesse?
- Mas sua picape pode chegar lá com um tanque de gasolina?
- Não vejo como isso pode ser da sua conta. - ela reclamou.
Ainda não era um não. E o coração dela estava batendo mais rápido de novo, a respiração
vindo mais rápida.
- O desperdício de recursos não-renováveis é da conta de todos.
“Honestamente, Edward, eu não consigo te acompanhar. Eu pensei que você não queria
ser meu amigo.”
Uma forte emoção me atravessou quando ela disse meu nome.
Como manter isso suave e também ser honesto ao mesmo tempo? Bem, era mais
importante ser honesto. Especialmente nesta questão.
“Eu disse que seria melhor se não fossemos amigos, não que eu não queria ser.”
“Oh, obrigada, isso esclarece tudo,” ela disse sarcasticamente.
Ela pausou, sob o teto da cafeteria, e encontrou meu olhar novamente. As batidas de seu
coração estavam vacilantes. Ela estava com medo?
Eu escolhi minhas palavras cuidadosamente. Não, eu não poderia deixá-la, mas talvez ela
fosse esperta o suficiente para me deixar, antes que fosse muito tarde.
“Seria mais… prudente pra você não ser minha amiga.” Fitando a profundeza de chocolate
derretido dos seus olhos, eu perdi minha segurança na luz. “Mas eu estou cansado de
tentar ficar longe de você, Bella.” As palavras queimaram com muito fervor.
Sua respiração parou e, quando voltou a respirar, aquilo me preocupou. Quanto eu a tinha
assustado? Bem, eu descobriria isso.
“Você vai a Seattle comigo?” eu perguntei a queima roupa.
Ela acenou, seu coração batendo mais alto.
Sim. Ela tinha dito sim pra mim.
E depois minha consciência me sufocou. O que isso custaria a ela?
“Você realmente devia ficar longe de mim,” eu a alertei. Ela me ouviria? Ela escaparia do
futuro no qual eu a estava lançando? Eu não poderia fazer nada para salvá-la de mim?
Mantenha-se suave, eu me adverti. “Te vejo na aula.”
Eu tive que me concentrar para me impedir de correr enquanto eu fugia.
6. Tipo sangüíneo
Eu a segui durante o dia todo através dos olhos das outras pessoas, abertamente
consciente da minha própria vizinhança.
Não os olhos de Mike Newton, por que eu não conseguia mais agüentar suas ofensivas
fantasias, e não pelos olhos de Jessica Stanley, por que seu ressentimento por Bella me
deixava perigosamente nervoso. Ângela Weber era uma boa escolha, quando os olhos dela
estavam disponíveis; ela era gentil - sua cabeça era um lugar fácil de estar. E algumas
vezes os professores providenciavam a melhor vista.
Eu estava surpreso, assistindo ela tropeçar pelo dia - tropeçando na beira da calçada,
deixando os livros cair, e muitas vezes caindo junto; nos próprios pés - através dos
pensamentos das pessoas que ouvi achando que Bella era desastrada.
Eu considerei aquilo. Era verdade que ela muitas vezes teve a preocupação de ficar em pé,
direito. Eu me lembrava dela tropeçando até a mesa no primeiro dia, deslizando pelo gelo
antes do acidente, caindo embaixo do batente da porta ontem… Era impar, eles estavam
certos. Ela era desastrada.
Eu não sabia por que aquilo era tão engraçado para mim, mas eu estava rindo em voz alta
enquanto andava da aula de História Americana para o Inglês e muitas pessoas me
lançaram olhares cuidadosos. Como eu não tinha percebido isso antes? Possivelmente por
que havia algo bem gracioso em sua calma, no jeito que ela mantinha a cabeça, o arco do
seu pescoço…
Não havia nada de gracioso nela agora. Mr. Varner assistia ela prender a ponta de sua bota
no carpete e literalmente cair na sua cadeira.
Eu ri de novo.
O tempo se movia incrivelmente lento enquanto eu esperava para vê-la com meus próprios
olhos. Finalmente o sinal tocou. Eu corri até a cafeteria para assegurar meu lugar. Eu era o
primeiro a chegar lá. Escolhi uma mesa que normalmente estava vazia, e eu estava seguro
de permanecer no caminho que tinha me levado a sentar ali.
Quando minha família entrou e me viu sentado sozinho em meu novo lugar eles não
estavam surpresos. Alice devia ter avisado a eles.
Rosalie passou por mim sem me olhar.
Idiota.
Rosalie e eu nunca tivemos um relacionamento fácil - eu a ofendi na primeira vez que ela
me ouviu falar, e foi ladeira abaixo desde então - mas parecia que elas estava mais
temperamental nesses últimos dias. Eu suspirei. Para Rosalie tudo era sobre ela mesmo.
Jasper me deu um sorriso torto e continuou a andar.
Boa sorte, ele pensou duvidosamente.
Emmett rolou os olhos e balançou a cabeça.
Perdeu a cabeça, pobre garoto.
Alice estava radiante, seus dentes brilhando mais do que deviam.
Posso falar com Bella agora?
“Fique fora disso,” Eu disse através da minha respiração.
Seu rosto ficou triste, e então brilhou de novo.
Tudo bem. Seja teimoso. É só uma questão de tempo.
Ela suspirou de novo.
Não se esqueça da aula de laboratório de biologia de hoje, ela me lembrou.
Eu acenei com a cabeça. Não, eu não me esqueci disso.
Enquanto eu esperava Bella chegar, eu a segui através dos olhos do calouro que andava
atrás de Jessica, no caminho para a cafeteria. Jessica estava tagarelando sobre o próximo
baile, mas Bella não disse nada em resposta. Não que Jessica tivesse dado muita chance a
ela de responder.
No momento em que Bella passou pela porta, seus olhos fitaram momentaneamente a
mesa onde meus irmãos se sentavam. Ela observou por um momento, e então sua testa se
enrugou e seu olhar baixou até o chão. Ela não havia me notado.
Ela parecia tão… triste. Eu senti uma urgência enorme em levantar e ir até ela, para
confortá-la de alguma forma, eu só não sabia o que ela acharia reconfortante. Eu não tinha
idéia do motivo que a fizera parecer daquela forma. Jessica continuava a matraquear sobre
o baile. Será que Bella estava triste que iria perder isto? Aquilo não parecia muito
provavell…
Mas poderia ser remediado, se ela quisesse.
Ela comprou uma bebida para o seu almoço e nada mais. Aquilo estava certo? Será que ela
não precisava de mais nutrientes do que apenas aquilo? Eu nunca prestei muita atenção à
dieta de um humano antes. Humanos eram tão exacerbadamente frágeis! Havia milhões de
coisas com que deviam se preocupar…
“Edward Cullen está encarando você novamente,” eu ouvi Jessica dizer. “Por que será que
ele está sentado sozinho hoje?”
Eu estava agradecido a Jessica - apesar de ela estar ainda mais ressentida agora - porque
Bella levantou a cabeça e seus olhos procuraram até que encontrassem os meus.
Não havia traço de tristeza em sua face, agora. Eu me permiti acreditar que ela estava
triste por imaginar que eu havia ido embora mais cedo, e a esperança desse pensamento
me fez sorrir.
Eu a chamei com meu dedo para que ela se juntasse a mim. Ela pareceu tão surpresa com
aquilo que eu quis provocá-la novamente.
Então eu pisquei e ela ficou boquiaberta.
“Ele está chamando você?” Jessica perguntou com desprezo.
“Talvez ele precise de ajuda com o dever de biologia,” ela disse em uma voz baixa e cheia
de incerteza. “Um, é melhor eu ver o que ele quer.”
Este foi um outro sim.
Ela tropeçou duas vezes no caminho para a minha mesa, apesar de não haver nada no seu
rumo além de um piso perfeitamente plano. Sério, como eu deixei de notar isto antes? Eu
estava prestando mais atenção aos seus pensamentos silenciosos, creio eu… O que mais
eu teria perdido?
Seja honesto, seja claro eu repeti para mim mesmo.
Ela parou atrás da cadeira que estava a minha frente, hesitante. Eu respirei fundo, dessa
vez pelo meu nariz e não pela boca.
Sinta a queimação, eu pensei objetivamente.
“Por que você não se senta comigo hoje?” Eu perguntei a ela.
Sem tirar os olhos de mim por um instante, ela puxou a cadeira e sentou-se. Ela parecia
nervosa, mas sua aceitação física era um outro sim.
Eu esperei que ela falasse.
Levou um momento, mas finalmente ela falou, “Isto é diferente.”
“Bem…” Eu hesitei “Eu decidi, de uma vez que eu vou para o inferno, posso muito bem
fazer o serviço completo
O que me fez dizer aquilo? Eu suponho que pelo menos tenha sido honesto. E talvez ela
tivesse ouvido o aviso sutil que minhas palavras continham. Talvez ela entendesse que ela
deveria se levantar e sair dali o mais rápido que pudesse…
Ela não se levantou. Ela me encarava, esperando, como se eu não tivesse terminado minha
frase.
“Sabe, não tenho a mínima idéia do que você quis dizer, ” ela disse quando percebeu que
eu não continuaria.
Aquilo foi um alívio, eu sorri.
“Eu sei.”
Era difícil ignorar os pensamentos que vinham detrás de suas costas, gritando para mim -
E eu queria mudar de assunto, também.
“Eu acho que seus amigos estão zangados comigo por eu ter te roubado deles.”
Isso pareceu não a preocupar. “Eles sobreviverão.”
“Eu posso não devolver você, então.” Eu não fazia idéia se eu estava tentando ser honesto
agora ou apenas tentando provocá-la de novo. Estar perto dela tornava difícil dar sentido
aos meus próprios pensamentos.
Bella engoliu seco.
Eu ri da expressão dela. “Você parece preocupada,” Aquilo realmente não deveria ser
divertido, ela deveria estar preocupada.
“Não.” Ela era uma péssima mentirosa; não a ajudou em nada que sua voz falhasse.
“Surpresa, na verdade… o que você quer afinal?”
“Eu te disse, me cansei de tentar ficar longe de você. Então estou desistindo.” Eu segurei
meu sorriso com um pouco de esforço. Isso não estava funcionando nem um pouco -
tentando ser honesto e casual ao mesmo tempo.
“Desistindo?” ela repetiu perplexa.
“Sim - desistindo de tentar ser bonzinho.” E aparentemente desistindo de tentar ser casual.
“Eu simplesmente vou fazer o que eu quiser, agora, e deixar que aconteça o que tiver de
acontecer.” ( no livro “Crepúsculo” esta traduzido assim: …e deixar os dados rolarem. Mas
a trad. de vcs ficou melhorJ )
Aquilo foi honesto o bastante. Deixe que ela veja meu egoísmo. Deixe que isto a alerte,
também.
“Não estou entendendo nada de novo.” / ” Você esta me confundindo de novo “
Eu era egoísta o bastante para estar feliz que este fosse o caso. “Eu sempre falo muito
quando estou conversando com você - este é um dos problemas.”
Um problema bem insignificante, comparado a todos os outros.
“Não se preocupe,” ela reafirmou. “Eu não entendo nada mesmo…”
Ótimo, então ela não iria fugir. “Eu estava contando com isso.”
“Então, falando sem rodeios, somos amigos agora?”
Eu ponderei por um instante. “Amigos…” eu repeti. Não gostei do som daquilo. Não era o
bastante.
“Ou não,” ela sussurrou, parecendo embaraçada.
Será que ela pensava que eu não gostava dela o bastante?
Eu sorri. “Bem, podemos tentar, eu acho. Mas eu vou alertar que eu não sou um bom
amigo para você.”
Eu esperei pela resposta ansiosamente - esperando que finalmente ela ouvisse e
entendesse, e imaginando que eu pudesse morrer se ela o fizesse. Que melodramático. Eu
estava me tornando humano demais perto dela.
Seu coração batia rápido. “Você diz muito isso.”
“Sim, porque você não está me dando ouvidos.” Eu disse, muito intensamente outra vez.
“Eu ainda espero que você acredite nisso. Se for esperta, você vai me evitar.”
Ah, mas será que eu permitiria que ela fizesse isso, se tentasse?
Seus olhos se estreitaram. “Eu acho que você deixou clara a sua opinião, a respeito do
meu intelecto.”
Eu não estava certo sobre o que ela quis dizer, mas eu sorri me desculpando, imaginando
que eu a tivesse ofendido acidentalmente.
“Então,” ela disse devagar. “Enquanto eu estiver sendo… boba, vamos tentar ser amigos?”
“É isso o que parece.”
Ela olhou para baixo, examinando a garrafa de limonada que tinha em mãos.
A velha curiosidade me atormentava.
“O que você está pensando?” Eu perguntei - pelo menos era um alívio dizer estas palavras
em voz alta finalmente
Seu olhar encontrou o meu, e sua respiração acelerou enquanto suas bochechas coraram,
eu inspirei, sentindo o saboreando o ar.
“Eu estou tentando imaginar o que você é.”
Segurei o sorriso em meu rosto, travando minha feição naquela forma, enquanto o pânico
percorria todo o meu corpo.
É claro que ela estava pensando naquilo. Ela não era estúpida. Eu não podia esperar que
ela fosse deixar de notar algo tão evidente.
“Você está tendo alguma sorte nisso?” Perguntei da forma mais sutíl que pude.
“Não muita.” Ela admitiu.
Eu ri suavemente com a resposnta, sentindo um súbito alivio. “Quais são suas teorias?”
Elas não poderiam ser piores que a verdade, qualquer que fossem.
Suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas, e ela não disse nada. Eu podia sentir no ar
o calor do seu rubor.
Tentei usar meu tom persuasivo nela. Isso era algo que funcionava muito bem em
humanos normais.
“Não vai me dizer?” Sorri, encorajando-a.
Ela balançou a cabeça negativamente. “É muito embaraçoso.”
Ugh. Não saber era pior do que qualquer outra coisa. Por que as especulações dela a
deixariam embaraçada? Não pude suportar a curiosidade.
“É muito frustrante, sabe.”
Minha reclamação disparou algo nela. Seus olhos brilharam e as palavras fluíram mais
rapidamente que o normal.
“Não. Eu não posso imaginar poque isso pode ser minimamente frustrante - apenas porque
alguém se recusa a lhe dizer o que está pensando, mesmo se durante todo o tempo
estivesse fazendo apenas pequenas observções enigmáticas com a única intenção de lhe
deixar acordado a noite tentando imaginar o que é que elas podem significar… agora, por
que isso seria frustrante?”
Eu franzi as sobrancelhas para ela, irritado por aceitar que ela estava certa. Eu não estava
sendo justo.
Ela continuou. “Ou melhor, dizer também que esta pessoa fez um monte de coisas
bizarras, desde salvar sua vida sob circunstâncias impossíveis em um dia até te tratar como
um estranho no dia seguinte, e jamais te explicar nem uma coisa nem outra, mesmo
depois de prometer fazê-lo. Isso também não seria frustrante.”
Foi o mais longo discurso que eu a ouvi fazer, e isso acrescentou mais uma qualidade na
minha lista.
“Você é meio temperamental, não?”
“Eu não gosto de dois pesos e duas-medidas.”
Sua irritação era completamente justificavel, é claro.
Eu encarei Bella, imaginando como eu poderia possivelmente fazer qualquer coisa certa por
ela, até que o silêncio gritante na cabeça de Mike Newton me distraiu.
Ele estava tão irado que me fez rir.
“O que é?” ela exigiu.
“O seu namorado parece estar pensando que eu estou sendo rude com você - ele está se
questionando se deve ou não vir aqui apartar a nossa briga.” Eu gostaria de vê-lo tentar.
Eu ri novamente.
“Eu não sei do que você está falando”, ela disse de forma fria “Mas de qualquer forma, eu
tenho certeza que você está enganado.”
Eu gostei muito do modo como ela o rejeitou com sua sentença desdenhosa.
“Eu não estou. Eu já te disse, a maioria das pessoas é fácil de ler.”
“Exceto eu, é claro.”
“Sim. Exceto você.” Ela tinha que ser a exceção à tudo? Não seria mais justo -
considerando tudo mais com que eu tinha que lidar no momento - se eu pudesse ler
ALGUMA COISA em sua cabeça? Era pedir muito? “Eu me pergunto o porquê disso.”
Ela olhou ao longe. Ela abriu sua limonada e tomou um curto e rápido gole, seus olhos na
mesa.
“Você não está com fome?” eu perguntei.
“Não,” ela olhava a mesa vazia entre nós. “Você?”
“Não, eu não estou com fome.” eu disse. Eu definitivamente não estava.
Ela encarava a mesa com seus lábios cerrados. Eu esperei.
“Você pode me fazer um favor?”, ela perguntou, subitamente encontrando meus olhos
novamente.
O que ela poderia querer de mim? Ela perguntaria sobre a verdade a qual eu não era
permitido dizer à ela - a verdade que eu queria que ela nunca, nunca soubesse?
“Depende do que você quer”.
“Não é muito”, ela prometeu.
Eu esperei, curioso de novo.
“Eu só estava imaginando…” ela disse lentamente, olhando para a garrafa de limonada,
traçando a boca da garrafa com o seu dedo mínimo “se você poderia me avisar com
antecedência na próxima vez que você resolver me ignorar para o meu próprio bem. Só
pra eu me preparar.”
Ela queria um aviso? Então ter sido ignorada por mim deve ter sido alguma coisa ruim… eu
sorri.
“Parece justo.” eu concordei.
“Obrigada.” ela disse, olhando para cima. Sua face estava tão aliviada que eu quis rir do
meu próprio alívio.
“Então posso ter uma resposta em retorno?” eu perguntei, esperançosamente.
“Uma” - Ela concedeu
“Me diga uma das suas teorias.”
Ela corou “Essa não.”
“Você não qualificou, você só prometeu uma resposta”, eu argumentei.
“Você também já quebrou suas promessas.”, ela argumentou de volta.
Ela estava certa.
“Só uma teoria - eu não vou rir.”
“Vai sim”. Ela parecia estar bem certa disso, apesar de eu não conseguir imaginar nada
que pudesse ser engraçado quanto a isso.
Tentei usar a persuasão outra vez. Olhei fundo nos olhos dela - uma coisa fácil de se fazer,
com olhos tão intensos - e sussurrei. - “Por favor?”
Ela piscou, o rosto ficando vazio.
Bem, essa não era exatamente a reação que eu queria.
- É… o quê? - ela perguntou. Parecia tonta. O que havia de errado com ela?
- Por favor, me conte só uma teoriazinha. - eu pedi com minha voz macia e nãoassustadora,
segurando seus olhos nos meus.
Para minha surpresa e satisfação, finalmente funcionou.
-Hmmm, bom, foi picado por uma aranha radioativa?
História em quadrinhos? Não era à toa que ela achou que eu iria rir.
- Isso não é muito criativo. - eu a reprovei, tentando escondeu meu alívio.
- Desculpe , é só o que eu tenho. - ela disse, ofendida.
Isso me deixou ainda mais aliviado. Consegui provocá-la de novo.
- Nem chegou perto.
- Nada de aranhas?
- Nada.
- E nada de radioatividade?
- Nada.
- Droga. - ela suspirou.
- A kriptonita também não me incomoda. - eu respondi depressa - antes que ela pudesse
perguntar sobre mordidas - e então tive que rir, porque ela achava que eu era um superherói.
- Não devia rir, lembra?
Apertei os lábios.
- Um dia eu vou descobrir. - ela prometeu.
E quando ela o fizesse, iria fugir.
- Gostaria que não tentasse. - eu disse, todos os sinais da provocação ausentes.
- Por que…
Devia honestidade a ela. Tentei sorrir, deixar minhas palavras menos ameaçadoras. - “E se
eu não for um super-herói? E se eu for o vilão?”
Seus olhos se arregalaram ligeiramente e os lábios se separaram um pouco. - Ah. - ela
disse. E então, depois de um segundo. - Entendi.
Ela finalmente tinha me ouvido.
- Entendeu? - eu perguntei, tentando esconder minha agonia.
- Você é perigoso? - ela adivinhou. A sua respiração aumentou e o coração acelerou.
Não conseguia respondê-la. Esse era meu último momento com ela? Ela iria fugir agora?
Eu seria capaz de dizer que a amava antes que ela partisse? Ou isso a assustaria ainda
mais?
- Mas não mau. - ela sussurrou, balançando a cabeça, sem medo nos olhos intensos. -
Não, não acredito que você seja mau.
- Está errada. - eu disse baixo.
É claro que eu era mau. Eu não estava feliz agora, que ela pensava melhor de mim do que
eu merecia? Se eu fosse uma boa pessoa, eu teria ficado longe dela.
Eu estiquei minha mão pela mesa, pegando a tampa da garrafa de limonada dela como
uma desculpa. Ela não recuou da minha mão próxima. Ela realmente não tinha medo de
mim. Ainda não.
Eu girei a tampa rapidamente, prestando atenção ao invés de olhar para ela. Meus
pensamentos estavam confusos.
Corra, Bella, corra. Não conseguia falar as palavras em voz alta.
Ela ficou de pé. - Vamos chegar atrasados. - ela disse, bem quando eu comecei a me
preocupar que de algum modo ela tinha escutado meu aviso silencioso.
- Eu não vou à aula hoje.
- E por que não?
Porque eu não quero matar você. - “É saudável matar aula de vez em quando.”
Para ser exato, era saudável para os humanos quando os vampiros matavam aula nos dias
em que sangue humano seria derramado. O Sr. Banner ia fazer tipagem sanguínea hoje.
Alice já tinha matado sua aula pela manhã.
Bom, eu vou. - ela disse. Isso não me surpreendeu. Ela era responsável - sempre fazia a
coisa certa.
Ela era o meu oposto.
- A gente se vê depois, então. - eu disse, tentando parecer casual novamente, olhando a
tampa que rodava. E, por falar nisso, eu adoro você… de jeitos perigosos, assustadores.
Ela hesitou, e eu esperei por um momento que ela fosse ficar comigo. Mas o sinal tocou e
ela se apressou.
Esperei até que ela tivesse desaparecido, e então guardei a tampa no meu bolso - uma
lembrança dessa conversa importante - e andei pela chuva para o meu carro.
Coloquei o CD que mais me acalmava - o mesmo que tinha colocado naquele primeiro dia -
mas não estava escutando as notas de Debussy por muito tempo. Outras notas estavam
passando rápidas por minha cabeça, o fragmento de uma melodia que me agradava e me
intrigava. Abaixei o rádio e escutei a música em minha cabeça, tocando o fragmento até
que se desenvolveu para uma harmonia completa. Instintivamente, meus dedos se
moveram no ar sobre teclas imaginárias.
A nova composição estava realmente surgindo quando minha atenção foi desviada por uma
onda de angústia mental.
Eu procurei na direção da aflição.
Ela vai desmaiar? O que eu faço? Mike estava em pânico.
A noventa metros, Mike Newton estava abaixando o corpo mole de Bella na calçada. Ela
escorregou sem reação no concreto molhado, os olhos fechados, a pele pálida como a de
um cadáver.
Eu quase arranquei a porta do carro.
- Bella? - gritei.
Não houve mudança em seu rosto sem vida quando eu gritei seu nome.
Meu corpo todo ficou mais frio que gelo.
Estava ciente da surpresa irritada de Mike enquanto varria furiosamente seus
pensamentos. Ele só estava pensando em seu ódio por mim, então eu não sabia o que
havia de errado com Bella. Se ele tivesse feito algo para machucá-la eu iria aniquilá-lo.
- Qual é o problema… Ela se machucou? - eu ordenei, tentando concentrar seus
pensamentos. Era enlouquecedor ter que andar na velocidade humana. Eu não devia ter
chamado atenção para a minha aproximação.
Então eu pude escutar o coração dela batendo e cada respiração que dava. Enquanto eu
observava, ela apertou os olhos fechados. Isso aliviou um pouco do meu pânico.
Eu vi um lampejo de memórias na cabeça de Mike, rápidas imagens da classe de biologia.
A cabeça de Bella na mesa, sua pele ficando verde. Gotas de vermelho contra cartões
brancos…
Tipagem sanguinea.
Eu parei onde eu estava, segurando a minha respiração. O cheiro dela era uma coisa, o
seu sangue escorrendo era outra totalmente diferente.
“Eu acho que ela está passando mal.” Mike disse, ansioso e ressentido ao mesmo tempo.
“Eu não sei o que aconteceu, ela nem furou o dedo.”
O alívio passou por mim, e eu respirei novamente, sentindo o ar. Ah, eu pude sentir o
cheiro da pequena ferida de Mike Newton. Uma vez, isso teria sido extremamente apelativo
para mim.
Eu me ajoelhei perto dela enquanto Mike se remexia ao meu lado, furioso com a minha
intervenção.
“Bella. Você consegue me ouvir?”
“Não”, ela gemeu. “Vá embora”.
Eu ri. Ela estava bem.
“Eu estava levando ela para a enfermaria”, Mike disse “Mas ela não conseguiu ir adiante”.
“Eu vou levar ela. Você pode voltar para a sala de aula.” eu disse, indiferente.
Os dentes de Mike trincaram. “Não. Sou eu quem deve fazer isso”.
Eu não ia ficar parado ali argumentando com aquele infeliz.
Exitado e apavorado, meio-agradecido e meio-aflito pela situação desagradável que fez o
toque dela uma necessidade, suavemente levantei Bella da calçada e mantive-a nos meus
braços, tocando só a sua roupa, mantendo tanta distância entre os nossos corpos
enquanto possível. Eu andava com passos largos para a frente no mesmo movimento, em
uma pressa para mantê-la a salvo - mais longe de mim, em outras palavras.
Seus olhos se abriram, atônitos.
“Me ponha no chão!” ela ordenou em uma voz fraca - embaraçada de novo, eu adivinhei
pela sua expressão. Ela não gostava de demonstrar fraquezas.
Eu mal ouvia Mike gritando seus protestos atrás de nós.
“Você parece horrível” eu disse a ela, sorrindo com alívio de que não houvesse nada de
errado com ela além de uma cabeça leve e um estômago fraco.
“Me coloque de volta na calçada”, ela disse. Seus lábios estavam brancos.
“Então você passa mal quando vê sangue?” isso podia ser mais irônico?
Ela fechou seus olhos e pressionou seus lábios juntos.
“E nem é o seu próprio sangue” eu acrescentei, meu sorriso aumentando.
Nós estávamos na frente da secretaria. A porta estava levemente aberta, e eu a chutei
para sair de nosso caminho.
A senhorita Cope pulou, assustada. “Meu Deus,” ela engasgou enquanto examinava a
garota pálida nos meus braços.
“Ela passou mal na aula de Biologia”, eu expliquei, antes que a sua imaginação começasse
a ir para muito longe.
A Srta. Cope se apressou em abrir a porta da enfermaria. Os olhos de Bella estavam
abertos novamente, observando-a.
Ouvi o assombro interno da enfermeira idosa enquanto eu deitava a garota
cuidadosamente em uma cama gasta. Tão logo Bella estivesse fora de meus braços, eu
coloquei a distância da sala entre nós. Meu corpo estava muito excitado, muito ansioso,
meus músculos tensos e o veneno fluindo. Ela era muito quente e perfumada.
“Ela só está um pouco enjoada”, eu assegurei à Senhora Hammond. “Eles estão fazendo
tipagem sanguinea na aula de Biologia.”.
Ela balançou a cabeça, compreendendo. “Sempre tem um.”
Eu abafei uma risada. Confie em Bella para ser aquele um.
“Fique um pouco deitada, meu bem” Sra. Hammond disse. “Vai passar logo”.
“Eu sei” Bella disse.
“Isso acontece muito?” a enfermeira perguntou.
“As vezes” Bella admitiu.
Eu tentei disfarçar minha risada em uma tossida.
Isso trouxe a atenção da enfermeira para mim. “Você pode voltar para a sala agora” ela
disse.
Eu a olhei diretamente nos olhos e menti confiantemente “Eu devo ficar com ela.”
Hmm. Eu imagino… oh, bem. Sra. Hammond balançou a cabeça.
Isso funcionou perfeitamente com ela. Por que com Bella tinha que ser tão difícil?
“Eu vou pegar um pouco de gelo pra você colocar na sua testa, querida” a enfermeira
disse, ligeiramente pouco confortável por olhar em meus olhos - do modo que um humano
devia ser - e deixou a sala.
“Você estava certo”, Bella lamentou, fechando seus olhos.
O que ela queria dizer? Eu fui direto para a pior conclusão: ela tinha aceitado os meus
avisos.
“Eu geralmente tenho” eu disse tentando parecer divertido. “Mas sobre o que em particular
desta vez?”
“Faltar à aula é saudável.” ela suspirou.
Ah, alívio de novo.
Ela ficou em silêncio então. Ela só respirava lentamente para dentro e para fora. Seus
lábios estavam começando a ficar rosados. Sua boca estava ligeiramente fora do equilíbrio,
seu lábio inferior estava um pouco mais cheio do que o superior. Olhar para a sua boca me
fazia me sentir estranho. Me fazia querer me mover para mais perto dela, o que não era
uma boa idéia.
“Você me assustou por um minuto lá fora,” eu disse - para reiniciar a conversa - então eu
podia ouvir a sua voz novamente. “Eu pensei que Mike estava arrastando o seu cadáver
pra enterrá-lo no bosque”.
“Ha ha”. ela disse.
“Honestamente - eu já vi cadáveres com uma cor melhor.” Isso era realmente verdade.
“Eu já estava preocupado em ter que vingar o seu assassinato”. E eu teria mesmo.
“Pobre Mike.” ela suspirou “Eu aposto que ele está bravo”.
“Ele absolutamente me detesta.” eu disse a ela, animado com a idéia.
“Você não tem como saber disso”.
“Eu vi o rosto dele - eu posso dizer.” Provavelmente seria verdade se ao ler a face dele eu
conseguisse obter tais informações para fazer essa dedução em particular. Toda essa
prática com a Bella estava afiando a minha habilidade em ler expressões humanas.
“Como você me viu? Eu pensei que você estivesse escondido” seu rosto parecia melhor - o
verde desbotado tinha desaparecido de sua pele translúcida.
“Eu estava no meu carro ouvindo um CD”.
Sua expressão se contorceu, como se a minha resposta comum a tivesse surpreendido de
alguma forma.
Ela abriu seus olhos novamente quando a Sra. Hammond retornou com uma compressa
fria.
“Aqui, querida” - a enfermeira disse enquanto colocava a compressa na testa de Bella.
“Você parece melhor”.
“Eu acho que estou bem” Bella disse e sentou-se colocando a compressa longe. É claro. Ela
não gostava que cuidassem dela.
As mãos enrugadas da Sra. Hammond estavam indo em direção à garota, como se
quisessem fazer com que ela deitasse novamente, mas então a Srta. Cope abriu a porta e
se inclinou para dentro da enfermaria. Com a sua entrada, veio um o cheiro de sangue
fresco, como uma pequena explosão.
Invisível na secretaria por detrás dela, Mike Newton ainda estava bastante zangado,
desejando que o garoto pesado que ele carregava agora fosse a garota que estava ali
dentro comigo.
“Tem outro aqui”, Srta. Cope disse.
Bella rapidamente pulou da cama, ansiosa por deixar de ser o centro das atenções.
“Aqui” ela disse, estendendo a compressa de volta para a Sra. Hammond “Eu não preciso
mais disso.”
Mike grunhiu enquanto ele empurrava um pouco Lee Stevens pela porta. O sangue ainda
gotejava da mão que Lee segurava em seu rosto, pingando pelo seu pulso.
“Oh não”, essa era a minha deixa para sair - e Bella, também, aparentemente. “Bella, vá
para a secretaria”.
Ela me olhou com olhos confusos.
“Confie em mim - vá.”
Ela se virou e alcançou a porta antes que ela se fechasse, se apressando em direção à
secretaria. Eu a segui a alguns centímetros dela. Seu cabelo em movimento roçou minha
mão…
Ela se virou para me olhar, ainda com olhos arregalados.
“Você realmente me ouviu”, isso era novidade.
Seu pequeno nariz se enrugou. “Eu senti o cheiro de sangue”
Eu a encarei com surpresa. “As pessoas não podem cheirar sangue”,
“Bem, eu consigo - é isso que me deixa doente. Tem cheiro de ferrugem e…sal.”
Meu rosto estava congelado, ainda a encarando.
Ela era realmente humana? Ela parecia humana. Ela era suave como um humano. Ela
cheirava como um humano - bem, melhor na verdade. Ela agia como um humano… mais
ou menos. Mas ela não pensava como um, ou respondia como um.
Quais eram as outras opções, então?
“O que é?”, ela perguntou.
“Não é nada”.
Mike Newton nos interrompeu então, entrando na secretaria com ressentidos, violentos
pensamentos.
“Você parece melhor.” ele disse a ela, rudemente.
Minha mão tremeu, querendo ensinar a ele algumas maneiras, eu teria que me monitorar,
ou eu acabaria matando aquele garoto insolente.
“Mantenha a sua mão no bolso”, ela disse. Por um segundo selvagem, eu pensei que ela
estava falando comigo.
“Não está mais sangrando”, ele respondeu tristemente “Você vai voltar pra aula?”
“Você tá brincando? Eu iria voltar pra cá na certa.”
Isso era muito bom. Eu tinha pensado que eu ia ter de perder esta hora inteira com ela, e
agora eu tinha tempo extra em vez disso. Eu me senti ganancioso, um avarento
procurando cada minuto.
“É, eu acho…” Mike murmurou. “Então, você vai esse fim de semana? Para a praia?”
Ah, eles tinham planos. A raiva passou por mim. Era uma viagem em grupo, entretanto. Eu
tinha visto isso na cabeça de outros estudantes. Não eram só eles dois. Eu ainda estava
furioso. Eu me inclinei praticamente sem movimentos contra o balcão, tentando me
controlar.
“Claro, eu disse que ia.” ela prometeu a ele.
Então ela disse sim a ele, também. A inveja queimava, mais dolorosa do que a sede.
Não, era uma saída em grupo, eu tentei me convencer. Ela somente ia passar o dia com os
amigos. Nada de mais.
“Vamos nos encontrar na loja do meu pai, as dez.” E o Cullen NÃO ESTÁ convidado.
“Eu estarei lá”, ela disse.
“Eu te vejo na aula de educação física, então.”
“A gente se vê”
Ele se virou para a sua classe, seus pensamentos estavam cheios de raiva. O que ela vê
naquela aberração? Claro, ele é rico, eu acho. As garotas acham que ele é lindo, mas eu
não acho. Muito… muito perfeito. Eu aposto que o pai dele experimenta todas as cirurgias
plásticas neles. É por isso que eles são tão brancos e bonitos. Não é natural. É um tipo
de… aparência-assustadora. Algumas vezes, quando ele me encarava, eu poderia jurar que
ele está pensando em me matar… aberração…
Mike não estava completamente errado em suas percepções.
“Educação física”, Bella repetiu silenciosamente. Um gemido.
Eu olhei para ela, e vi que ela estava triste com alguma coisa novamente. Eu não tinha
certeza por que, mas estava claro de que ela não queria ir para a próxima aula com o
Mike, e eu estava de acordo com esse plano.
Eu fui para o seu lado e me aproximei da sua face, sentindo o calor de sua pele irradiando
diretamente para os meus lábios. Eu não me atrevi respirar.
“Eu posso cuidar disso”, eu murmurei. “Vá se sentar e fique pálida”
Ela fez o que eu pedi, sentando em uma das cadeiras vazias e inclinando a sua cabeça
para trás, contra a parede, enquanto, atrás de mim, a Srta. Cope saiu da enfermaria e
retornou à sua mesa. Com os olhos fechados, Bella parecia que estava passando mal
novamente. Sua cor ainda não tinha voltado completamente.
Eu me virei para a secretária. Com esperanças de que Bella estivesse prestando atenção
nisso, eu pensei sardonicamente. Esse é o modo como uma humana deveria responder.
“Sra Cope?” eu perguntei, usando a minha voz persuasiva de novo.
Seus cílios se agitaram, e o seu coração passou a bater mais rápido. Muito jovem, se
controle! “Sim?”
Isso foi interessante. Quando o pulso de Shelly Cope acelerou, foi porque ela me achou
fisicamente atraente, não porque ela estava assustada. Eu estava acostumado a isso
quanto às fêmeas humanas… ainda eu não tinha considerado isso como explicação para a
aceleração do coração da Bella.
Eu particularmente tinha gostado disso. Eu sorri e a respiração da Sra. Cope acelerou.
“A próxima aula de Bella é de Educação Física, e eu não acho que ela se sente bem o
suficiente. Na verdade, eu acho que eu devia levar ela pra casa agora.A senhora acha que
pode liberá-la dessa aula?” eu encarei profundamente seus olhos, me deliciando com a
destruição que eu causava em seus processos mentais. Seria possível que Bella…?
Sra Cope teve que engolir em alto som antes que pudesse responder. “Você também
precisa ser liberado, Edward?”
“Não, eu tenho aula com a Sra Goff, ela não vai se incomodar.”
Eu não estava prestando muita atenção nela agora. Eu estava explorando essa nova
possibilidade.
Hmm. Eu gostava de acreditar que Bella me achava atraente como os outros humanos
achavam, mas desde quando que Bella tinha as mesmas reações que os outros humanos?
Eu não podia manter as minhas esperanças elevadas.
“Ok, então está tudo acertado. Melhoras, Bella.”
Bella acenou com a cabeça fracamente - exagerando um pouco.
“Você consegue caminhar, ou prefere que eu te carregue de novo?” eu perguntei, me
divertindo com o teatro precário dela. Eu sabia que ela iria querer andar - ela não queria
parecer fraca.
“Eu vou caminhando”. ela disse.
Certo de novo. Eu estava melhorando nisso.
Ela se pôs em pé, hesitante por um momento como se ela estivesse checando o seu
equilíbrio. Eu segurei a porta para ela, e nós caminhamos para a chuva.
Eu olhava para ela erguendo o seu rosto para a chuva fraca, seus olhos fechados, um leve
sorriso em seus lábios. O que ela estava pensando? Alguma coisa nessa cena parecia
errado, e eu rapidamente percebi por que essa ação pareceu tão estranha para mim.
Garotas humanas normais não levantariam o seu rosto para a garoa dessa maneira,
garotas humanas normais normalmente usam maquiagem, mesmo aqui nesse lugar úmido.
Bella nunca usava maquiagem, nem deveria. As indústrias de cosméticos lucram bilhões de
dólares por ano de mulheres que tentam conseguir uma pele como a dela.
“Obrigada”, ela disse, sorrindo para mim agora “Quase vale a pena ficar doente pra perder
Educação física.”
Eu comecei a atravessar o campus, imaginando por quanto tempo eu devia prolongar meu
tempo com ela. “É só pedir”, eu disse.
“Então você vai? Sábado, eu quero dizer.” ela parecia esperançosa.
Ah, a sua esperança era tranqüilizante. Ela me queria com ela, não Mike Newton. E eu
queria dizer sim. Mas havia muitas coisas para considerar. Em primeiro lugar, o sol estaria
brilhando nesse sábado…
“Onde vocês todos estão indo, exatamente?” eu tentei manter a minha voz indiferente,
como se eu não me importasse muito. Mike tinha dito praia, entretanto. Não tinha muitas
chances de escapar da luz do sol lá.
“Vamos à La Push, para Primeira Praia.” ( nome do local na verdade )
Droga. Bem, era impossível então.
De qualquer forma, Emmett ficaria irritado se eu cancelasse nossos planos.
Lancei os olhos abaixo para ela, sorrindo tortamente. “Eu não acho que eu tenha sido
convidado”.
Ela suspirou, resignada. “Eu acabei de te convidar”.
“Eu e você não vamos mais abusar tanto do pobre Mike esse fim de semana. Nós não
queremos que ele arrebente”. Imaginei eu mesmo fazendo com o que o pobre Mike
arrebentasse e desfrutei dessa cena mental intensamente.
“Mike boboca”, ela disse, com desprezo novamente. Meu sorriso aumentou.
E então ela começou a andar para longe de mim.
Sem pensar sobre o que eu estava fazendo, eu me estiquei e a peguei pela parte de trás
de seu casaco de chuva. Ela deu um solavanco ao parar.
“Onde é que você pensa que vai?” eu estava quase bravo por ela estar me deixando. Eu
não tinha passado tempo suficiente com ela. Ela não podia ir embora, não ainda.
“Eu vou pra casa” ela disse, desconcertada quanto ao porque isso tinha me irritado.
“Você não me ouviu prometer que te levaria pra casa em segurança? Você acha que eu
vou te deixar dirigir nessas condições?” eu sabia que ela não ia gostar disso - a minha
implicação de fraqueza da sua parte.
Mas eu precisava praticar para a viagem à Seattle, de qualquer forma. Ver se eu
agüentaria tê-la próxima em um espaço fechado. Essa era uma viagem muito mais curta.
“Que condições?” ela perguntou “E a minha caminhonete?”
“Eu vou pedir pra Alice levá-la depois da escola” eu a puxei de volta para o meu carro
cuidadosamente, embora eu soubesse agora que andar pra frente era desafiador o
suficiente para ela.
“Me solta!” ela disse, se contorcendo de lado, quase tropeçando. Eu ergui uma mão para
segurá-la, mas ela se ajeitou antes que isso fosse necessário. Eu não devia ficar
procurando desculpas para tocá-la. Aquilo fez com que eu começasse a pensar sobre a
reação da Sra. Cope quando a mim, mas eu guardei isso para pensar depois. Tinha muito a
ser considerado mais para frente.
Eu a deixei ao lado do carro, e ela cambaleou até a porta. Eu teria que ser ai